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Cinco discos para conhecer o grande Ronnie Wood

Além de clássico dos Rolling Stones, lista inclui álbum seminal do blues rock e um dos maiores êxitos comerciais de Rod Stewart

Eis um sujeito cuja lista de atribuições — que inclui cantor, compositor, multi-instrumentista, artista plástico, escritor, radialista e detentor de um dos penteados mais icônicos da história do rock — só não é maior do que seu currículo. Em quase seis décadas de carreira, Ronnie Wood foi pau pra toda obra e nessa de não saber dizer “não”, construiu amizades que foram sucessivamente lhe abrindo portas.

Embora tenha começado como guitarrista, foi com o baixo em punho que teve sua primeira grande chance na indústria fonográfica. A partir daí, não parou mais, produzindo quase que em escala industrial — seja solo ou integrando grupos — até os Rolling Stones, em 1975, reivindicarem a exclusividade de seus serviços.

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Com Keith Richards, Wood forma a dupla de guitarras mais longeva que se tem notícia. Se por um lado, isso não se estende à composição — as músicas dos Stones assinadas por ele podem ser contadas nos dedos —, por outro, o show não seria o mesmo sem sua figura esguia, magérrima e sorridente.

Veja abaixo por onde começar a desbravar sua obra.

Cinco discos para conhecer Ronnie Wood

Jeff Beck Group – “Truth” (1968)

Depois de três anos e alguns singles de repercussão moderada enquanto guitarrista e principal compositor do grupo The Birds — não confundir com a banda estadunidense formada no mesmo ano com um “y” no lugar do “i” —, a sorte finalmente sorriu para Ronnie Wood quando o amigo vocalista Rod Stewart o indicou para tocar baixo no recém-criado Jeff Beck Group. Stewart conta que Wood teria roubado o instrumento de uma loja e voltado lá para pagar assim que conseguiu ganhar algum dinheiro com o emprego.

Lançado no verão de 1968, “Truth” era basicamente um disco de covers: “You Shook Me” (Willie Dixon), “Ol’ Man River” (Jerome Kern), “I Ain’t Superstitious” (Howlin’ Wolf) e até mesmo “Shapes of Things”, original dos Yardbirds — banda da qual Beck fez parte de 1965 a 1966 —, em versão turbinada que forneceu o modelo sobre o qual Jimmy Page moldou o Led Zeppelin.

Como se o elenco base não fosse estelar o bastante com Stewart, Wood e o batera Micky Waller, Jeff ainda reuniu um timaço para gravar a instrumental “Beck’s Bolero”: Page, John Paul Jones (futuro integrante do Led), Keith Moon (The Who) e Nicky Hopkins, frequente colaborador dos Rolling Stones. Essencial, para dizer o mínimo.

Faces – “A Nod Is As Good As A Wink… To A Blind Horse” (1971)

A estada de Ronnie Wood no Jeff Beck Group chegaria ao fim após “Beck-Ola”, em 1969. No mesmo ano, o Small Faces sofreu o baque de perder o frontman Steve Marriott, deixando o caminho livre para que Wood e Rod Stewart se juntassem ao que restava do grupo, dando origem ao Faces.

Na primeira metade dos anos 1970, o Faces — completado por Ronnie Lane (baixo), Kenney Jones (bateria) e Ian McLagan (teclados) — lançou quatro álbuns de estúdio, mas “A Nod Is As Good As A Wink… To A Blind Horse”, lançado em 17 de novembro de 1971, a começar pelo título — em português, “Um aceno é tão bom quanto uma piscadela… para um cavalo cego” —, é o mais legal e também o mais comercialmente bem-sucedido.

Embora muito do sucesso em vendas se deva ao fato de a carreira solo de Stewart estar deslanchando internacionalmente após o LP “Every Picture Tells A Story”, de maio daquele ano, e à balada “Maggie May”, “A Nod…”, musicalmente, brilha por méritos próprios — sobretudo pela produção do renomado Glyn Johns, que ensinou à banda a valiosa lição de que menos é mais. Em 36 minutos cravados, a entrega excede em qualidade à dos antecessores “First Step” (1970) e “Long Player” (1971) com sobras e apenas um cover: “Memphis”, de Chuck Berry.

Ron Wood – “I’ve Got My Own Album To Do” (1974)

Se Rod Stewart podia ter uma carreira paralela ao Faces, por que Ronnie Wood não? Para mostrar não apenas que sim, mas que uma década no business fez dele figura das mais bem-relacionadas, o guitarrista reuniu uma galera da pesada para tocar em seu primeiro LP solo.

Muito antes do advento dos home studios, “I’ve Got My Own Album To Do” foi inteiramente gravado na casa de Wood, em Londres, com produção do próprio. Entre um trago e outro, parcerias foram estabelecidas com George Harrison (“Far East Man”, posteriormente lançada pelo ex-Beatle em seu LP “Dark Horse”, também de 1974) e a dupla Mick Jagger e Keith Richards, que assina duas das dez faixas, além de cantar e tocar em outras cinco.

https://www.youtube.com/watch?v=pHUWznffcU4

Entre muitos outros figurões, engrossam a lista de créditos VIP o cantor David Bowie e o guitarrista Mick Taylor, o qual Wood em questão de meses substituiria nos Rolling Stones.

The Rolling Stones – “Some Girls” (1978)

Na mesma época em que Mick Jagger e Keith Richards emprestaram seus talentos para “I’ve Got My Own Album To Do”, Ronnie Wood quebrou um galho para os Rolling Stones tocando violão na faixa-título de “It’s Only Rock ‘N’ Roll”. Quando Mick Taylor deixou os Stones para se internar em uma clínica de tratamento de dependência química, Wood revelou-se o substituto ideal, não obstante “Black And Blue” (1976), o primeiro sem Taylor, ter sido parcialmente gravado por Harvey Mandel e Wayne Perkins.

Lançado simultaneamente na Europa e nos Estados Unidos em 19 de maio de 1978, “Some Girls” foi o primeiro álbum de estúdio dos Stones com Wood como membro oficial, e a conexão com Richards foi tamanha que à Guitar World, em abril de 1983, Keith declarou:

“Se o Ron deixar a palheta cair no chão, eu posso tocar suas partes até ele a pegar. Nós cobrimos um ao outro tão bem que às vezes você não saberia realmente dizer qual dos dois está tocando.”

Fazem parte de “Some Girls” algumas das principais músicas do cânone stoniano, como a biográfica “Before They Make Me Run”, na qual Keith canta sobre a morte súbita do amigo e músico Gram Parsons, e a disco music “Miss You”, que foi, em termos financeiros, o compacto mais impactante mundialmente do que qualquer outro lançado até então pela banda.

Rod Stewart – “Unplugged…and Seated” (1993)

No que foi um dos anos mais movimentados da carreira de Rod Stewart, lá estava Ronnie Wood exercendo papel de destaque.

No dia 5 de fevereiro de 1993, a dupla se reuniu para gravar o MTV Unplugged. Pouco mais de três meses depois, o disco contendo 15 das 21 faixas tocadas na ocasião foi lançado e, impulsionado pela histórica versão de “Have I Told You Lately” do Van Morrison, chegou à segunda posição da Billboard, conquistando, no fim das contas, o disco de platina triplo.

Embora não toque em todas as músicas, Wood, munido tão somente de seu violão, imprime sua assinatura em momentos-chave da apresentação, como “Maggie May”, “Mandolin Wind” e no cover de “People Get Ready”, de Curtis Mayfield, que Stewart refizera com Jeff Beck em 1986.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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