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Asfixiado pelo vômito ou overdose? A trágica e misteriosa morte de Bon Scott, do AC/DC

Existe mais de uma versão sobre as últimas horas do vocalista do AC/DC e elas são um tanto diferentes, abrindo margem para possibilidades

A história é trágica: Bon Scott, vocalista do AC/DC, foi encontrado morto dentro de um carro em Londres, na madrugada de 19 de fevereiro de 1980. Ele tinha 33 anos. A causa oficial foi a asfixia pelo próprio vômito após mais uma habitual noite de bebedeira.

Mas a verdade é que mesmo tantas décadas depois, o falecimento de um dos frontmen mais elogiados do rock permanece com questões em aberto.

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As últimas horas de Bon Scott – oficialmente

No início de 1980, Bon Scott vivia em Londres e começava a trabalhar em ideias que dariam origem ao próximo álbum do AC/DC. No livro “Highway to Hell: The Life & Times of AC/DC Legend Bon Scott”, biografia escrita por Clinton Walker e tida a como a versão oficial dos fatos, a última pessoa que esteve com o vocalista foi um homem chamado Alistair Kinnear, amigo de Margart “Silver” Smith, conhecida traficante que havia sido namorada de Bon algum tempo antes. Os dois saíram juntos na noite de 18 de fevereiro.

Em entrevista ao jornal Evening Standard, apenas dois dias depois da morte, o próprio Alistair Kinnear contou como o dia terminou: com Bon desacordado em seu carro, a ponto de ninguém conseguir levá-lo ao flat onde Alistair vivia, no número 67 da Overhill Road.

“Eu não conseguia movê-lo, então eu o cobri com um cobertor e deixei um bilhete para ele dizendo como subir até o meu flat caso acordasse. Fui dormir e só na noite seguinte voltei para o carro. Sabia que havia algo errado.”

Dentro do Renault 5, o cantor jazia morto, sendo encontrado por Kinnear o encontrou já em 19 de fevereiro, somente à noite, supostamente às 19h45. A causa oficial do óbito foi dada como intoxicação alcoólica – em suma, ele vomitou enquanto estava desacordado e acabou sufocado pelo próprio vômito.

Tudo estaria resolvido se não fosse por um detalhe importante: pouco tempo depois, Alistair Kinnear simplesmente desapareceu. Seu flat foi revirado, objetos foram roubados e desde então ninguém nunca mais ouviu falar no homem, cujo nome provavelmente era falso.

A versão dos membros do UFO

Àquela altura, os membros do AC/DC eram muito próximos dos integrantes do UFO, outra banda clássica dos anos 1970. Há indícios de que em sua noite junto de Kinnear, Bon Scott planejava encontrar o baixista Pete Way e o guitarrista Paul Chapman em um bar.

Em 2004, a revista Classic Rock conduziu uma longa apuração sobre os pormenores do ocorrido, inclusive conversando diretamente com Way e Chapman. Sabe-se que os membros do UFO usavam heroína naquela época, o que compromete um pouco as lembranças, mas é curioso o fato de que a visão deles da história contraria dados da biografia do vocalista.

Pete não afirma, mas dá a entender que Bon pode ter usado heroína, além do álcool, na noite em que morreu – o que teria resultado em uma overdose. O baixista do UFO relembrou como ficou sabendo da morte do frontman do AC/DC e chama a atenção um detalhe importante em sua declaração.

“Recebi uma ligação, Paul Chapman me ligou. Ele disse: ‘Pete, Bon morreu. As pessoas – a polícia, ou quem quer que seja – precisam contar para a banda’. Eu tinha os números de Angus e Malcolm (Young, guitarristas do AC/DC). Então eu achei que Malcolm, e não Angus, era a pessoa para quem contar primeiro. Então dei o número de Malcolm a Paul Chapman. Me dava bem com eles, então eu tinha os números de onde eles estavam em Londres. E eu realmente não queria dar o número para Chapman, porque era de manhã cedo quando ele me ligou.”

O problema aqui são os horários: como Paul Chapman sabia da morte de Scott no início da manhã do dia 19 de fevereiro se Alistair Kinnear só descobriu o corpo do vocalista no carro às 19h45 da noite? De qualquer forma, Paul ainda adiciona mais mistérios à história, incluindo um novo personagem: Joe King, que estaria morando em Londres no mesmo apartamento de Bon Scott.

No relato à Classic Rock, o guitarrista do UFO diz que na noite do dia 18, King e Scott foram até sua casa. O vocalista do AC/DC saiu para buscar drogas e acabou nunca voltando. Chapman e King ficaram lá até as 7h da manhã do dia seguinte, quando a misteriosa figura foi embora, mas ligou para o músico pouco tempo depois.

“Eu não tinha muitos móveis, havia colchões no chão e eu dormi neles. Às 10 ou 11 da manhã, toca o telefone. É Joe. Ele diz: ‘você está sentado?’ e eu disse ‘estou deitado, como você me deixou’. Ele disse ‘tenho más notícias. Bon está morto’.”

