Como os Beatles dominaram a América aparecendo no Ed Sullivan Show

Apresentação da banda no programa de TV americano bateu recorde de audiência, fez o Fab Four virar fenômeno nos Estados Unidos e influenciou inúmeras carreiras artísticas

Os Beatles eram considerados um fenômeno doméstico quando começaram a despontar. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr eram gigantes no Reino Unido e em alguns países da Europa, mas só começariam a dominar o mundo quando cruzaram o Atlântico. E a aparição do grupo no Ed Sullivan Show foi um momento decisivo não só na carreira do Fab Four, mas do rock e da música moderna.

O programa de Ed Sullivan era a atração mais famosa da TV dos Estados Unidos àquela altura. Reunia as famílias em torno da telinha sempre nas noites de domingo. Artistas como Elvis Presley, Judy Garland, Édith Piaf e Frank Sinatra passaram por lá no auge de suas carreiras, o que credenciava os Beatles a também fazerem história naquele palco – embora não tenham impressionado Jack Babb, o responsável por convidar as atrações do programa.

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Babb havia assistido dois shows da banda em Londres, em 1963, a convite de Peter Prichard, um amigo do empresário da banda, Brian Epstein. Para ele, as apresentações passaram batido. Já o próprio Ed Sullivan ficou bem interessado no grupo, só que não por causa de um show e sim por ter presenciado cerca de 1,5 mil fãs aguardando os músicos no Aeroporto de Londres no dia 31 de dezembro daquele ano.

A Beatlemania já era onipresente no Reino Unido e logo iria se espalhar. Sullivan sabia disso e fez com que Babb trouxesse a banda para seu programa.

Por um cachê de 10 mil dólares, mais os custos de passagens e hospedagens, os Beatles marcaram participações em três datas, com a primeira delas sendo em 9 de fevereiro de 1964. Seria a primeira visita do grupo aos Estados Unidos.

Chegando à América

Os Beatles chegaram em Nova York no dia 7 de fevereiro e logo houve uma pequena amostra da Beatlemania: cerca de 5 mil fãs receberam os músicos no Aeroporto Internacional John F. Kennedy, com muitos gritos e as cenas típicas de histeira da época. A banda concedeu uma entrevista coletiva à imprensa americana e dali partiu para o hotel, onde descansariam até o dia seguinte.

Em 8 de fevereiro, os Beatles conheceram o Studio 50, hoje chamado de Teatro Ed Sullivan, onde o programa era gravado. Ensaios de posicionamento de câmera foram feitos com John, Paul, Ringo e o road manager Neil Aspinall ocupando o lugar de George, enquanto o músico permanecia no hotel para se recuperar de uma faringite.

Só mais uma noite de domingo

Com tudo pronto, chegou o grande dia. Os 728 assentos do local estavam totalmente ocupados – o que não era de se espantar, já que 50 mil pessoas mostraram interesse em ingressos, superando o recorde anterior de 7 mil fãs tentando ver Elvis Presley em 1957. O Rei, inclusive, chegou a enviar um telegrama aos Beatles desejando sorte na visita aos Estados Unidos, assinado também por seu empresário, o coronel Tom Parker.

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Ed Sullivan começou o programa justamente falando do telegrama antes de apresentar o grupo, que abriu os trabalhos com as músicas “All My Loving”, “Till There Was You” e “She Loves You”. Durante a execução da segunda, a câmera focou individualmente em cada Beatle, indicando o nome e adicionando um divertido “desculpem garotas, ele é casado” ao close de John Lennon. Após um intervalo comercial e outras atrações, o quarteto fechou com “I Saw Her Standing There” e “I Want to Hold Your Hand”. Assista aqui.

A partir dali, o “estrago” já estava feito. A audiência estimada do programa foi de 73 milhões de pessoas – cerca de 2/5 da população americana daquela época, incluindo muitos futuros fãs e até artistas que seriam inspirados pelo quarteto.

