Na edição de julho de 2000 da revista “Playboy”, o crítico Charles M. Young elogiou “Vulgar Display of Power”, do Pantera, dizendo que ele “servira de modelo para o metal noventista que estava por vir: Limp Bizkit, Korn, Tool e todos os outros que dispensam quase inteiramente a melodia”. Faz sentido: Jonathan Davis, do Korn, atribui a “Vulgar” o crédito por fazê-lo gostar de heavy metal.
Lançado em 25 de fevereiro de 1992, o sexto álbum de estúdio do Pantera foi nomeado a partir de uma fala do filme “O Exorcista” (1973) e estreou na 42ª posição da Billboard 200. Não é errado afirmar que esse disco pode ter sido o auge criativo do grupo.
Perdeu, Metallica!
Os quase duzentos shows da turnê de “Cowboys from Hell” (1990) mantiveram o Pantera na estrada por quase dois anos. A única pausa que fizeram não foi bem para descansar: no verão de 1991, antes de partirem com AC/DC, Metallica e The Black Crowes para um show histórico na Rússia — lançado em 1992 com o título “For Those About to Rock: Monsters in Moscow” —, Phil Anselmo (vocais), Rex Brown (baixo) e os irmãos Dimebag Darrell (guitarra) e Vinnie Paul (bateria) passaram dois meses compondo e gravando sem muito esforço o sucessor “Vulgar Display of Power”.
A capa — um punho acertando violentamente o queixo de um homem — era a representação visual perfeita de um som cujo propósito era preencher um vazio de mercado. Ao lançar o altamente comercial “Black Album”, sem querer, o Metallica deixou vago o trono da música pesada no começo dos anos 1990. “Vulgar Display of Power” provou que o Pantera era a banda certa para vestir a coroa.
Em sua autobiografia “Verdade Oficial: Nos Bastidores do Pantera” (Edições Ideal, 2014), Rex Brown conta:
“Achamos (‘Black Album’) péssimo, é claro; não entendíamos a sonoridade comercial de jeito nenhum e isso nos deixou ainda mais determinados a fazer o novo disco mais pesado do que qualquer coisa que havíamos tentado fazer antes.”
Sobras de “Cowboys from Hell” se tornaram parte de “Regular People” e “Hollow”, mas as outras nove faixas do repertório eram material novo. Nas palavras do baixista:
“Todas as músicas surgiam com um riff do Darrell ou (de) algo que Vinnie havia criado, uma batida ou uma levada, ou (de) uma ideia minha e do Phil […] Pode parecer clichê, mas havia algo de mágico no ar no momento em que estávamos trabalhando no ‘Vulgar’. Nunca mais tocamos ou nos demos tão bem quanto naquela época.”
“Onde está a ‘Mr. Sandman’?”
Ao ouvir “Vulgar Display of Power”, a gravadora Atco enviou um representante para perguntar à banda onde estava a “Mr. Sandman”; ou seja, sua resposta ao grande sucesso do Metallica, “Enter Sandman”. Obviamente, os executivos não conseguiram o que queriam, mas tampouco tiveram motivo para se preocupar. Por mais que “Vulgar” não apresentasse nada capaz de estourar na mesma proporção que “Enter Sandman”, duas músicas — “Walk” e “This Love” — chegaram perto o suficiente.
Brown relata que quando “Walk” estava sendo composta, os músicos olharam uns para os outros, espantados, como se dissessem “meu Deus, como fizemos isso?”. A letra, escrita por Anselmo, é uma resposta àqueles que, segundo ele, passaram a tratar a banda diferente, como se a fama lhes tivesse subido à cabeça. Em entrevista à Kerrang!, como de costume, não teve papas na língua:
“Escrevi a letra quando o Pantera começou a receber muita atenção (da mídia). Voltei da turnê (de ‘Cowboys from Hell’) e meus amigos pensaram que eu tinha mudado como pessoa, me tornado um desses astros do rock esnobes. ‘Walk’ foi a minha maneira de mandá-los enfiar essa opinião no c*.”
Já em “This Love”, o alvo de Phil Anselmo foram as “mulheres pegajosas” — aquelas que se “colam” a um homem, tentando forçar um relacionamento sério —, como definiu em entrevista ao autor Greg Prato:
“(‘This Love’) não é necessariamente autobiográfica. Era apenas uma mensagem para algumas mulheres dessa época. Eu era muito jovem quando escrevi essa letra e pensava: ‘não vamos fazer desse relacionamento mais sério do que o necessário’.”
No clipe de “This Love”, Anselmo pode ser visto vestindo uma camiseta do Down, sua banda paralela que aos poucos se tornaria sua prioridade.
Lados B responsa
“‘Mouth for War’ tem um riff quebrado para lá de esquisito”, disse Robb Flynn, do Machine Head, ao MTV.com. “Na primeira vez que o ouvi, fiquei de queixo caído”.
A partir dessa música, que abre “Vulgar Display of Power”, o disco se expande e promove uma mistura de estilos que vai da cromática “A New Level” — cujo solo de Dimebag Darrell foi eleito o quinto maior com efeito wah-wah da história pela revista Guitar World em 2015 — a “Fucking Hostile”, que o biógrafo do guitarrista, Zac Crain, define como “metal-punk-atômico”.
Fora da raia dos singles e dos sons mais conhecidos, “Live in a Hole” chama a atenção por antecipar nas entrelinhas parte dos problemas que levariam à dissolução do grupo anos mais tarde: a sociopatia, agravada pelo vício em drogas, do vocalista Phil Anselmo. “Amigos são poucos e distantes entre si”, diz uma das estrofes da letra.
Significativo, não obstante os números
Ainda que “Vulgar Display of Power” não tenha sido o trabalho mais bem-sucedido do Pantera — embora tenha rendido à banda seu primeiro disco de ouro —, foi o mais significativo por conta da época em que foi lançado. Em seu livro, Brown explica:
“O heavy metal estava mudando em virtude do movimento grunge, então a maioria das bandas ou modificava seu som para se encaixar nessa tendência ou corria o risco de ser forçada a voltar para o underground e a tocar em clubes e casas noturnas menores. O Pantera era a exceção no sentido de que prosperamos nesses tempos aparentemente difíceis para o metal, tocando música mais pesada do que boa parte das pessoas já tinha ouvido.”
Passados dois anos, o sucessor de “Vulgar”, o infinitamente mais pesado e agressivo “Far Beyond Driven” atingiria o primeiro lugar nas paradas e de imediato se tornaria o maior êxito comercial do grupo.
Pantera — “Vulgar Display of Power”
Lançado em 25 de fevereiro de 1992.
- Mouth for War
- A New Level
- Walk
- Fucking Hostile
- This Love
- Rise
- No Good (Attack the Radical)
- Live in a Hole
- Regular People (Conceit)
- By Demons Be Driven
- Hollow
Músicos:
- Phil Anselmo (vocal)
- Diamond Darrell (guitarra)
- Rex Brown (baixo)
- Vinnie Paul (bateria)
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