Chapman diz não fazer ideia de como Scott foi parar no local onde foi encontrado morto e também não se lembra de Alistair Kinnear. Por outro lado, ninguém sabe quem é Joe King. O músico do UFO acredita que o vocalista do AC/DC não havia usado heroína, mas tanto ele quanto Pete Way não garantem nada, já que eles próprios estavam sob efeito da droga.

Possível overdose e contribuição em “Back in Black”

As versões de Pete Way e Paul Chapman, bem como de outras pessoas próximas de Bon Scott, ajudam a traçar uma versão diferente dos últimos dias da vida do vocalista no livro “Bon: The Last Highway”, escrito por Jesse Fink. Lá, a versão oficial é oferecida como uma possibilidade, mas não uma certeza.

Apurações feitas por Fink levam a crer que Bon Scott estava fazendo uso de heroína e sua morte foi o resultado de uma overdose acidental, sem envolver bebedeira ou asfixia pelo próprio vômito. Vale destacar que esta não é a versão oficial considerada pelas autoridades londrinas.

Além disso, o autor acredita que o falecido vocalista do AC/DC pode ter contribuído para o futuro sucesso da banda mais do que se imagina.

Não é segredo que Bon trabalhava em novas músicas para a banda quando morreu. Segundo Fink, algumas dessas contribuições podem ter sido usadas em “Back in Black”, álbum já gravado com seu substituto, Brian Johnson. O hit “You Shook Me All Night Long”, primeiro single do álbum, pode ser um grande exemplo disso.

Jesse Fink conversou com pessoas próximas a Scott, incluindo sua ex-namorada, Margaret “Silver” Smith, que afirma ter sido uma das inspirações por trás da letra. Muitas pessoas citam trechos que teriam surgido em conversas com o vocalista, indicando que ele seria o autor de pelo menos uma parte da letra de uma das músicas mais famosas do AC/DC, já depois de sua morte.

Fato é que aquele disco foi um divisor de águas na carreira da banda australiana. “Back in Black” foi lançado no mesmo ano do falecimento e potencializou a fama do AC/DC, sendo hoje um dos álbuns mais vendidos da história da música – estima-se que 50 milhões de cópias do trabalho tenham sido comercializadas até hoje.

Bon Scott podia não estar lá para ver isso acontecer, mas pensar que ele pode ter contribuído com o trabalho de alguma forma é algo que mostra como a banda dos irmãos Young sempre estará ligada ao vocalista de seus primeiros discos.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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Existe mais de uma versão sobre as últimas horas do vocalista do AC/DC e elas são um tanto diferentes, abrindo margem para possibilidades

A história é trágica: Bon Scott, vocalista do AC/DC, foi encontrado morto dentro de um carro em Londres, na madrugada de 19 de fevereiro de 1980. Ele tinha 33 anos. A causa oficial foi a asfixia pelo próprio vômito após mais uma habitual noite de bebedeira.

Mas a verdade é que mesmo tantas décadas depois, o falecimento de um dos frontmen mais elogiados do rock permanece com questões em aberto.

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As últimas horas de Bon Scott – oficialmente

No início de 1980, Bon Scott vivia em Londres e começava a trabalhar em ideias que dariam origem ao próximo álbum do AC/DC. No livro “Highway to Hell: The Life & Times of AC/DC Legend Bon Scott”, biografia escrita por Clinton Walker e tida a como a versão oficial dos fatos, a última pessoa que esteve com o vocalista foi um homem chamado Alistair Kinnear, amigo de Margart “Silver” Smith, conhecida traficante que havia sido namorada de Bon algum tempo antes. Os dois saíram juntos na noite de 18 de fevereiro.

Em entrevista ao jornal Evening Standard, apenas dois dias depois da morte, o próprio Alistair Kinnear contou como o dia terminou: com Bon desacordado em seu carro, a ponto de ninguém conseguir levá-lo ao flat onde Alistair vivia, no número 67 da Overhill Road.

“Eu não conseguia movê-lo, então eu o cobri com um cobertor e deixei um bilhete para ele dizendo como subir até o meu flat caso acordasse. Fui dormir e só na noite seguinte voltei para o carro. Sabia que havia algo errado.”

Dentro do Renault 5, o cantor jazia morto, sendo encontrado por Kinnear o encontrou já em 19 de fevereiro, somente à noite, supostamente às 19h45. A causa oficial do óbito foi dada como intoxicação alcoólica – em suma, ele vomitou enquanto estava desacordado e acabou sufocado pelo próprio vômito.

Tudo estaria resolvido se não fosse por um detalhe importante: pouco tempo depois, Alistair Kinnear simplesmente desapareceu. Seu flat foi revirado, objetos foram roubados e desde então ninguém nunca mais ouviu falar no homem, cujo nome provavelmente era falso.

