“Um Príncipe em Nova York”, lançado em 1988, é um dos filmes mais famosos e lembrados da carreira de Eddie Murphy. A história do príncipe Akeem Joffer em busca de uma esposa nos Estados Unidos ainda é lembrada por muita gente e ainda ganhou uma continuação décadas depois, em 2021, disponibilizada pelo streaming Amazon Prime Video.
Os cinéfilos de plantão já devem ter ouvido falar que o longa se envolveu em um caso de plágio. Mas afinal de contas, “Um Príncipe em Nova York” realmente copiou, na cara dura, a história de outra obra?
Art Buchwald e “King for a Day”
Tudo começou em 1982. O escritor e humorista Art Buchwald escreveu o roteiro de um filme que ganhou o nome de “King for a Day” – em tradução livre, “Rei por um dia”. A ideia foi apresentada para Jeffrey Katzenberg, executivo da Paramount.
Em suma, a história aborda um extravagante e prepotente monarca africano em uma visita aos Estados Unidos. Ao conhecer o presidente americano na Casa Branca, acaba se apaixonando pela assistente responsável por acompanhá-lo na visita. Porém, ele é destituído do trono durante a visita e acaba parando em um gueto de Washington. Para evitar sua deportação, aceita se casar com a mulher responsável por acompanhá-lo pelo passeio, com os dois vivendo felizes para sempre.
A ideia de Buchwald era justamente chamar Eddie Murphy para viver esse monarca, já que na época ele tinha um contrato de exclusividade com a Paramount. O estúdio chegou a iniciar trabalhos no projeto em 1983, mas após inúmeros contratempos, abandonou a ideia em março de 1985.
A “nova” ideia
Dois anos mais tarde, em 1987, a Paramount anunciou que estava produzindo um filme que, segundo o estúdio, foi baseado em uma ideia do próprio Eddie Murphy. O projeto se tratava justamente de “Um Príncipe em Nova York” – que, como sabemos, tem uma história semelhante à escrita por Art Buchwald.
No entanto, assim que o filme foi lançado nos cinemas, Murphy recebeu todo o crédito pela história, junto de Barry Blaustein e David Sheffield, responsáveis por transformar a ideia em um roteiro. Buchwald não foi sequer mencionado ou pago pela ideia.
Como você já deduziu, o escritor e humorista não deixou barato e processou a Paramount. No entanto, Art acionou o estúdio não por plágio, mas sim por quebra contratual. Ele alegou que havia firmado um contrato junto à empresa dizendo que receberia parte dos lucros se a história fosse adaptada para os cinemas.
O julgamento
A Justiça do estado americano da Califórnia foi a responsável pelo julgamento do caso, que ocorreu em 1990. Na primeira fase, a Justiça notou que, de fato, “Um Príncipe em Nova York” havia se baseado em “King for a Day”. Além disso, por conta do acordo firmado entre ambas as partes, o júri observou que realmente houve quebra de contrato.
A segunda fase seria responsável por determinar o valor da indenização que a Paramount teria de pagar. O estúdio, em um primeiro momento, entrou com recurso e alegou não obteve lucro real com “Um Príncipe em Nova York”.
Apesar de o filme ter arrecadado US$ 288 milhões em bilheteria – um valor bastante considerável para a época –, a Paramount alegou que os gastos com marketing e outras despesas impediram grandes ganhos a ela.
No entanto, temendo que perderia o recurso e uma possível onda de processos de outros escritores e roteiristas – que poderia afetar toda a indústria cinematográfica –, a companhia decidiu pagar um valor para Art Buchwald e encerrar de vez o processo. O valor do acordo extrajudicial foi de US$ 900 mil.
A opinião de John Landis
Anos mais tarde, o diretor de “Um Príncipe em Nova York”, John Landis, polemizou ao dar sua opinião sobre o caso. Na versão em DVD do filme, lançada em 2007, garantiu que a ideia sempre foi de Eddie Murphy e que ela foi adaptada pelos roteiristas Barry Blaustein e David Sheffield.
Em um livro lançado sobre sua vida no ano seguinte, ele também diminuiu o processo movido por Art Buchwald.
“Eu digo, primeiramente, que eu não conheço Art Buchwald e não tenho nada contra ele. Mas em toda a atenção da mídia para o caso, ninguém nunca mencionou Barry Blaustein e David Sheffield, os homens que realmente escreveram o roteiro!
Em todo filme que estive envolvido e foi um sucesso, sempre apareceram pessoas processando o estúdio, dizendo que a ideia era delas. Vivemos em uma sociedade muito litigiosa. Hoje, você pode processar qualquer um por qualquer coisa.”
Por falar em literatura, em 1992, o processo chegou a ser o assunto de um livro, chamado “Fatal Subtraction: The Inside Story of Buchwald v. Paramount”, escrito por Pierce O’Donnell, advogado de Art Buchwald, em parceria com o repórter Dennis McDougal.
Menção a Art Buchwald na sequência
Um detalhe de “Um Príncipe em Nova York 2” deve ter passado despercebido por muitos, mas parece ter sido uma forma de evitar um novo processo – ou de agradecer por uma possível liberação de direitos autorais.
Nos créditos da sequência, é possível ler a seguinte a frase:
“Um agradecimento especial ao espólio de Art Buchwald.”
Menciona-se o espólio porque Buchwald faleceu em 17 de janeiro de 2007, aos 81 anos de idade.
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