Se em 2023 a passagem do Testament pelo Brasil teve sets abreviados — por ter tocado em festival ou realizado performances como co-headliner — e deixou “gostinho de quero mais”, desta vez a banda fez jus ao status de atração principal e entregou um show digno de lenda do thrash metal na noite de quinta-feira (21), em Brasília.
Após dividir os holofotes com Cannibal Corpse e Kreator em turnês anteriores no país, agora o quinteto californiano tem novamente a oportunidade de uma apresentação completa. Nesta ocasião, passou por diversas fases da carreira, com ligeira ênfase no álbum de estreia, “The Legacy” (1987), e no clássico “Practice What You Preach” (1989), cada um colaborando com três músicas no repertório.

Soma-se a isso o carisma imbatível do vocalista Chuck Billy, a execução magistral de Eric Peterson, Alex Skolnick e Steve Di Giorgio nas cordas, além da carga nostálgica que uma banda com quatro décadas de história carrega, e o resultado só poderia ser algo próximo do exuberante. E realmente foi!
Nova geração promissora
Quando o Testament foi fundado em 1983, ainda sob o nome provisório Legacy, os integrantes do Axion, banda escalada para abrir a noite, sequer haviam nascido. Trata-se de uma nova promessa do thrash local, formada por jovens na casa dos vinte e poucos anos, em uma cidade que já relevou nomes como Violator e Evil Corpse.
A postura no palco, porém, foi de gente grande, mesmo não podendo usar a mesma aparelhagem do Testament e enfrentando problemas técnicos no início do show. Na primeira música, “Necromechanical Ressurrection”, praticamente não saía nada do vocal. Mesmo assim, os riffs hipervelozes dos guitarristas Pedro Passos e Pedro “Deathsnaker” Paulo (também cantor) davam o recado.

Não só a voz, mas o som como um todo foi melhorando consideravelmente no decorrer da apresentação. Ficou claro que as composições da banda têm muita qualidade. Destaque para o single “Xenomorph Possession” e o encerramento com “Hyperion Novacaine”, repleta de ótimos solos dobrados.
O Axion fez bonito em seu primeiro grande show. O thrash metal de temática sci-fi da banda é muito técnico, lembrando Coroner e Vektor nas partes mais intrincadas, e Kreator, devido à intensidade e o timbre do vocal. Definitivamente, o quarteto foi uma escolha de abertura acertadíssima por parte da produção.

Repertório:
- Necromechanical Ressurrection
- Axion Arc
- Xenomorph Possession
- Proton Decay
- Hyperion Novacaine

Honrando o legado
Pouco depois das 21h, o Testament tomou o palco de assalto emendando logo de cara três músicas do “Practice What You Preach”. Duas delas muito aclamadas — a faixa-título e “Sins of Omission” — e um lado B que Chuck Billy alertou estar sendo tocado, na atual turnê, pela primeira vez no Brasil: “Perilous Nation”.
Foi o suficiente para já incendiar a pista da Toinha, que não aparentou estar lotada, mas teve ocupada, em palpite visual, cerca de três quartos de sua capacidade. Bom público para uma quinta-feira à noite com show de uma banda que havia tocado na cidade há apenas dois anos.

Antes de anunciar “The Pale King”, Chuck Billy destacou a presença de algumas crianças na casa e fez questão de exaltar a “futura geração de metalheads”. A desenvoltura do vocalista no palco é tamanha que mesmo nos intervalos entre as músicas ele consegue prender a atenção dos fãs, seja com discursos bem colocados — como em “Native Blood”, sobre sua herança indígena – ou destacando a proficiência técnica dos colegas, em especial Alex Skolnick.

Não resta dúvida de que o guitarrista solo do Testament teria lugar cativo em um hipotético top 3 do thrash. O que Skolnick faz em músicas como “The Haunting”, “Electric Crown”, “Return to Serenity” e “Over the Wall” é de cair o queixo.
Todas essas são hinos da fase clássica, mas há de se ressaltar que mesmo nas menos inspiradas, como “D.N.R. (Do Not Resuscitate)” e “Low”, de um período mais “extremo” da banda, o público se mantve conectado ao show e não se dispersou tanto.
Em “Trail of Tears”, o Testament prestou homenagem a Brent Hinds, ex-Mastodon e falecido no dia anterior. Steve Di Giorgio, que antes de “Souls of Black” deu até uma palhinha de Death, pediu a camiseta da banda para um fã e a exibiu no palco ao dedicar a música ao amigo, morto em um acidente de moto.
Foi uma das partes mais emotivas do show, assim como a balada Return to Serenity, do álbum “Ritual” (1992), que antecedeu o rápido solo de bateria de Chris Dovas. Ele entrou no Testament em 2023, substituindo ninguém mais, ninguém menos, que Dave Lombardo (ex-Slayer), e vem dando conta do recado. Mais um nome talentoso no rol de bateristas da banda: Gene Hoglan, Paul Bostaph, Louie Clemente etc.

Com “Over the Wall” e “Into the Pit”, o Testament proporcionou as maiores rodas e moshs da noite, encerrando uma apresentação consistente, classuda e à altura de seu legado. O único ponto baixo talvez tenha sido a falta de mais músicas de “The New Order” (1988), álbum constantemente apontado como obra-prima da banda. Mas nada que desabone a noite de gala proporcionada por esses veteranos do thrash.

Testament – ao vivo em Brasília
- Local: Toinha
- Data: 21 de agosto de 2025
- Turnê: Latin America Tour 2025
- Produtora: Liberation
Repertório:
- Practice What You Preach
- Sins of Omission
- Perilous Nation
- The Pale King
- The Haunting
- Rise Up
- D.N.R. (Do Not Resuscitate)
- Low
- Native Blood
- Trail of Tears
- Electric Crown
- Souls of Black
- Return to Serenity
- Solo de bateria
- First Strike is Deadly
- Over the Wall
- More Than Meets the Eye
- Into the Pit


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