A versão dos membros do UFO

Àquela altura, os membros do AC/DC eram muito próximos dos integrantes do UFO, outra banda clássica dos anos 1970. Há indícios de que em sua noite junto de Kinnear, Bon Scott planejava encontrar o baixista Pete Way e o guitarrista Paul Chapman em um bar.

Em 2004, a revista Classic Rock conduziu uma longa apuração sobre os pormenores do ocorrido, inclusive conversando diretamente com Way e Chapman. Sabe-se que os membros do UFO usavam heroína naquela época, o que compromete um pouco as lembranças, mas é curioso o fato de que a visão deles da história contraria dados da biografia do vocalista.

Pete não afirma, mas dá a entender que Bon pode ter usado heroína, além do álcool, na noite em que morreu – o que teria resultado em uma overdose. O baixista do UFO relembrou como ficou sabendo da morte do frontman do AC/DC e chama a atenção um detalhe importante em sua declaração.

“Recebi uma ligação, Paul Chapman me ligou. Ele disse: ‘Pete, Bon morreu. As pessoas – a polícia, ou quem quer que seja – precisam contar para a banda’. Eu tinha os números de Angus e Malcolm (Young, guitarristas do AC/DC). Então eu achei que Malcolm, e não Angus, era a pessoa para quem contar primeiro. Então dei o número de Malcolm a Paul Chapman. Me dava bem com eles, então eu tinha os números de onde eles estavam em Londres. E eu realmente não queria dar o número para Chapman, porque era de manhã cedo quando ele me ligou.”

O problema aqui são os horários: como Paul Chapman sabia da morte de Scott no início da manhã do dia 19 de fevereiro se Alistair Kinnear só descobriu o corpo do vocalista no carro às 19h45 da noite? De qualquer forma, Paul ainda adiciona mais mistérios à história, incluindo um novo personagem: Joe King, que estaria morando em Londres no mesmo apartamento de Bon Scott.

No relato à Classic Rock, o guitarrista do UFO diz que na noite do dia 18, King e Scott foram até sua casa. O vocalista do AC/DC saiu para buscar drogas e acabou nunca voltando. Chapman e King ficaram lá até as 7h da manhã do dia seguinte, quando a misteriosa figura foi embora, mas ligou para o músico pouco tempo depois.

“Eu não tinha muitos móveis, havia colchões no chão e eu dormi neles. Às 10 ou 11 da manhã, toca o telefone. É Joe. Ele diz: ‘você está sentado?’ e eu disse ‘estou deitado, como você me deixou’. Ele disse ‘tenho más notícias. Bon está morto’.”

Chapman diz não fazer ideia de como Scott foi parar no local onde foi encontrado morto e também não se lembra de Alistair Kinnear. Por outro lado, ninguém sabe quem é Joe King. O músico do UFO acredita que o vocalista do AC/DC não havia usado heroína, mas tanto ele quanto Pete Way não garantem nada, já que eles próprios estavam sob efeito da droga.

Possível overdose e contribuição em “Back in Black”

As versões de Pete Way e Paul Chapman, bem como de outras pessoas próximas de Bon Scott, ajudam a traçar uma versão diferente dos últimos dias da vida do vocalista no livro “Bon: The Last Highway”, escrito por Jesse Fink. Lá, a versão oficial é oferecida como uma possibilidade, mas não uma certeza.

Apurações feitas por Fink levam a crer que Bon Scott estava fazendo uso de heroína e sua morte foi o resultado de uma overdose acidental, sem envolver bebedeira ou asfixia pelo próprio vômito. Vale destacar que esta não é a versão oficial considerada pelas autoridades londrinas.

Além disso, o autor acredita que o falecido vocalista do AC/DC pode ter contribuído para o futuro sucesso da banda mais do que se imagina.

Não é segredo que Bon trabalhava em novas músicas para a banda quando morreu. Segundo Fink, algumas dessas contribuições podem ter sido usadas em “Back in Black”, álbum já gravado com seu substituto, Brian Johnson. O hit “You Shook Me All Night Long”, primeiro single do álbum, pode ser um grande exemplo disso.

Jesse Fink conversou com pessoas próximas a Scott, incluindo sua ex-namorada, Margaret “Silver” Smith, que afirma ter sido uma das inspirações por trás da letra. Muitas pessoas citam trechos que teriam surgido em conversas com o vocalista, indicando que ele seria o autor de pelo menos uma parte da letra de uma das músicas mais famosas do AC/DC, já depois de sua morte.

Fato é que aquele disco foi um divisor de águas na carreira da banda australiana. “Back in Black” foi lançado no mesmo ano do falecimento e potencializou a fama do AC/DC, sendo hoje um dos álbuns mais vendidos da história da música – estima-se que 50 milhões de cópias do trabalho tenham sido comercializadas até hoje.

Bon Scott podia não estar lá para ver isso acontecer, mas pensar que ele pode ter contribuído com o trabalho de alguma forma é algo que mostra como a banda dos irmãos Young sempre estará ligada ao vocalista de seus primeiros discos.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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