“Fallen”, a multiplatinada estreia em disco do Evanescence

Best-seller da década de 2000, primeiro álbum de estúdio da banda ajudou a estabelecê-la como uma das mais influentes na música alternativa

Elogiado pela crítica por sua habilidade de combinar elementos de diversos gêneros musicais em uma coesão sonora única, “Fallen”, o disco de estreia do Evanescence, foi lançado em 4 de março de 2003. Rapidamente se tornou um sucesso comercial, alcançando a primeira posição na parada de álbuns dos Estados Unidos e vendendo mais de 17 milhões de cópias em todo o mundo.

Sua principal música, “Bring Me to Life”, chegou ao topo das paradas de rock e alternativo, vencendo o Grammy de Melhor Performance de Hard Rock com Vocal Feminino em 2004. Outras, como “Going Under” e “My Immortal”, se tornaram hits em menor escala numa época em que as ondas do rádio e a programação da MTV eram dominadas por rocks com letras profundas e pessoais, que exploram temas como dor, solidão e superação.

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Mas como o álbum tomou forma e ganhou corpo?

De Little Rock para o mundo

Era 1995 quando Amy Lee, vocalista e pianista, e Ben Moody, guitarrista, se conheceram em uma aula de música quando eram adolescentes em Little Rock, Arkansas, Estados Unidos, e decidiram formar uma banda juntos. No início, o Evanescence se apresentava como um duo acústico, mas ao longo do tempo, começou a incluir mais músicos e a desenvolver um som mais pesado e elaborado.

Depois de lançar os EPs “Evanescence” (1998) e “Sound Asleep” (1999) e a demo “Origin” (2000), que ajudaram a estabelecer sua identidade musical, o grupo assinou com a Wind-Up, lar de bandas como Seether e Creed e que, à época, ostentava o título de maior gravadora independente em todo o mundo. Daí vieram mais um EP (“Mystary”, janeiro de 2003) e, enfim, “Fallen”.

“Minha feminilidade era uma coisa negativa”

Amy Lee tem se referido a “Fallen” ao longo dos anos como uma parte importante da sua carreira e da história do Evanescence. Em entrevistas, ela comenta sobre como as letras são pessoais e retratam a sua jornada pessoal à época em que o álbum foi criado. Exemplos perfeitos disso podem ser vistos e ouvidos na música carro-chefe do álbum.

Na qualidade de primeiro single, “Bring Me to Life” teve a missão de introduzir a banda no mainstream. Mas não sem que uma concessão de teor machista tivesse de ser feita antes.

Para concorrer em certo pé de igualdade com grupos como Nickelback, Hoobastank e Chevelle, a gravadora acreditava que a presença de um cantor faria diferença. Daí a inclusão de Paul McCoy, do 12 Stones, na faixa.

Em entrevista ao News.com.au, Lee explicou com seus termos o porquê da presença de McCoy:

“O rap [cantado por McCoy] foi parte do que nos colocou no rádio, eu acho. Pelo menos, de acordo com todas as regras do rádio com as quais não concordo ou que não entendo (…) Lembro-me de ter muitas conversas com os ‘engravatados’… para os mandachuvas da gravadora [minha feminilidade] era uma coisa negativa. Os profissionais da indústria fonográfica me disseram: ‘não há nada parecido com vocês tocando no rádio agora — como vamos conseguir espaço?’.”

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De fato, a Wind-Up ameaçou não lançar “Fallen” se a banda não adicionasse uma voz masculina ao single principal para torná-lo mais palatável para o rádio. Mas a impressão causada no público — que ouviu “Bring Me to Life” primeiro na trilha sonora do filme “Demolidor”, de fevereiro de 2003 — não poderia ter sido mais positiva.

Com uma letra que é a crônica de um relacionamento fracassado e um fraseado de piano que toda uma geração de músicos iniciantes fez questão de aprender, “Bring Me to Life” logo despontou para o quinto lugar nos Estados Unidos e para o topo das paradas no Reino Unido.

Em entrevista ao Songfacts, Amy Lee conta que estava na pior quando bateu a inspiração para a letra:

“Ele [Josh Hartzler, o homem que se tornaria seu marido] sentou na minha frente no restaurante, me olhou bem nos olhos e perguntou: ‘Você está feliz?’ Isso me fez engolir em seco, e eu olhei para baixo e comecei a inventar desculpas. Engasguei com minhas palavras porque senti que estava agindo de um jeito por fora, mas de outro muito turbulento por dentro. Senti como se ele pudesse ver através da minha alma. Isso inspirou toda a música. Anos depois, eu disse a ele que ‘Bring Me to Life’ era sobre ele.”

