Por que Little Richard recusou ter 50% dos Beatles

Empresário do quarteto, Brian Epstein ofereceu parte da banda em troca de visibilidade no mercado americano

Uma das grandes inspirações por trás dos Beatles, Little Richard já recebeu uma proposta curiosa vinda de Brian Epstein, empresário do quarteto. Em sua biografia “A vida e a época de Little Richard” (via CheatSheet), o pioneiro do rock revelou ter recusado a oferta de ser presenteado com 50% da banda que, mais tarde, se tornou o maior fenômeno da história. 

Nas palavras do próprio Richard, seu caminho foi cruzado com o dos Beatles em outubro de 1962.

“Lembro que Brian Epstein me contratou para tocar no The Cavern [Club] com eles. Algumas semanas depois, ele me colocou como atração principal de um grande show em um teatro em Liverpool. Eles eram uma banda de apoio, com Swinging Blue Jeans, Cilla Black e Gerry & The Pacemakers. Os Beatles entraram e cantaram ‘Love Me Do’. Eles não puderam tocar minhas músicas, como ‘Lucille’ e ‘Long Tall Sally’, porque eu estava lá.”

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Após a apresentação, o músico recebeu a proposta de adotar o grupo, mas recusou por pensar que eles nunca chegariam ao estrelato. Mesmo com dúvidas em relação ao potencial do quarteto, Richard ajudou Epstein com algumas conexões na indústria. 

“Quando eles saíram, Brian Epstein me disse: ‘Richard, vou te dar 50% dos Beatles’. Eu não podia aceitar porque nunca pensei que eles conseguiriam. Brian Epstein disse: ‘leve as masters [das canções dos Beatles] de volta para a América com você e entregue-as à gravadora para mim’. Eu não fiz isso, mas chamei algumas pessoas para eles. Liguei para o [executivo musical] Art Rupe e também entrei em contato com a Vee-Jay [Records], mas não peguei nada deles.”

Little Richard e Beatles

Os Beatles assumiram o posto de banda de abertura em algumas apresentações da turnê europeia de Little Richard em 1962. Em entrevista ao programa The Dick Cavett Show, Richard comentou o período e ainda compartilhou o que pensava sobre artistas que o tinham como referência. 

“Eu saí em turnê com os Beatles e eles ganhavam 50 dólares por semana cada um. Deus abençoe os Beatles – e ele abençoou. Eu costumava comprar bifes para eles todos os dias, quando tinha bife. John Lennon tinha essas despesas caras que eu tinha que pagar. Eu tinha os Beatles, eu tinha Gerry & The Pacemakers, um grupo chamado Swinging Blue Jeans, eu tinha Mick Jagger em sua primeira turnê com o Rolling Stones. Ninguém tinha ouvido falar dessas pessoas. Eu não quero nada deles, tudo que eu quero é que eles espalhem o que se inspiraram em mim.”

Sobre o arquiteto do rock and roll

*Por Igor Miranda, conforme publicado em 2020

O rock and roll é um filho de muitos pais – e mães. Tudo indica que Sister Rosetta Tharpe foi a primeira a realmente praticar, nos anos 1940, a sonoridade mais próxima do que o estilo se tornou na década de 1950. Ela também teve influências – e inspirou muita gente, como o próprio Little Richard.

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Nascido em 5 de dezembro de 1932, como o terceiro dos 12 filhos do casal Leva Stewart e Charles “Bud” Penniman, Richard Wayne Penniman foi descoberto aos 14 anos, justamente, por Sister Rosetta Tharpe, em 1947. Ele a citava como sua cantora favorita nos primórdios.

Foi dos braços de uma mulher religiosa, que também sofreu preconceito por ser quem era, que Little Richard encontrou refúgio pouco antes de ter sido expulso de casa. Charles, o pai, era do tipo fanático religioso e não aprovava o envolvimento de Richard com a música. Pensava que ele era gay. Não aceitaria aquilo dentro de casa.

Rosetta convidou Richard para abrir um de seus shows, pagando seu cachê devidamente. Isso o inspirou a continuar. Dominando o piano, por influência de Ike Turner, Little Richard passou a trabalhar em sua “persona” de palco. Ele chegava a fazer shows como drag queen, sob o pseudônimo Princess LaVonne. Isso no fim da década de 1940, onde o R&B, estilo do músico nos primórdios de sua carreira, era considerada “música do diabo” por sua própria família.

