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“Um Príncipe em Nova York” é um plágio? A história do processo contra o filme

Escritor e humorista Art Buchwald entrou na justiça após descobrir que obra com roteiro semelhante ao que havia criado estava em desenvolvimento

“Um Príncipe em Nova York”, lançado em 1988, é um dos filmes mais famosos e lembrados da carreira de Eddie Murphy. A história do príncipe Akeem Joffer em busca de uma esposa nos Estados Unidos ainda é lembrada por muita gente e ainda ganhou uma continuação décadas depois, em 2021, disponibilizada pelo streaming Amazon Prime Video.

Os cinéfilos de plantão já devem ter ouvido falar que o longa se envolveu em um caso de plágio. Mas afinal de contas, “Um Príncipe em Nova York” realmente copiou, na cara dura, a história de outra obra?

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Art Buchwald e “King for a Day”

Tudo começou em 1982. O escritor e humorista Art Buchwald escreveu o roteiro de um filme que ganhou o nome de “King for a Day” – em tradução livre, “Rei por um dia”. A ideia foi apresentada para Jeffrey Katzenberg, executivo da Paramount.

Art Buchwald em 1995 (foto: John Mathew-Smith / www.celebrity-photos.com / CC BY-SA 2.0)

Em suma, a história aborda um extravagante e prepotente monarca africano em uma visita aos Estados Unidos. Ao conhecer o presidente americano na Casa Branca, acaba se apaixonando pela assistente responsável por acompanhá-lo na visita. Porém, ele é destituído do trono durante a visita e acaba parando em um gueto de Washington. Para evitar sua deportação, aceita se casar com a mulher responsável por acompanhá-lo pelo passeio, com os dois vivendo felizes para sempre.

A ideia de Buchwald era justamente chamar Eddie Murphy para viver esse monarca, já que na época ele tinha um contrato de exclusividade com a Paramount. O estúdio chegou a iniciar trabalhos no projeto em 1983, mas após inúmeros contratempos, abandonou a ideia em março de 1985.

A “nova” ideia

Dois anos mais tarde, em 1987, a Paramount anunciou que estava produzindo um filme que, segundo o estúdio, foi baseado em uma ideia do próprio Eddie Murphy. O projeto se tratava justamente de “Um Príncipe em Nova York” – que, como sabemos, tem uma história semelhante à escrita por Art Buchwald.

No entanto, assim que o filme foi lançado nos cinemas, Murphy recebeu todo o crédito pela história, junto de Barry Blaustein e David Sheffield, responsáveis por transformar a ideia em um roteiro. Buchwald não foi sequer mencionado ou pago pela ideia.

Como você já deduziu, o escritor e humorista não deixou barato e processou a Paramount. No entanto, Art acionou o estúdio não por plágio, mas sim por quebra contratual. Ele alegou que havia firmado um contrato junto à empresa dizendo que receberia parte dos lucros se a história fosse adaptada para os cinemas.

O julgamento

A Justiça do estado americano da Califórnia foi a responsável pelo julgamento do caso, que ocorreu em 1990. Na primeira fase, a Justiça notou que, de fato, “Um Príncipe em Nova York” havia se baseado em “King for a Day”. Além disso, por conta do acordo firmado  entre ambas as partes, o júri observou que realmente houve quebra de contrato.

A segunda fase seria responsável por determinar o valor da indenização que a Paramount teria de pagar. O estúdio, em um primeiro momento, entrou com recurso e alegou não obteve lucro real com “Um Príncipe em Nova York”.

Apesar de o filme ter arrecadado US$ 288 milhões em bilheteria – um valor bastante considerável para a época –, a Paramount alegou que os gastos com marketing e outras despesas impediram grandes ganhos a ela.

No entanto, temendo que perderia o recurso e uma possível onda de processos de outros escritores e roteiristas – que poderia afetar toda a indústria cinematográfica –, a companhia decidiu pagar um valor para Art Buchwald e encerrar de vez o processo. O valor do acordo extrajudicial foi de US$ 900 mil.

A opinião de John Landis

Anos mais tarde, o diretor de “Um Príncipe em Nova York”, John Landis, polemizou ao dar sua opinião sobre o caso. Na versão em DVD do filme, lançada em 2007, garantiu que a ideia sempre foi de Eddie Murphy e que ela foi adaptada pelos roteiristas Barry Blaustein e David Sheffield.

Em um livro lançado sobre sua vida no ano seguinte, ele também diminuiu o processo movido por Art Buchwald.

“Eu digo, primeiramente, que eu não conheço Art Buchwald e não tenho nada contra ele. Mas em toda a atenção da mídia para o caso, ninguém nunca mencionou Barry Blaustein e David Sheffield, os homens que realmente escreveram o roteiro!

Em todo filme que estive envolvido e foi um sucesso, sempre apareceram pessoas processando o estúdio, dizendo que a ideia era delas. Vivemos em uma sociedade muito litigiosa. Hoje, você pode processar qualquer um por qualquer coisa.”

Por falar em literatura, em 1992, o processo chegou a ser o assunto de um livro, chamado “Fatal Subtraction: The Inside Story of Buchwald v. Paramount”, escrito por Pierce O’Donnell, advogado de Art Buchwald, em parceria com o repórter Dennis McDougal.

Menção a Art Buchwald na sequência

Um detalhe de “Um Príncipe em Nova York 2” deve ter passado despercebido por muitos, mas parece ter sido uma forma de evitar um novo processo – ou de agradecer por uma possível liberação de direitos autorais.

Nos créditos da sequência, é possível ler a seguinte a frase:

“Um agradecimento especial ao espólio de Art Buchwald.”

