Como edição 2024 do Rock in Rio deve ser a menos “rock” de todas

Situações envolvendo o “termômetro” The Town, histórico recente e atrações já confirmadas ou especuladas indicam cenário mais orientado a outros estilos

Tudo indica que haverá menos rock no Rock in Rio 2024. A próxima edição do festival deve ter, no máximo, dois de seus sete dias dedicados ao estilo musical que carrega em seu nome.

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Em realizações passadas, pelo menos três dos sete dias eram focados no rock. Em 2022, por exemplo, foram três headliners do gênero — Iron Maiden, Guns N’ Roses e Green Day —, acompanhados de outras atrações similares. O ano de 2019 chegou perto de um recorde nesse sentido: cinco datas oferecidas ao estilo, com Foo Fighters, Bon Jovi, Red Hot Chili Peppers, Maiden e Muse como principais ao lado de Drake e Pink.

Nas edições anteriores a 2022, inclusive, a maior parte do lineup principal — ou seja, quatro dias ou mais — era ocupada pelo rock. A primeira realização pós-pandemia também inaugurou um foco menor no estilo.

Para 2024, há quatro headliners definidos — e nenhum deles vem do gênero em questão. O rapper Travis Scott, a banda pop Imagine Dragons e os cantores também pop Ed Sheeran e Katy Perry foram confirmados. Por si só, isso já colocaria a próxima edição em “empate” com a de 2022 nesse sentido.

No campo dos rumores, há dois nomes antecipados pelo jornalista Lauro Jardim (O Globo) para as três vagas ainda restantes: Stevie Wonder, ícone do soul/R&B, e AC/DC, único representante do gênero que batiza o evento.

O colunista ainda afirma que a banda formada na Austrália fará duas apresentações no festival. Caso isso se confirme, o grupo será o único headliner roqueiro, ainda que em duas datas possivelmente dedicadas às guitarras distorcidas.

Vale lembrar que o Rock in Rio nunca foi um festival totalmente dedicado ao rock. Mesmo em sua primeira edição, no ano de 1985, apresentaram-se artistas como George Benson (como headliner de dois dias), James Taylor, Al Jarreau, Elba Ramalho, Alceu Valença, entre outros.

No entanto, mesmo nos padrões já observados anteriormente, 2024 deve ter menos rock. Entenda as razões a seguir.

Efeito The Town

Para além do momento de popularidade reduzida do rock no mainstream — onde apenas artistas e bandas mais antigos conseguem atrair público o bastante para comandar um evento desse porte —, há outras explicações para tal movimentação por parte do Rock in Rio. A primeira delas passa por outro festival da empresa Rock World S/A: o The Town.

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O evento, que estreou em 2023 no Autódromo de Interlagos, teve rock apenas em um de seus cinco dias. O Foo Fighters dividiu o posto principal do cartaz com Maroon 5, Post Malone e Bruno Mars (este em dois dias).

Apuração feita pelo site IgorMiranda.com.br indica que os responsáveis por ambos os festivais fizeram do The Town, também, um termômetro para o outro evento da companhia. Ainda que a festa paulistana não carregue o gênero musical em seu nome, havia receio de que o público o enxergasse como o “Rock in Rio paulista”. Não foi o caso: a exigência dos fãs por representantes do estilo, especialmente mais pesados, não foi tão grande. E o mais importante: a procura por ingressos superou todas as expectativas.

Ainda conforme apuração do site, o novo direcionamento pode afetar, em especial, o chamado “dia do metal” da programação. A ramificação mais pesada já havia perdido espaço nos lineups de 2019 e 2022, ambos com apenas uma data (e com o mesmo headliner, Iron Maiden) destinada a ela.

Falta de headliners e efeito Lollapalooza

Em entrevistas, o criador do Rock in Rio, Roberto Medina, já havia indicado um problema geral em relação à montagem dos lineups: a falta de headliners capazes de atrair a maior parte do público que ocupa um espaço como a Cidade do Rock, feito para receber 100 mil pessoas.  Isso explica, inclusive, a repetição de artistas e bandas — especialmente em dias de música mais pesada, onde recorre-se quase sempre a Metallica e Iron Maiden.

