Crítica: Furacão rosa, “Barbie” é um dos melhores e mais polêmicos filmes do ano

Longa estrelado por Margot Robbie faz uso de escracho inteligente para debater e questionar sociedade atual, mostrando-se um belo exemplar de cinema crítico

O hype se justifica. “Barbie” não é um simples filme da famosa boneca e seu parceiro Ken. Trata-se de uma obra-prima cômica, adulta, agressiva e sarcástica.

O longa distribuído pela Warner Pictures praticamente esbofeteia a cara do público com debates e provocações pertinentes. É escrachado, mas de forma inteligente. Isso faz com que se torne um dos títulos mais irresistíveis de se consumir, mergulhando de cabeça em sua alma rosa.

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Atenção: o texto pode conter spoilers!

A Barbielândia

Dirigido por Greta Gerwig (“Lady Bird”) e também escrito por ela, neste caso ao lado de seu cônjuge, o também competente diretor Noah Baumbach (“História de um Casamento”), “Barbie” traz a boneca mais famosa do mundo vivendo um verdadeiro sonho de vida na fantástica Barbieland.

Lá, vivem todas e mais diversas versões da personagem – todas ocupando praticamente 100% dos cargos mais poderosos da sociedade: astronautas, construtoras, médicas, físicas… até mesmo a presidente e a Suprema Corte traz Barbies. Ao mesmo tempo, a cara-metade Ken é apenas um Ken. Bonito, charmoso, desesperado por atenção e sem possibilidades de ser mais do que apenas um Ken.

Em dado momento, uma das versões de Barbie (Margot Robbie) passa, sem mais nem menos, a pensar na morte. Além disso, começa a ter seu corpo e rotina modificados a ponto de lhe surgir até mesmo celulite (!).

Colocada nesta realidade, a boneca é aconselhada a ir até o mundo real e encontrar a criança que brinca com ela. Assim, poderia entender os motivos de estar passando por tais mudanças.

Contudo, ao iniciar sua saída da maravilhosa Barbieland, eis que Barbie é surpreendia pelo apaixonado Ken (Ryan Gosling) que decide ir com ela para esse estranho novo mundo. É aí que se inicia uma das melhores obras de arte do cinema crítico dos últimos tempos.

Bem-vindos ao mundo real

Ao chegar no mundo real, Barbie se depara com todo tipo de problema que uma mulher pode enfrentar na vida. São expostas situações absurdas, mas que estão no nosso cotidiano – e nunca paramos para refletir o quão aquilo não faz o menor sentido. Um exemplo: as pessoas responsáveis por gerir os brinquedos que vão parar nas mãos de meninas são, na verdade, homens.

Em contrapartida, Ken – que vivia uma vida sem a devida importância na figura de um homem – se vê em um mundo onde o sexo masculino está no pedestal mais alto da sociedade. Logo, por que não levar esse conhecimento do que é o patriarcado para uma terra que só conhece o oposto disso?

O terceiro ato de “Barbie” reserva a crítica mais forte com relação ao que homens fazem na sociedade, seja entre eles próprios ou com mulheres. A direção estampa em tela todos os estereótipos masculinos que sempre se colocam acima: do rato de academia que transforma sua casa em um santuário masculino ao “esquerdomacho” com seus mansplaining.

Espetáculo de performance

Definir Margot Robbie (“Eu, Tonya”) como extraordinária é chover no molhado. Aqui, a atriz – que também é produtora – não só capricha em todos os timings cômicos pedidos como, também, entrega um drama de primeiro nível.

Por outro lado – e não dá para saber o quanto isso estava nos planos da diretora –, mas Ryan Gosling (“La La Land”) é o nome do filme. Do humor refinado ao tempo perfeito, o intérprete de Ken se entregou e ofereceu uma performance singular.

Entre os outros destaques, estão o genial Will Ferrell (“O Âncora”) como CEO da Mattel e o sempre engraçadíssimo Michael Cera (“Superbad”), ambos fazendo valer cada centavo de seu ingresso, além de John Cena (“O Pacificador”) e Simu Liu (“Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”) com ótimos momentos.

O furacão rosa é filme de Oscar

“Barbie” deve gerar polêmica. Nesta semana, a classificação indicativa foi alterada de livre para 12 anos – e daria até para aumentar mais. Não é para todos. Não dá para começar a assistir pensando que apenas acompanhará a história de sua boneca predileta. Talvez até por isso tenha um grande poder.

Controvérsias à parte, é uma obra de arte e tanto. Estará tranquilamente entre os indicados ao Oscar de 2024. Brilhante em tudo que se propõe, o longa tem abordagem escrachada e até agressiva, tal qual um furacão rosa.

No melhor estilo “A Vida de Brian”, o roteiro de “Barbie” liga a comédia pastelona na potência máxima, mas equilibrado com piadas tão engajadas a ponto de o ridículo ser transformado em um espelho de cada um de nós. Independentemente de gênero. Você irá se enxergar em algum momento durante os 114 minutos do filme.

*”Barbie” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20).

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Raphael Christensen
Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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