O Mötley Crüe é a banda mais descompensada da história. Esqueça os contos de baixaria dos Rolling Stones, Led Zeppelin ou Aerosmith: o Crüe faz todos eles parecerem carolas.
No meio da década de 1980, eles estavam numa posição proeminente no rock americano, com o disco “Theatre of Pain” atingindo platina quádrupla nas costas do hit “Home Sweet Home”. Mas os problemas de esbórnia e vício que haviam dado ao grupo certa notoriedade na cena da Sunset Strip haviam se tornado um problema sério.
Um resumo da bagunça
Em dezembro de 1984, o vocalista Vince Neil estava ao volante de seu carro esporte bêbado quando bateu de frente com outro veículo. O passageiro, Nicholas “Razzle” Dingley, baterista do Hanoi Rocks, chegou morto ao hospital. Graças aos advogados da banda, Neil só ficou 18 dias na cadeia e pagou US$ 2,5 milhões de indenização para a família do falecido.
Enquanto isso, o vício em heroína de Nikki Sixx havia piorado. Em fevereiro de 1986, o baixista sofreu uma overdose em Londres, na Inglaterra – e o traficante que havia lhe vendido a droga jogou seu corpo numa lixeira.
Esses dois acontecimentos fizeram a banda mudar o seu estilo de vida? Não. O mais perto que houve de qualquer reflexão foi Sixx escrevendo a canção “Dancing on Glass”, que estaria no sucessor de “Theatre of Pain”, “Girls, Girls, Girls”.
Uma mudança visual
O Motley Crüe sempre foi um grupo com um senso visual forte, modulando o heavy metal satanista de “Shout at the Devil” com o glam metal escancarado de “Theatre of Pain”. Para “Girls, Girls, Girls” o grupo deixou para trás os collants, saltos e maquiagem em favor de um look motoqueiro, além de um som mais pesado influenciado pelo blues.
A Sunset Strip estava mudando, com o Guns N’ Roses no horizonte, e o Crüe foi uma das poucas bandas estabelecidas a se manter na frente da onda. Não tão na frente assim, pois o som ainda remetia ao modelo estabelecido na cena – vide “Wild Side” e a faixa-título com seus refrães enormes feitos para estádios cantarem sobre strippers e o lado sujo da sociedade.
O único momento de ternura em meio ao vórtex de sacanagem é “Nona”, escrita por Sixx em homenagem à sua avó, responsável por sua criação, que morreu durante a gravação do disco. E trata-se de uma passagem realmente breve, já que a faixa tem menos de 90 segundos de duração.
Fora os singles – as já mencionadas “Wild Side” e faixa-título e a balada “You’re All I Need” -, o álbum não oferece muito. Os problemas internos comprometeram o processo criativo do grupo, a ponto de músicas como “Bad Boy Boogie”, “Five Years Dead” e “All in the Name Of…” soarem como fillers. Foi necessário até mesmo trazer um cover – “Jailhouse Rock”, de Elvis Presley – para completar a tracklist com 10 faixas.
Apesar disso, o trabalho fez sucesso. Chegou ao segundo lugar das paradas da Billboard nos Estados Unidos (foram barrados do topo por “Whitney”, segundo trabalho de Whitney Houston) e atingiu o top 10 de outros três países: Canadá, Suécia e Noruega. Vendeu mais de 4,5 milhões de cópias em todo o mundo, conquistando certificação de platina quádrupla em território americano.
A gota d’água
Naquela época, o vício de Nikki Sixx estava fora de controle. Entre 1986 e 1987, o baixista manteve um diário sobre seu consumo diário, que acabou se tornando o livro “The Heroin Diaries: A Year in the Life of a Shattered Rock Star”, onde ele escreveu:
“Eu era um cara tão fisgado por heroína e cocaína que precisei morrer duas vezes antes que pudesse começar a contemplar um estilo de vida mais positivo.”
Em dezembro de 1987, a segunda morte veio na forma de outra overdose. Seu coração parou por tempo o suficiente para os paramédicos declarassem sua morte. Precisou que um deles, fã da banda, injetasse duas seringas cheias de adrenalina para que ele voltasse do além.
A imprensa chegou a reportar sua morte, mas ele foi liberado do hospital sem sequer passar a noite em observação. A experiência rendeu outra canção, “Kickstart My Heart”, do álbum “Dr. Feelgood” (1989).
O estilo de vida dos membros do grupo estava tão fora de controle que os dois empresários do grupo, Doug Thaler e Doc McGhee, proibiram o grupo de fazer uma turnê europeia antes que ficassem limpos. Em 1988, todos os integrantes foram para a reabilitação.
Em um editorial para o Los Angeles Times sobre a epidemia de opióides que aflige os Estados Unidos atualmente, ele falou sobre sua experiência em retrospecto:
“A heroína quase me matou. Na verdade, me matou. Quem olhava de fora, pensava que eu estava vivendo um sonho, mas na verdade, eu estava sofrendo de uma doença que não podia controlar, viciado em heroína.”
O disco seguinte da banda “Dr. Feelgood”, se tornou o maior sucesso deles. Nos anos subsequentes, “Girls, Girls, Girls” foi muito criticado pelo grupo. As brigas internas e vícios já haviam afetado negativamente “Theatre of Pain”, mas chegaram a um ponto crítico neste trabalho de 1987.
No final, o disco virou um retrato de uma banda em rota de destruição – que felizmente eles conseguiram evitar.
Mötley Crüe – “Girls, Girls, Girls”
- Lançado em 15 de maio de 1987 pela Elektra; produzido por Tom Werman.
Faixas:
- Wild Side
- Girls, Girls, Girls
- Dancing on Glass
- Bad Boy Boogie
- Nona
- Five Years Dead
- All in the Name Of…
- Sumthin’ for Nuthin’
- You’re All I Need
- Jailhouse Rock (Elvis Presley cover, gravado ao vivo)
Músicos:
- Vince Neil (vocal)
- Mick Mars (guitarra, backing vocals)
- Nikki Sixx (baixo, backing vocals
- Tommy Lee (bateria, piano, backing vocals)
Músicos adicionais:
- Bob Carlisle, Dave Amato, John Purdell, Pat Torpey, Phyllis St. James e Tommy Funderburk (backing vocals)
* Texto por Pedro Hollanda, com pauta e edição por Igor Miranda.
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Acredito que essa banda seja a única do quesito: SEXO , DROGAS E ROCK´N ROLL ao pé da letra mesmo!!!! valeu!!!!