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Em clima de jogo ganho, Red Hot Chili Peppers celebra legado no longo “Unlimited Love”

Décimo-segundo trabalho de estúdio da banda marca retorno do guitarrista John Frusciante, que mostrou como seu talento faz a diferença

Antes de ouvir um álbum como “Unlimited Love”, é preciso acertar os ponteiros da seguinte pergunta: o que esperar do disco que marca o segundo retorno do guitarrista John Frusciante ao Red Hot Chili Peppers?

A história mostra como os Chili Peppers, sem ou (especialmente) com Frusciante, conseguiram ter diferentes ondas de sucesso com sonoridades diversas. O grupo completo por Anthony Kiedis (voz), Flea (baixo) e Chad Smith (bateria) teve diversas fases, algumas delas sem John, outras até mesmo sem Chad, que só entrou para a formação em 1988, mas dali não saiu mais.

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É natural, então, que muitos fãs esperem um novo renascimento. Há quem aguarde algo similar ao que ocorreu com “Californication” (1999), álbum que marcou o primeiro retorno de Frusciante. Ou até mesmo ao que aconteceu em “Blood Sugar Sex Magik” (1991), segundo trabalho da formação mais conhecida do grupo, mas o primeiro a realmente fazer sucesso após quase uma década de muito perrengue.

Mas não deve ser essa a expectativa. Primeiro porque “Unlimited Love” não oferece isso aos fãs. Segundo porque não há muita lógica em esperar que uma banda prestes a completar 40 anos de estrada, com três de seus integrantes próximos de completar 60 anos de idade, reinventem sua própria roda.

Ouça “Unlimited Love” abaixo, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais. Na sequência, confira resenha sobre o trabalho.

Uma densa celebração

O décimo-segundo álbum de estúdio do Red Hot Chili Peppers, acima de tudo, celebra o legado da banda. Há poucos espaços para experimentos. Aqui, você encontra tudo o que deu certo nos discos mais populares dos caras, mas com o molde da experiência de tantos anos de estrada.

Ao mesmo tempo, trata-se de um trabalho denso. Havia muito a ser dito, com palavras ou com música, tanto por parte de John a seus colegas quanto em via contrária. Em entrevistas, os músicos não negam a forte carga emocional que impulsiona o retorno do guitarrista à banda que o consagrou. Vai além do business: os caras são amigos de uma vida toda.

A sensação de camaradagem permeia várias passagens de “Unlimited Love”. Dá para sentir que muitas dessas músicas surgiram a partir de jams descontraídas, em âmbito coletivo, e só depois foram lapidadas. O clima de “brothers fazendo um som” também se faz presente nos momentos de “respiro”, onde um integrante deixa o outro brilhar – o que se percebe especialmente na dinâmica entre Frusciante e Flea, onde um sabe exatamente a ocasião correta de sair dos holofotes em prol do parceiro.

Enquanto o guitarrista e o baixista nos presenteiam com essa interação, Anthony Kiedis e Chad Smith, cada um a seu modo, atuam como regentes. Kiedis, comprometido por maneirismos que pioraram com o tempo, acaba tendo altos e baixos, seja por algumas letras que exageram nos clichês, seja por caminhos vocais que toma e nem sempre se justificam. Felizmente, de sua parte, há mais altos do que baixos. Smith, por sua vez, é uma fortaleza. Sua performance sólida é a responsável por, muitas vezes, alterar dinâmicas e climas nas canções. E ele sabe que tem habilidades o suficiente para assumir o protagonismo nesse jogo, mas nem precisa: com ele, é tudo em prol do coletivo.

Altos e baixos

Se a performance individual de cada músico continua muito próximo do que ouvimos nos trabalhos mais clássicos, o fator “repertório” oscila um pouco mais. “Unlimited Love” não chega a ter músicas ruins, mas há alguns momentos muito bons e outros que talvez poderiam ser enxugados.

Historicamente, os álbuns mais bem-sucedidos do Red Hot Chili Peppers são longos. “Blood Sugar Sex Magik” ultrapassa a marca dos 70 minutos, enquanto “By the Way” (2002) chega perto disso. “Stadium Arcadium” (2006), que saiu como CD duplo, tem pouco mais de 120 minutos de duração. São registros com 15 faixas ou mais.

Tanto esses trabalhos mais clássicos quanto o mais atual (que tem 17 faixas distribuídas em 73 minutos) sofrem em função disso. Como há muitas canções, a audição é cansativa. No caso de “Unlimited Love”, a situação é ainda mais complicada porque como se trata de um álbum que celebra o legado, sem grandes experimentos, sensações tipo “já ouvi isso antes” ou “essa música é bem parecida com a anterior” se repetem ao longo do processo.

