Com novidade no setlist, Sepultura se despede de Uberlândia entregando o melhor

Quarto show da turnê derradeira “Celebrating Life Through Death” encheu o Castelli Master e percorreu toda a carreira da lendária banda

Tem algo agridoce nos shows das bandas que anunciam seu último ciclo. O Sepultura, com a “Celebrating Life Through Death” comemora suas quatro décadas e a despedida dos palcos. Essa frase geralmente vem acompanhada de um “mas já?” bem mais recorrente do que com um “vai tarde”. Uberlândia, no interior de Minas Gerais, foi a quarta cidade a receber um show da turnê, na noite de sexta-feira (15), no Castelli Master.

Na plateia, a Sepulnation se dividia especialmente entre 50+ e 12- (se é que isso existe). No gargarejo, fãs que estiveram na primeira apresentação do grupo na cidade do Triângulo Mineiro, no ano de 1991; à direita, crianças de 9, 11, 13 anos de idade gritando: “toca ‘Roots’!”.

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Para agradar essa turma, entregaram o melhor durante quase duas horas o baixista e membro fundador Paulo Jr; o guitarrista Andreas Kisser, que entrou em 1987 e participou já do segundo álbum, “Schizophrenia”; Derrick Green, vocalista que chegou em 1997 com a difícil missão de substituir Max Cavalera; e Greyson Nekrutman, o baterista que aterrissou “praticamente ontem”.

Os álbuns “Chaos A.D.” (1993) e “Roots” (1996), seus maiores sucessos, tiveram 5 músicas executadas cada. “Quadra” (2020) teve três. De resto, a banda selecionou uma música de cada um dos outros discos. Foi, aliás, a primeira vez na tour em que isso ocorreu, pois nos outros shows, “Beneath the Remains” (1989) não havia sido representado em momento algum. No Castelli Master, executaram “Inner Self” — que não era tocada ao vivo desde 2019. É ou não é um presente?

Além da performance musical, o cenário do show produzido pela 30e contou com uma riquíssima produção audiovisual, mais bem aproveitado por quem assiste de longe. O som, pelo menos de onde a repórter acompanhou o show, estava perfeito. Já o telão, se não foi intencional, comprometeu algumas cenas com tarjas pretas.

A quase todo apagar das luzes entre uma música e outra, ecoava o coro “Se-pul-tu-ra! Se-pul-tu-ra!”. “Sepultura do Brasil”, bradou Derrick num momento de agradecimento. Antes de “Means to an End”, uma das três canções de “Quadra” no repertório, Andreas comentou: “Estamos aqui graças a vocês, graças à Sepulnation, e é apenas o começo da turnê. Isso é pra vocês, que estão com o Sepultura há 40 anos, e pra vocês que nunca tinham visto a banda”.

Sepultura, do Brasil

Colocar algo em torno de 4 a 5 mil pessoas no Castelli Master, em Uberlândia, às 21h de uma sexta-feira — arrisco-me a dizer pontualmente —, acreditem, não é tarefa fácil nem para uma banda como o Sepultura. Nem para o rock a cena local é das melhores. Mas pelo que vimos, o metal segue forte na cidade.

A banda conseguiu tirar de casa até os 50+ (e vencer a noite de streaming ou o encontro da confraria do vinho) e os 12- que estão cada vez mais reféns de vídeos curtos e uma educação musical nula.

Os melhores momentos do show foram aqueles embalados por músicas do “Roots”. “Attitude”, “Kaiowas” — que traz para frente do palco Andreas, Derrick e Paulo nos tambores — e o final apoteótico com “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots” mostram um momento em que o Sepultura se arriscou a trazer misturas para o metal ainda não experimentadas. Antes da aclamação, sofreu muitas críticas por isso. Imaginem se naquela época existissem redes sociais… dá para imaginar um linchamento virtual por chamar Carlinhos Brown — antes de artista solo, um competente percussionista e líder do grupo internacionalmente conhecido Timbalada — para participar de um álbum. Nada melhor que deixar o tempo passar.

