O Iron Maiden passou por um renascimento no fim dos anos 90, com os retornos do vocalista Bruce Dickinson e do guitarrista Adrian Smith – ambos estavam fora desde o início da década. Para coroar o bom momento, a banda ainda realizou um dos shows mais lembrados de sua história no Rock in Rio de 2001, reafirmando o caso de amor com o Brasil.
A nova formação do Maiden, agora com seis integrantes (Janick Gers não foi dispensado para a volta de Adrian), fez uma turnê ainda em 1999 para divulgar o game e a coletânea “Ed Hunter”. Na sequência, entraram em estúdio e gravaram o álbum “Brave New World” (2000), cuja tour contou justamente com o Rock in Rio em sua última parada.
Iron Maiden, Rock in Rio e o Brasil
A relação entre a banda do baixista Steve Harris e o Brasil já era antiga e datava do primeiro Rock in Rio, realizado em 1985. Na ocasião, o grupo divulgava “Powerslave” (1984) em sua gigantesca World Slavery Tour e fez um único show no festival, para 350 mil pessoas – maior público de sua história. Era o suficiente para começar uma história de amor.
O Maiden voltou em 1992, divulgando o álbum “Fear of the Dark”, e mais duas vezes com o vocalista Blaze Bayley, nas turnês de “The X Factor” (1995) e “Virtual XI” (1998). Nesta última ocasião, a permanência do substituto de Bruce Dickinson na formação estava quase insustentável – não à toa, os fãs não ficaram satisfeitos com as performances abaixo da média.
O Rock in Rio de 2001 era a oportunidade perfeita para tirar a má impressão. E assim foi feito.
“Scream for me, Brazil!”
Cerca de 150 mil fãs se reuniram na Cidade do Rock para assistir ao Iron Maiden em 2001. Um número ligeiramente distante dos 350 mil de 1985, mas ainda gigantesco. O show do início do século 21 tornou-se, inclusive, a segunda maior plateia da história do grupo.
A estrutura não era menos grandiosa. Além dos recursos visuais típicos do grupo, o palco principal do evento foi equipado com 18 câmeras próprias que filmaram a apresentação para um DVD ao vivo.
Entre os recursos visuais, estavam uma boa dose de pirotecnica e duas versões de Eddie: a de soldado e a adaptação “The Wicker Man”, que vinha por trás do palco em chamas, com “virgens” dentro puxando Bruce Dickinson para o sacrifício, durante a música “Iron Maiden”.
O sexteto britânico estava empolgado para divulgar “Brave New World”. No repertório da turnê, seis músicas do novo álbum marcavam presença. Todas elas foram bem recebidas. Além disso, clássicos indispensáveis como “The Number of the Beast”, “Run to the Hills” e “The Trooper” continuavam presentes, além de duas bem-vindas faixas da era Blaze Bayley: “Sign of the Cross” e “The Clansman”.
Mas tudo ficava ainda melhor pelo fato de a banda estar em ótima forma. Cada integrante parecia vivenciar seu auge técnico, misturando a experiência dos anos de estrada e a energia de quem voltava a se apresentar em lugares lotados.
O empresário do Maiden, Rod Smallwood, disse na época que aquele foi o melhor show do grupo que ele presenciou. Exagero? Pelo que todos testemunhamos nas gravações, pode ter sido verdade.
A quase participação de Jimmy Page
O show poderia ter se tornado ainda mais histórico se uma participação especial rolasse naquela ocasião: a de Jimmy Page. O lendário guitarrista do Led Zeppelin não se apresentou no Rock in Rio 2001, mas estava no Brasil naquela época. Ou melhor: ele morou no país por algum tempo e ainda envolveu-se com projetos sociais em comunidades carentes, logo após se casar com Jimena Gómez, uma americana radicada no Brasil.
Antes do show, Jimmy chegou a participar de uma coletiva ao lado do Iron Maiden, onde autografou junto com os músicos uma guitarra que seria leiloada para a caridade. Diante dos jornalistas, ele garantiu que subiria ao palco com a banda de Steve Harris, o que causou ainda mais alvoroço para a apresentação no dia seguinte.
Infelizmente, ele não apareceu. O músico do Led Zeppelin garante que assistiu ao show, mas conforme é contado no livro “Jimmy Page no Brasil”, escrito por Leandro Souto Maior, o guitarrista foi acometido por severas dores nas costas que o impediram de subir ao palco.
Álbum e DVD
Como já citado, a apresentação foi gravada por 18 câmeras da mais alta tecnologia da época. A ideia, claro, era lançar o material em vídeo para o público, além da versão em áudio.
Imagens também foram produzidas de outros shows pela América do Sul, seja do ponto de vista das guitarras de Janick Gers e Adrian Smith ou pelo ombro e microfone de Bruce Dickinson. Um desses equipamentos, inclusive, estava bloqueando uma escada por onde o vocalista subia – e foi deliberadamente quebrado por ele.
O diretor americano Dean Karr, que já havia dirigido o clipe de “The Wicker Man”, foi contratado para fazer a edição das imagens junto com o produtor Kevin Shirley, parceiro de longa data do Iron Maiden. Pela primeira vez em muito tempo, Steve Harris se ausentaria da edição de um vídeo do grupo.
Mas ele não conseguiu ficar totalmente fora. Harris ficou profundamente incomodado com alguns takes utilizados, que incluíam, segundo ele, cenas desfocadas e apenas imagens das luzes do palco. Foi aí que ele partiu para um “intensivão” de estudos sobre edição de vídeo e assumiu as rédeas do projeto, como já havia feito antes em “Maiden England” (1988) e “Live at Donington” (1992).
Isso atrasou o lançamento em alguns meses, tanto que a versão em áudio chegou a público dia 25 de março de 2002, enquanto a edição em vídeo só foi disponibilizada em 10 de junho daquele ano.
Ainda assim, a espera valeu a pena: o DVD “Rock in Rio” tem boa qualidade, apesar da grande quantidade de cortes repentinos. Steve jura que as imagens de duas das 18 câmeras foram perdidas, o que dificultou a edição, principalmente em relação a Dave Murray e Adrian Smith. Há ainda entrevistas e imagens de bastidores como extras do material.
E a história do Iron Maiden com o Brasil e também com o Rock in Rio estava longe de acabar. A banda voltou a tocar no festival em 2013 e 2019, além de estar confirmada para 2022. Ao país como um todo, o grupo retornou outras 7 vezes, em turnês cada vez maiores e mais abrangentes.
Iron Maiden – “Rock in Rio”
- Show realizado em 19 de janeiro de 2001
- Lançamento em áudio: 25 de março de 2002
- Lançamento em vídeo: 10 de junho de 2002
Repertório do formato físico (o mesmo do show):
Disco 1
- Arthur’s Farewell (intro)
- The Wicker Man
- Ghost of the Navigator
- Brave New World
- Wrathchild”
- 2 Minutes to Midnight
- Blood Brothers
- Sign of the Cross
- The Mercenary
- The Trooper
Disco 2
- Dream of Mirrors
- The Clansman
- The Evil That Men Do
- Fear of the Dark
- Iron Maiden
- The Number of the Beast
- Hallowed Be Thy Name
- Sanctuary
- Run to the Hills
Músicos:
- Bruce Dickinson (vocal)
- Dave Murray (guitarra)
- Adrian Smith (guitarra)
- Janick Gers (guitarra)
- Steve Harris (baixo)
- Nicko McBrain (bateria)
Músico adicional
- Michael Kenney (teclados)
* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.
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