Há ainda um ingrediente extra nessa situação: a disputa com o Lollapalooza Brasil, que curiosamente passa a ser gerido pela Rock World a partir deste ano. O evento de música alternativa passou a agregar algumas atrações mais “convencionais”, que comumente se apresentam no festival carioca, como Metallica (headliner à época recordista de ingressos vendidos em 2017) e Guns N’ Roses (que tocaria na edição de 2020, cancelada pela pandemia). Com mais um festival grande de olho no mesmo perfil de artista, restam ainda menos opções que se encaixem.

Procura em anos anteriores

Rock in Rio não costuma ter dia vazio. Ainda assim, há datas que levam mais tempo para ter seus ingressos esgotados — e quase sempre são aquelas orientadas ao rock, o que também explicaria uma decisão de reduzir o espaço do estilo no lineup.

Em 2015, o último dia a ter ingressos esgotados foi o que teria Slipknot como headliner e Faith No More logo antes. A banda mascarada havia feito uma apresentação elogiada na edição 2011, abrindo para o Metallica e gerando especulações sobre um retorno como atração principal. E embora se tenha dito que as entradas estavam todas vendidas, o jornal Folha de S. Paulo relatou à época que a data tinha, visivelmente, um público menor.

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Em 2017, os dias capitaneados por Aerosmith e Justin Timberlake foram os últimos a terem todos os bilhetes comercializados. Dois anos depois, a data que recebeu tal título foi a comandada pelo Foo Fighters. Já na edição de retomada pós-pandemia, a ocasião que despertou menor interesse dos compradores foi a liderada pelo Iron Maiden, o chamado “dia do metal”.

Sobre o Rock in Rio 2024

O Rock in Rio 2024 acontece nos dias 13, 14, 15, 19, 20, 21 e 22 de setembro, na Cidade do Rock, no Rio de Janeiro. A edição marca os 40 anos de história do festival, terá sua venda geral pelo site da Ticketmaster no dia 11 de abril, às 19h. 

Katy Perry, Travis Scott, Ed Sheeran, Imagine Dragons, Ne-Yo, Joss Stone, Zara Larsson, Angelique Kidjo, Ivete Sangalo, Ludmilla, Lulu Santos, Jão, Gloria Groove, Os Paralamas do Sucesso, entre outros nomes, foram confirmados no lineup. Ainda falta o anúncio oficial de três headliners.

Pela primeira vez, o Palco Sunset terá a mesma boca de cena que o Palco Mundo. Este, por sua vez, contará com megaestrutura de 104m de frente e 30m de altura.

A Cidade do Rock também contará com uma nova área: o Global Village. Esse novo espaço de entretenimento deve ocupar 7.500 m² da Cidade do Rock e, além de shows, contará com cenografia inspirada em ícones arquitetônicos de todo o mundo — onde as pessoas poderão andar por uma longa via, entrar em lojas e experimentar pratos de diversos países.  

*Atualização 07/03 21h35: Confira o lineup atualizado até o momento. O texto acima foi publicado antes do anúncio do quinto headliner — e, no fim das contas, estava correto.

13/09:

  • Palco Mundo: Travis Scott | Matuê com part. Wiu e Teto

14/09:

  • Palco Mundo: Imagine Dragons | OneRepublic | Zara Larsson | Lulu Santos

19/09:

  • Palco Mundo: Ed Sheeran | Charlie Puth | Joss Stone | Jão
  • Palco Sunset: Gloria Groove

20/09:

  • Palco Mundo: Katy Perry | Ivete Sangalo
  • Palco Sunset: Iza | Gloria Gaynor | Luedji Luna convida Tássia Reis e Xênia França
  • Global Village: Angélique Kidjo

22/09:

  • Palco Mundo: Shawn Mendes | Ne-Yo

Sem data:
Ludmilla
Os Paralamas do Sucesso
Luísa Sonza

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

10 COMENTÁRIOS

  1. Aí posso dizer que o ano de 2024 será decretado como o fim do Rock in Rio. Pois sem rock não há o festival. Pode mudar o nome…

    • Mano, isso é inacreditável.
      40 anos de “ROCK IN RIO” com essas atrações confirmadas.
      Que nada tem haver com o festival e comemoração.

  2. Vale apenas enfatizar o porquê de no The Town não ter havido uma requisição por mais dias de rock e metal: São Paulo é a capital nacional do rock. Dezenas de bandas de pequeno e médio porte quando vêm ao Brasil só passam por SP; ate gigantes do meio tem ignorado o RJ; SP inclusive tem recebido anualmente festivais específicos do gênero.