A situação, inclusive, afeta a segunda metade do álbum, que soa mais inspirada que a primeira ao permitir alguns experimentos. O ouvinte só chega à “nata” após passar por uma série de faixas que são apenas razoáveis e só se salvam graças às guitarras de Frusciante, como a balada minimalista “Not the One”, a pouco impactante “It’s Only Natural” e as padrões “Black Summer” e “The Great Apes”. Há dois fillers na etapa derradeira do trabalho (“Veronica” e “Let ‘Em Cry”), mas as “encheções de linguiça” ficam mais do início para o miolo.

Ainda assim, e também neste caso, há mais altos do que baixos. Algumas das melhores da tracklist são as pesadas “These Are the Ways” e “The Heavy Wing” (na segunda, com Frusciante assumindo os vocais no refrão); “Here Ever After”, por seu groove envolvente e tom quase dark; “Whatchu Thinkin’” e seu espírito de jam que se reflete no expressivo solo; “Bastards of Light”, que vai dos sintetizadores aos violões e guitarras com slide; “White Braids & Pillow Chair”, balada de campo harmônico agradável que tem até uma passagem surf rock na segunda metade; e a acústica “Tangelo”, que mostra como uma boa canção pode funcionar até no formato mais minimalista possível.

Saldo geral

Se o amor é ilimitado, as possibilidades artísticas que o Red Hot Chili Peppers explora em “Unlimited Love” são, de certa forma, limitadas. E era de se esperar, por tudo que já foi explicado. Se as coisas serão diferentes em próximos trabalhos, resta aguardar.

Fato é que, dentro de sua proposta, o novo disco dos Chili Peppers se sai bem. A tracklist longa e o já citado “clima de jogo ganho” às vezes atrapalham, mas não prejudicam tanto a experiência final. Há músicas bem boas na tracklist, com potencial para entrar no repertório dos shows e playlists de favoritas dos fãs.

Competência do conjunto à parte, é visível a diferença que John Frusciante faz para a banda. Gosto dos trabalhos com seu substituto, Josh Klinghoffer, mas o veterano tem mais segurança no que faz e confiança o suficiente dos colegas para aparecer e até comandar as ações. A importância de Frusciante é notada quando se percebe que ele apresenta algo interessante até nas faixas menos inspiradas.

Como dito, resta aguardar pelos próximos passos do Red Hot Chili Peppers, embora sinta que um novo álbum não deve chegar tão cedo. Agora é hora do quarteto excursionar pelo mundo e sentir presencialmente o referenciado amor limitado dos fãs enquanto promove um disco que, embora não tenha o peso dos clássicos, parece exercer função vital para a continuidade do grupo.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Red Hot Chili Peppers – “Unlimited Love”

  1. Black Summer
  2. Here Ever After
  3. Aquatic Mouth Dance
  4. Not The One
  5. Poster Child
  6. The Great Apes
  7. It’s Only Natural
  8. She’s A Lover
  9. These Are The Ways
  10. Whatchu Thinkin’
  11. Bastards Of Light
  12. White Braids & Pillow Chair
  13. One Way Traffic
  14. Veronica
  15. Let ‘Em Cry
  16. The Heavy Wing
  17. Tangelo

Red Hot Chili Peppers:

  • Anthony Kiedis (vocal)
  • Flea (baixo, piano na faixa 4, trompete nas faixas 3 e 15)
  • John Frusciante (guitarra, backing vocals, co-vocal na faixa 16, sintetizadores, mellotron)
  • Chad Smith (bateria, percussão)

Músicos adicionais:

  • Matt Rollings (piano nas faixas 1 e 6)
  • Nate Walcott (trompete na faixa 3)
  • Mauro Refosco (percussão nas faixas 3, 8, 10, 11 e 13)
  • Aura T-09 (backing vocals na faixa 4)
  • Cory Henry (órgão nas faixas 5 e 15)
  • Lenny Castro (percussão na faixa 5)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

3 COMENTÁRIOS

  1. Cara, muito boa a resenha. Melhor (disparado) pelo que li na indústria… Concordo com seu ponto sobre a avaliação em geral do unlimited love, embora tenha uma visão mais negativa, como nas músicas que você citou que a guitarra de Frusciante salvaram as músicas, e que pra mim, na verdade, não foram impactantes também ao ponto de salvar a música como um todo (em outras palavras, trechos de guitarra pouco impactantes a ponto de ter saco pra ouvir a música inteira). Por curiosidade, que nota vc avaliaria pro album?

  2. A sua critica foi boa. Você foi menos emotivo que um fã comum como eu. Eu particularmente achei o album ruim. Considero o trabalho do Josh no Gateway muito melhor do que do John nesse disco. O album não tem nada fora da curva. Considero que até o i´m with you foi menos pior.

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