“Gótico para mauricinhos”

Na sequência de “Bring Me to Life” vieram outros três singles e videoclipes: “Going Under”, em setembro de 2003, “My Immortal”, em dezembro de 2003, e “Everybody’s Fool”, da qual quase ninguém lembra, em junho de 2004.

Trazendo versos inspirados pelo fim de um relacionamento de Amy Lee, “Going Under” retrata a sensação de ser engolido pelo sofrimento e a dor, conforme ela afirma ao Songfacts:

“A letra fala sobre sair de um relacionamento ruim; quando você está no limite, quando percebe que algo tem que mudar, que você não pode continuar vivendo da mesma forma. É uma música muito forte.”

Já a emotiva “My Immortal” foi concebida por Ben Moody ainda no ensino médio e por pouco não entrou no primeiro EP do Evanescence. A letra, que o guitarrista insiste ser totalmente fictícia, descreve a dor da perda de um ente querido enquanto evoca um amor que permanece inabalável mesmo após a morte.

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Em entrevista ao The Verge, Amy Lee reconhece que a faixa se tornou meio que “gótico para mauricinhos”, apesar da rivalidade que havia entre esses grupos em ambientes escolares. Segundo ela:

“Essa rivalidade realmente ressoa comigo de uma maneira real. Mas eu não me considerava gótica! Parte do que é estranho e engraçado é, tipo, tudo bem odiar os mauricinhos, pois você é o legal, você é o underground, você entende a vida e a gravidade da morte. Mas se você está tão deprimido e tudo é tão difícil e você é tão real e eles são tão falsos, por que você se esforça tão mais para manter um visual? Isso foi o que sempre me desanimou sobre o adjetivo ‘gótica’ quando isso começou a ser atribuído a mim em nossos primeiros dias. Se eu tivesse 15 anos e você me perguntasse o que eu era, eu diria que era grunge. Comprava todas as minhas roupas em vendas de garagem, não me esforçava muito para manter um visual, me arrumava dois segundos antes da escola, enquanto os mauricinhos colocavam todo o foco em seus looks e nas festas que frequentavam.”

Ao vencedor, o cover de Sandy & Junior

“Fallen” estreou na sétima posição da Billboard, vendendo mais de 141 mil cópias em sua primeira semana. Embora tenha batido na trave nos Estados Unidos, atingindo o número 3 em junho de 2003, liderou as paradas em mais de dez outros países do mundo.

No Brasil, “Fallen” faturou disco de platina duplo pelas mais de 250 mil cópias vendidas no país. E teve gente daqui tentando surfar na onda do sucesso do grupo: quem não se lembra do cover de “Bring Me to Life” feito pela dupla Sandy & Junior?

Evanescence – “Fallen”

  • Lançado em 4 de março de 2003 pela Wind-up
  • Produzido por Dave Fortman

Faixas:

  1. Going Under
  2. Bring Me to Life (com Paul McCoy)
  3. Everybody’s Fool
  4. My Immortal
  5. Haunted
  6. Tourniquet (cover de “My Tourniquet”, do Soul Embraced)
  7. Imaginary
  8. Taking Over Me
  9. Hello
  10. My Last Breath
  11. Whisper

Músicos:

  • Amy Lee (vocais, arranjos de corais, piano, teclados)
  • Ben Moody (guitarra, percussão tribal, programação)
  • David Hodges (piano, teclados, programação adicional, arranjos de corda em todas as faixas com exceção da 4)

Músicos adicionais:

  • Paul McCoy (vocais na faixa 2)
  • Francesco Dicosmo (baixo)
  • Josh Freese (bateria)
  • David Campbell (arranjos de corda em todas as faixas com exceção da 4)
  • Graeme Revell (arranjos de corda na faixa 4)
  • Zac Baird (programação adicional)
  • Chris Johnson (programação adicional)
  • Millenium Choir – Beverly Allen, Geri Allen, Eric Castro, Melanie Jackson, Karen Matranga, Joanne Paratore, Lesley Paton, Dwight Stone, Rick Stubbs, Talaya Trigrueros, Susan Youngblood (corais nas faixas 3, 5, 7, 11)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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