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A história do Enigma de Publius envolvendo “The Division Bell”, do Pink Floyd

Durante meses, fãs da banda quebraram a cabeça tentando solucionar o enigma que até hoje permanece sem solução

Quando o Pink Floyd lançou o álbum “The Division Bell”, em 1994, os fãs puderam ter uma experiência que hoje até é comum, mas era inédita na época: a presença de um enigma (“puzzle”) relacionado ao disco. Colocando muitos admiradores da banda para pensar, o chamado “Enigma de Publius” colocou muitos fãs do grupo para pensar naquela época e permanece sem resposta definitiva até hoje.

Naqueles tempos, a internet estava em seus primórdios. Países como o Brasil mal tinham acesso à rede mundial de computadores, enquanto que nos Estados Unidos surgiam os primeiros fóruns de discussões – ainda básicos, baseados apenas em texto.

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Foi em um desses espaços de debate, dedicado a fãs do Pink Floyd, onde tudo começou. A página podia ser acessada através do endereço alt.music.pink-floyd, na antiga Usenet.

Quem é Publius?

Através de um servidor anônimo, um usuário que assinava como Publius começou a mandar mensagens dizendo que “The Division Bell” não era um álbum como os outros do Pink Floyd. Havia, segundo ele, uma mensagem secreta que deveria ser desvendada, o que renderia um prêmio a quem conseguisse.

O misterioso personagem se apresentava como um guia para o enigma. O sujeito incitava os fãs a discutirem as possibilidades e procurarem nas músicas e encartes dos álbuns da banda por alguma pista.

Com o tempo, alguns começaram a duvidar da veracidade, suspeitando que aquele seria o “tataravô” do “troll” de internet. Foi aí que Publius precisou provar que era autêntico, ao deixar uma mensagem com o seguinte conteúdo:

“Segunda-feira, 18 de julho
East Rutherford, Nova Jersey (Estados Unidos)
Aproximadamente 22h30

Luzes brancas piscando.

Há um enigma.

Confie.”

As informações apontavam para um show concreto do Pink Floyd onde, em alguns momentos, as luzes de led do palco exibiram as palavras “enigma” e “Publius”. Era a confirmação de qhttps://igormiranda.com.br/2022/03/pink-floyd-the-dark-side-of-the-moon-conceito/ue o misterioso guia era, de fato, alguém ligado à banda.

Com o tempo, mais referências foram aparecendo, como a palavra “Publius” novamente, só que no encarte do relançamento de “A Momentary Lapse of Reason”, álbum que saiu originalmente em 1987, mas ganhou nova versão também em 1994.

O próprio encarte de “The Division Bell” trazia referências a um enigma, o que também ocorreu em outros lançamentos da banda nos anos seguintes. Durante o show que rendeu o DVD “Pulse” (1995), também são exibidos os termos “Enigma Publius”.

Em 1996, o fórum onde tudo começou deixou de existir. Dessa forma, o tal mistério nunca foi solucionado oficialmente, embora diversas interpretações existam.

Uma possível interpretação

O tema central das músicas de “The Division Bell” é a falta de comunicação entre os seres humanos e os problemas que isso acarreta. Mais especificamente, o álbum pode se referir a um problema comunicacional entre humanidade e divindade – o que faz muito sentido, já que no mesmo ano de lançamento do disco, o vocalista e guitarrista David Gilmour se casou com Polly Samson e se converteu ao cristianismo.

Analisando as letras, há citações discretas ao Juízo Final citado na Bíblia, bem como o retorno de Jesus Cristo. Entre outras referências, a mais sutil e ao mesmo tempo óbvia de todas está na própria capa do disco: em meio às esculturas de metal que representam um rosto dividido, está a Catedral de Ely, em Cambridge, Inglaterra. Houve histórias de pessoas que escavaram o terreno da catedral em busca de pistas – e nada encontraram.

É possível que o Enigma de Publius, ainda que incompleto, contasse com tal temática religiosa como fim. O prêmio para quem o descobrisse não seria nada palpável, mas sim algum tipo de iluminação espiritual, um “despertar”.

Integrantes do Pink Floyd já falaram sobre o assunto – e a resposta deles é bem menos empolgante do que todos imaginam.

Um “agente secreto” com o Pink Floyd?

Em 2005, o baterista Nick Mason comentou sobre o tema durante um evento de lançamento de sua autobiografia. Ele garantiu que a ideia partiu da gravadora EMI e que Publius era um funcionário do selo que já havia trabalhado para o governo dos Estados Unidos, estando habituado a lidar com puzzles e enigmas no geral.

“Foi uma estratégia feita pela EMI. Eles tinham um cara trabalhando para eles que adorava puzzles. Ele trabalhou para a administração de Ronald Reagan. Seu trabalho lá era ir em reuniões com o presidente e quando Reagan dizia: ‘vamos bombardear essas pessoas’, ele falava: ‘essa não é uma boa ideia, senhor!’. Ele estava trabalhando para a EMI e sugeriu que um puzzle fosse criado e pudesse ser acompanhado na web. O prêmio nunca foi entregue. Até hoje permanece sem solução.”

A declaração de Mason bate com informações esparsas dadas por David Gilmour alguns anos antes. Ou seja: a intenção de criar um enigma realmente existiu, ainda que o processo tenha sido atropelado com a falta de solução oficial.

Na ocasião, o baterista ainda declarou que o prêmio era algo como árvores plantadas em algum lugar. Mas há quem acredite que exista bem mais por trás do Enigma de Publius e muita gente ainda tenta resolvê-lo.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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