Como o Dream Theater fez o metal abraçar o prog em “Images and Words”

Embalado por hit improvável, trabalho mais bem-sucedido da banda americana ajudou a estabelecer metal progressivo de vez

Metal progressivo, gênero que tem o Dream Theater como uma das maiores referências, é algo que em 2022 soa perfeitamente normal, mas em 1990 seria como você sugerir a alguém pedir uma pizza de pasta de dente. Bandas de metal flertavam com elementos progressivos, mas nada explícito.

O Metallica tinha suas canções longas e tecnicamente intrincadas, especialmente no disco “…And Justice for All” (1988). O Iron Maiden passou a década de 80 quase inteira fazendo um som adjacente. Ainda assim, o termo progressivo era evitado em associação com metal.

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Em entrevista para a Metal Hammer, o guitarrista do Dream Theater, John Petrucci, resumiu a cena prog metal na época:

“Nós éramos amigos com os caras do Fates Warning e do Watchtower, e o Queensrÿche havia se tornado bem grande, mas não era a cena que conhecemos hoje. Tudo era super, super underground.”

Esse era o cenário enfrentado pela banda de Petrucci antes de estourarem com “Images and Words” e fazerem do metal progressivo algo mainstream.

Estreia passou em branco

Criado em 1985 por então estudantes da conceituada faculdade de música de Berklee, o Dream Theater (chamado Majesty até 1988) havia visto seu álbum de estreia, “When Dream and Day Unite” (1989), ser bem recebido pela crítica, mas ter qualquer chance de sucesso comercial aniquilada por promessas quebradas pela gravadora – a Mechanic, subdivisão da MCA.

Em entrevista ao Metal Insider, John Petrucci falou sobre a experiência de gravar a estreia do grupo:

“No ‘When Day and Dream Unite’, a gente era bem jovem e tinha acabado de assinar com uma gravadora, nós tínhamos um período de tempo muito curto para gravar o disco. Nós fomos como uma banda pra morar juntos na Pensilvânia e então gravamos. A gente não tinha nenhuma experiência mesmo.”

Ao fim de uma turnê promocional do disco que durou apenas cinco apresentações, eles demitiram o vocalista Charlie Dominici. Pelos próximos dois anos, os membros restantes – Petrucci, o baixista John Myung, o tecladista Kevin Moore e o baterista Mike Portnoy – se apresentaram como um quarteto instrumental e permaneceram no anonimato.

Ajuda vinda do norte

Demorou até 1991 para o Dream Theater encontrar um vocalista novo. Mais de 200 cantores foram testados, com um possível substituto chegando até a fazer um show com o grupo em 1990, desagradando banda e público com uma presença de palco descrita por Portnoy como uma “imitação barata de Bruce Dickinson do Iron Maiden”.

O Dream Theater estava prestes a tentar pra valer com outro cantor quando receberam uma fita demo de Kevin James LaBrie, vocalista do grupo de glam metal canadense Winter Rose. Impressionados com a qualidade do cassete, ofereceram a ele o posto após um teste ao vivo. Havia apenas uma condição: ele deveria começar a atender apenas por James LaBrie. Dois Kevins no mesmo grupo confundiria mais gente que os tempos usados nas canções, mesmo já havendo dois Johns.

Com LaBrie na formação, o grupo começou a fazer shows em Nova York enquanto trabalhava para finalizar canções cuja parte instrumental já havia sido composta antes da entrada do vocalista.

Uma demo contendo três canções chamou a atenção de Derek Shulman, vocalista do grupo progressivo Gentle Giant que agora chefiava a Atco, subsidiária da Atlantic Records. O Dream Theater assinou um contrato para sete discos, mas pela escolha de produtor – Dave Prater, ex-baterista do Santana – podia se ver um interesse maior na porção progressiva do grupo, ao invés do lado metaleiro.

Brigas no estúdio

O processo de gravação de “Images and Words” começou de maneira conturbada. Um representante da Atco apareceu no estúdio para informá-los que a gravadora não permitiria o grupo gravar uma canção de 22 minutos e sete partes cuja letra havia sido escrita por Mike Portnoy sobre o luto sentido após a morte de sua mãe.

James LaBrie contou à Metal Hammer sobre a diferenças criativas entre banda e selo:

“No início, eles nos contaram que o que estávamos tentando fazer tinha ‘nada a ver’ com a música da época. E é claro que esse era o nosso objetivo! Mas você conseguia quase ouvir eles se perguntando como que diabos conseguiriam fazer o disco pegar.”

Portnoy entrava em brigas constantes com Dave Prater, chegando a chamá-lo depois de “um dos seres humanos que menos gostava no planeta”. Entretanto, o baterista reconheceu depois o papel do produtor à Metal Hammer:

“A gente estava compondo música que soava como Metallica tocando com Yes ou o Rush, então alguém precisava mediar ou o álbum teria desaparecido.”

Enquanto isso, a Atco planejava por trás das cortinas substituir LaBrie com Robert Mason, do Lynch Mob. Felizmente, nunca chegou a ser uma opção séria.

Sucesso nas faculdades

Quando “Images and Words” finalmente saiu, era claro que a Atco não tinha a menor ideia como promovê-lo. Cheio de músicas com mais de sete minutos, não havia uma opção clara de single, e as expectativas comerciais eram baixas a ponto de só produzirem oito mil cópias.

A canção escolhida para ser o carro-chefe do disco, “Another Day”, mal teve repercussão. Contudo, rádios universitárias começaram a tocar “Pull Me Under” com regularidade. Banda e gravadora se aceleraram para gravar um clipe da canção, que fez parte integral da programação da MTV na época.

“Pull Me Under” se tornou um hit improvável para o grupo, atingindo o top 10 da parada Hot Mainstream Rock, da Billboard, . Acabou ajudando “Images and Words” a conquistar um disco de ouro nos Estados Unidos e um de platina no Japão.

Três décadas depois, o Dream Theater continua firme e forte, mas “Images and Words” continua considerado por muitos como o ponto alto da discografia da banda. Além disso, não dá para negar: foi um divisor de águas no metal.

Agora não precisava mais ficar só no flerte com o progressivo. Podia casar tranquilamente.

Dream Theater – “Images and Words”

  • Lançado em 7 de julho de 1992 pela Atco
  • Produzido por David Prater

Faixas:

  1. Pull Me Under
  2. Another Day
  3. Take the Time
  4. Surrounded
  5. Metropolis — Part I: The Miracle and the Sleeper
  6. Under a Glass Moon
  7. Wait for Sleep
  8. Learning to Live

Músicos:

  • James LaBrie (vocal)
  • John Petrucci (guitarra, backing vocals)
  • Kevin Moore (teclados)
  • Mike Portnoy (bateria, percussão, backing vocals)
  • John Myung (baixo)

Músico adicional:

  • Jay Beckenstein (saxofone soprano na faixa 2)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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