As outras duas apresentações no programa, acordadas em contrato, aconteceram nas semanas seguintes, mais especificamente nos dias 16 (quase repetindo a audiência do dia 9) e 23 de fevereiro. Esta última foi gravada antes de eles entrarem ao vivo no primeiro dia. Assista aqui.

Em maio de 1964, o Ed Sullivan Show ainda exibiu uma entrevista com os Beatles e um vídeo gravado de “You Can’t Do That”.

A banda retornou ao Ed Sullivan Show no ano seguinte, com a Beatlemania já consolidada e muito mais tumultos envolvendo a movimentação da banda entre seus compromissos. Já em 1966, eles decidiram parar de se apresentar ao vivo, mas seguiram dando entrevistas e fornecendo material exclusivo para ser exibido no programa – algo que seria feito até o fim das atividades, em 1970.

O impacto da apresentação

A aparição dos Beatles no Ed Sullivan Show foi um marco na carreira da banda e na história da música. De imediato, o quarteto passou a desfrutar da fama em basicamente todo o mundo, tornando-se efetivamente o fenômeno que conhecemos hoje.

Além disso, houve também o choque cultural ao apresentar-se para uma sociedade americana bem mais conservadora, como apontou Paul McCartney em “Anthology”.

“Foi muito importante. Nós aparecemos do nada com um cabelo engraçado, parecendo marionetes ou algo assim. Foi muito influente. Eu acho que foi uma das grandes coisas que nos fez estourar – o cabelo mais do que a música, na verdade. Os pais de muita gente queriam nos apagar. Eles falaram aos filhos: ‘não se enganem, eles estão usando perucas’.”

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Muitos futuros astros presenciaram os Beatles no Ed Sullivan e fizeram questão de contar isso ao longo dos anos. Entre alguns desses nomes estão Gene Simmons (Kiss), Billy Joel, Tom Petty, Joe Perry (Aerosmith), Richie Sambora (Bon Jovi) e Nancy Wilson (Heart), que relembrou o dia da apresentação em entrevista para a Salon, em 2021.

“O raio caiu do céu e atingiu Ann (Wilson, vocalista do Heart, irmã de Nancy) e eu na primeira vez que vimos os Beatles no Ed Sullivan Show. Minha família vivia na base da marinha em Camp Pendleton, na Califórnia, e nos reunimos em volta da pequena TV em preto e branco na casa de nossa avó, em La Jolla.

A maioria das pessoas não tinha TV a cores em casa naquela época. Havia tanta ansiedade e hype sobre os Beatles que era um grande evento, como o pouso na Lua: esse foi o momento em que eu e Ann ouvimos o chamado para nos tornarmos artistas de rock. Eu tinha sete ou oito anos na época.”

A audiência daquela noite foi um recorde absoluto por muito tempo. George Harrison, em “Anthology”, disse que ficou sabendo que até a quantidade de crimes registrados na noite de 9 de fevereiro nos Estados Unidos foi menor. Ele ainda brincou que até os criminosos (e policiais) tiveram alguns minutos de descanso.

Curiosamente, a opinião dos músicos sobre a apresentação não era das melhores. Todos concordavam que o microfone de John Lennon estava baixo demais e que o equipamento de som da TV não era dos melhores. Ringo Starr afirmou que também houve problemas de posicionamento em relação às câmeras, criando uma situação complicada.

Mas deu tudo certo. Esse foi só o início da Beatlemania nos Estados Unidos, bem como o início da chamada Invasão Britânica, quando vários outros artistas do Reino Unido pegaram carona no fenômeno e pegaram destaque do outro lado do Atlântico.

Curiosamente, a última turnê da banda aconteceria em solo americano, no ano de 1966, apenas dois anos depois do Ed Sullivan Show – o que, claro, não encerrou o fanatismo dos ianques pelo Fab Four de Liverpool.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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