Menciona-se o espólio porque Buchwald faleceu em 17 de janeiro de 2007, aos 81 anos de idade.

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Augusto Ikeda
Augusto Ikedahttp://www.igormiranda.com.br
Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

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“Um Príncipe em Nova York”, lançado em 1988, é um dos filmes mais famosos e lembrados da carreira de Eddie Murphy. A história do príncipe Akeem Joffer em busca de uma esposa nos Estados Unidos ainda é lembrada por muita gente e ainda ganhou uma continuação décadas depois, em 2021, disponibilizada pelo streaming Amazon Prime Video.

Os cinéfilos de plantão já devem ter ouvido falar que o longa se envolveu em um caso de plágio. Mas afinal de contas, “Um Príncipe em Nova York” realmente copiou, na cara dura, a história de outra obra?

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Art Buchwald e “King for a Day”

Tudo começou em 1982. O escritor e humorista Art Buchwald escreveu o roteiro de um filme que ganhou o nome de “King for a Day” – em tradução livre, “Rei por um dia”. A ideia foi apresentada para Jeffrey Katzenberg, executivo da Paramount.

Art Buchwald em 1995 (foto: John Mathew-Smith / www.celebrity-photos.com / CC BY-SA 2.0)

Em suma, a história aborda um extravagante e prepotente monarca africano em uma visita aos Estados Unidos. Ao conhecer o presidente americano na Casa Branca, acaba se apaixonando pela assistente responsável por acompanhá-lo na visita. Porém, ele é destituído do trono durante a visita e acaba parando em um gueto de Washington. Para evitar sua deportação, aceita se casar com a mulher responsável por acompanhá-lo pelo passeio, com os dois vivendo felizes para sempre.

A ideia de Buchwald era justamente chamar Eddie Murphy para viver esse monarca, já que na época ele tinha um contrato de exclusividade com a Paramount. O estúdio chegou a iniciar trabalhos no projeto em 1983, mas após inúmeros contratempos, abandonou a ideia em março de 1985.

A “nova” ideia

Dois anos mais tarde, em 1987, a Paramount anunciou que estava produzindo um filme que, segundo o estúdio, foi baseado em uma ideia do próprio Eddie Murphy. O projeto se tratava justamente de “Um Príncipe em Nova York” – que, como sabemos, tem uma história semelhante à escrita por Art Buchwald.

No entanto, assim que o filme foi lançado nos cinemas, Murphy recebeu todo o crédito pela história, junto de Barry Blaustein e David Sheffield, responsáveis por transformar a ideia em um roteiro. Buchwald não foi sequer mencionado ou pago pela ideia.

Como você já deduziu, o escritor e humorista não deixou barato e processou a Paramount. No entanto, Art acionou o estúdio não por plágio, mas sim por quebra contratual. Ele alegou que havia firmado um contrato junto à empresa dizendo que receberia parte dos lucros se a história fosse adaptada para os cinemas.

O julgamento

A Justiça do estado americano da Califórnia foi a responsável pelo julgamento do caso, que ocorreu em 1990. Na primeira fase, a Justiça notou que, de fato, “Um Príncipe em Nova York” havia se baseado em “King for a Day”. Além disso, por conta do acordo firmado  entre ambas as partes, o júri observou que realmente houve quebra de contrato.

A segunda fase seria responsável por determinar o valor da indenização que a Paramount teria de pagar. O estúdio, em um primeiro momento, entrou com recurso e alegou não obteve lucro real com “Um Príncipe em Nova York”.

Apesar de o filme ter arrecadado US$ 288 milhões em bilheteria – um valor bastante considerável para a época –, a Paramount alegou que os gastos com marketing e outras despesas impediram grandes ganhos a ela.

No entanto, temendo que perderia o recurso e uma possível onda de processos de outros escritores e roteiristas – que poderia afetar toda a indústria cinematográfica –, a companhia decidiu pagar um valor para Art Buchwald e encerrar de vez o processo. O valor do acordo extrajudicial foi de US$ 900 mil.

A opinião de John Landis

Anos mais tarde, o diretor de “Um Príncipe em Nova York”, John Landis, polemizou ao dar sua opinião sobre o caso. Na versão em DVD do filme, lançada em 2007, garantiu que a ideia sempre foi de Eddie Murphy e que ela foi adaptada pelos roteiristas Barry Blaustein e David Sheffield.

Em um livro lançado sobre sua vida no ano seguinte, ele também diminuiu o processo movido por Art Buchwald.

“Eu digo, primeiramente, que eu não conheço Art Buchwald e não tenho nada contra ele. Mas em toda a atenção da mídia para o caso, ninguém nunca mencionou Barry Blaustein e David Sheffield, os homens que realmente escreveram o roteiro!

Em todo filme que estive envolvido e foi um sucesso, sempre apareceram pessoas processando o estúdio, dizendo que a ideia era delas. Vivemos em uma sociedade muito litigiosa. Hoje, você pode processar qualquer um por qualquer coisa.”

Por falar em literatura, em 1992, o processo chegou a ser o assunto de um livro, chamado “Fatal Subtraction: The Inside Story of Buchwald v. Paramount”, escrito por Pierce O’Donnell, advogado de Art Buchwald, em parceria com o repórter Dennis McDougal.

Menção a Art Buchwald na sequência

Um detalhe de “Um Príncipe em Nova York 2” deve ter passado despercebido por muitos, mas parece ter sido uma forma de evitar um novo processo – ou de agradecer por uma possível liberação de direitos autorais.

Nos créditos da sequência, é possível ler a seguinte a frase:

“Um agradecimento especial ao espólio de Art Buchwald.”

Menciona-se o espólio porque Buchwald faleceu em 17 de janeiro de 2007, aos 81 anos de idade.

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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

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