O primeiro contrato com uma gravadora foi assinado em 1951, com a RCA Victor. Depois, em 1952, migrou para a Peacock. Muitos singles foram gravados, mas nenhum emplacava. A consagração veio com a Specialty Records, em 1955, quando o single “Tutti Frutti” foi divulgado.

É difícil resumir, em palavras, o que há de tão impressionante em “Tutti Frutti”. A abertura e o encerramento com a mesma vocalização “a-wop-bop-a-loo-bop-a-wop-bam-boom!”, criada por Little Richard para refletir uma linha de bateria que ele imaginou, ajudam a compreender de forma muito mais efetiva do que qualquer parágrafo chique, analisando questões de teoria musical.

Depois de “Tutti Frutti”, Richard emendou uma série de hits, com “Long Tall Sally”, “Slippin’ and Slidin’”, “Ready Teddy”, “Rip It Up”, “She’s Got It”, “The Girl Can’t Help It”, “Lucille”, “Jenny, Jenny”, “Keep A-Knockin’” e por aí vai. Uma série de hits que ajudariam a mudar a história.

No fim da década de 1950, Little Richard converteu-se à Igreja Adventista do Sétimo Dia e anunciou que seguiria carreira na música gospel, além de ser pastor. Continuou produzido, mas sem emplacar. O retorno à música secular aconteceu em 1962, com uma turnê que chegou a envolver Sam Cooke como atração de abertura e Billy Preston como seu organista.

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Os anos 1960 começaram a mostrar a importância de Little Richard para a música, já que foi uma das maiores influências de ninguém menos que os Beatles – banda que já até abriu show do músico – e Rolling Stones. Richard chegou a ensinar a Paul McCartney como reproduzir suas icônicas vocalizações, quase berrando. Tem noção do que é isso?

Os anos 1960 começaram a mostrar a importância de Little Richard para a música, já que foi uma das maiores influências de ninguém menos que os Beatles – banda que já até abriu show do músico – e Rolling Stones. Richard chegou a ensinar a Paul McCartney como reproduzir suas icônicas vocalizações, quase berrando. Tem noção do que é isso?

Além dos já mencionados Sam Cooke, Beatles e Rolling Stones, nomes como Otis Redding, James Brown e Bo Diddley, só para citar alguns, citam Little Richard como inspiração. Artistas do porte de Elvis Presley, Buddy Holly, Bill Haley, Jerry Lee Lewis, The Everly Brothers, Gene Vincent e Eddie Cochran gravaram músicas dele.

O heavy metal, inclusive, tem uma dívida de gratidão ainda mais direta com Richard do que seus fãs podem pensar: Lemmy Kilmister, do Motörhead, é um dos que citam o icônico cantor e pianista como referência.

Não só por quem influenciou: depois de ter os Beatles como banda de abertura, Little Richard continuou a se entrelaçar com a história do rock como um todo quando, em 1964, sua banda de apoio trazia um guitarrista posteriormente conhecido como Jimi Hendrix. Curiosamente, os dois brigaram algum tempo depois porque Hendrix estava chamando demais a atenção.

Sua carreira passou por muitos altos e baixos, além de diversas ocasiões em que trocou a música secular pela gospel e vice-versa. Na década de 1970, seu som já era considerado “velharia” e passou a fazer parte de turnês “revival”, apesar de ainda realizar apresentações em grandes espaços. Os problemas com drogas atrapalharam bastante a trajetória do músico, especialmente a partir deste período.

Os últimos shows de Little Richard aconteceram em 2014 – sim, ele se apresentou ao vivo até chegar aos 81 anos. Aposentou-se de vez da música e teve poucas aparições, como em 2017, quando concedeu uma entrevista à Christian Three Angels Broadcasting Network e apareceu sem maquiagem e em uma cadeira de rodas.

*Trecho de texto publicado em 2020

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Tairine Martins
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Tairine Martins é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Administra o canal do YouTube Rock N' Roll TV desde abril de 2021. Instagram: @tairine.m

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