    Quando a demanda rotineira é grande e variada, realmente não faz sentido “reclamar” que no the town faltou rock até pq convenhamos, né, assim como o rock in rio, são festivais que se tornaram COOL em ir. Tem mais gente batendo foto do que aproveitando os shows, perfil beeeeem diferente do público “rockeiro”

    • Exatamente!!!! São Paulo é a cidade mais contemplada com shows e festivais de rock! Pessoal de lá é muito bem servido! Quisera eu ter esses inúmeros shows espetaculares em minha cidade.

  3. O que se vê é uma geração qual não concerne ao quesito Rock e sim transita em outros movimentos. Incrível que hoje você encontre jovens que não sabem nada sobre o rock raiz e/ou metal qual seja sua vertente.

  4. Todo um processo q comeca na imprensa. A midia hoje e direcionada a coisas faceis de pula pula no palco. Veja a rede Globo com seus programas diarios e semanais. So pula pula e dancinhas ridiculas. Isso e o inicio do fim de uma geracao. Logico q isso vai influenciar nos festivais de musica. Nao tem jeito.

  5. Claramente a baixa procura nos ingressos dos dias de rock se dá pela maior exigência dos fãs rockeiros, pq queremos um line up decente e não só um headliner e o resto pra preencher o tempo. Assim como pelo quesito novidade, onde as bandas de rock são sempre as mesmas (e essa desculpa de que não tem headliners para encher a cidade do rock não cola, é só fazer um line up com várias bandas de medianas para boa, vide I Wanna Be que teve mais de 40 mil pessoas em SP e em Curitiba cada dia), o que me passa a impressão de que quem organiza o festival só conhece de pop e nada de rock, pq até hoje não entendo como não fizeram um dia punk com Green Day, The Offspring, Bad Religion, Danzig, Papa Roach, Sun 41, NOFX e outras, mas sempre trazem bandas de gêneros desconexos com a outra.
    E também tem a questão de que SP é o Polo dos shows no Brasil, se o line up não for bom o suficiente pra fazer valer a pela eu sair do estado de SP para ir ao RJ, com certeza esperarei a banda que quero ver confirmar o Show em SP. Hoje em dia até prefiro isso, e prefiro também que seja show solo ou festival dedicado exclusivamente ao rock, nada de Lolla, outro festival caro para no máximo dois shows bons no dia.

  6. Triste fim do rock nesse festival. Dizer que não há público suficiente é fácil. Será que já pensaram em variar os headliners? Tantas bandas de metal excelentes que nunca vi e não queria deixar de ver uma vez ou pelo menos mais uma vez na vida.

  7. Belo texto, Igor!
    Frequento o Rock in Rio desde 2011, infelizmente não pude acompanhar os históricos 85, 91 e 2001 ou porque era criança ou porque não tinha condições financeiras. Mas esse de 2024, está sendo um dos mais demorados pra fechar “lineup” que já vi!
    Principalmente, como você bem descreveu no texto, quanto aos dias de rock (que chamo de “headbangers days”), que geralmente são os que me motivam a ir ao Rock in Rio.
    Essa questão deles, da organizadora, se dividir entre The Town e Rock in Rio (lembrando que esse ano ainda tem o RIR Lisboa, que seria mais um fator pra dividir um já fragmentado Rock in Rio) pesa bastante, aliada à dificuldade de fechar com headlines de peso e infelizmente à baixa procura que os “headbangers days” tem demonstrado nas últimas edições…e se tem uma coisa que Festivais assim visam, principalmente o Rock in Rio, é o lucro!
    Torcer pra que nesses dois dias que sobrarem, sejam mesmo destinados ao AC/DC e o que mais de melhor ainda estiver disponível no quesito rock até setembro. Ainda bem que ultimamente ainda temos pra onde correr com Summer Breeze, Monsters of Rock, Knotfest, um ou outro show solo e aqui em Goiânia temos o Goiânia Noise e alguns festivais menores. Porque se dependermos do que o mercado anda exigindo, cada vez mais gêneros que atraem muito dinheiro farão com que “o rock do bão” seja cada vez mais segmentado.
    Resistindo…mas com um público cada vez mais restrito.

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