No final dos anos 1990, a chegada do Derrick colocava diante da banda um grande desafio: não tornar-se cover de si. Polêmicas à parte, 40 anos depois, o Sepultura ainda é um nome forte no metal nacional e mundial. Nome este que ficou maior que os integrantes que fizeram e ainda fazem parte da sua história.

Um fato que comprova isso? Greyson Nekrutman. O baterista americano nasceu em Long Island um ano antes de o Sepultura lançar “Roorback” (2003), seu nono álbum. Com a saída repentina de Eloy Casagrande, foi convidado a integrar a banda com menos de duas semanas para o início da turnê. Quem já o viu no palco, notou: é como se ele já estivesse ali há décadas. Se o garoto de 22 anos não conhecesse o som do Sepultura, dificilmente cumpriria tão bem o papel de seu baterista.

Sepultura, de Minas Gerais

Por mais que tenha sua base em São Paulo e apenas um de seus integrantes — Paulo Jr — venha da cidade de fundação Belo Horizonte, o Sepultura sempre será uma banda mineira. Além do baixista e dos irmãos Cavalera, Max e Igor (antes de ganhar outro “G” em seu nome), outros membros são do estado. O baterista Jean Dolabella, atualmente em turnê com a Pitty e ex-integrante também do Ego Kill Talent, vem de Uberaba, também do Triângulo Mineiro. Mais recluso, de 1984, antes da assinatura do contrato com a gravadora Cogumelo, há o vocalista e guitarrista Wagner Lamounier, belorizontino que integrou o Sarcófago e vez ou outra é visto pelas ruas de Uberlândia.

O primeiro show na cidade, no Uberlândia Tênis Clube (UTC), em 1991, é lembrado pelos roqueiros “das antigas” — que ainda discutiam se preferiam ser chamados de “metaleiros” ou “headbangers” —, como um dos momentos mais marcantes da cena local.

No fim da década seguinte, em 2009, com Derrick Green, a banda se apresentou como headliner em um festival independente, o Jambolada. Andreas ainda voltou com o Kisser Clan, em outro evento, no ano de 2016. Nesta ocasião, contou com a participação de Sérgio Britto, dos Titãs, em “Polícia”, que tem sido tocada antes do show nesta turnê de despedida.

Ex-morador de Belo Horizonte, durante o show de sexta em Uberlândia, Andreas mostrou que não deixou de lado seu “mineirês”. “Vamos tocar agora a música mais ‘véia’ do repertório de hoje, quase tão ‘véia’ quanto o Paulo”, brincou o guitarrista antes de “Troops of Doom”.

Foto: Beto Oliveira

Para o show de Uberlândia não houve atendimento à imprensa ou entrevistas pré-show. Por isso nesta resenha vamos ficar devendo uma “prosa boa” — que, quem sabe, aconteça em outro momento dessa celebração.

Sepultura — ao vivo em Uberlândia

  • Local: Castelli Master
  • Data: 15 de março de 2024
  • Turnê: Celebrating Life Through Death

Repertório:

  1. Refuse/Resist
  2. Territory
  3. Slave New World
  4. Phantom Self
  5. Dusted
  6. Attitude
  7. Kairos
  8. Means to an End
  9. Cut-Throat
  10. Guardians of Earth
  11. Mind War
  12. False
  13. Choke
  14. Escape to the Void
  15. Kaiowas
  16. Sepulnation
  17. Biotech Is Godzilla
  18. Agony of Defeat
  19. Troops of Doom
  20. Inner Self
  21. Arise

    Bis:
  22. Ratamahatta
  23. Roots Bloody Roots

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Adreana Oliveira
Adreana Oliveirahttps://uberground.com.br/
Adreana Oliveira é jornalista graduada pelo Centro Universitário do Triângulo (Unitri), com mestrado em Tecnologias, Comunicação e Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Tem 20 anos de atuação no mercado, com ênfase no jornalismo cultural. Titular por 12 anos da Coluna Novo Som, do extinto Correio de Uberlândia. Atualmente é produtora de TV e editora do site Uberground. Mãe do Nicholas, responsável por colocar animesongs em sua playlist.

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