As principais empreitadas musicais de Adrian Smith fora do Iron Maiden

Guitarrista começou no hard rock e, sempre que pôde, revisitou o estilo em seus projetos paralelos

Famoso por ser guitarrista no Iron Maiden, Adrian Smith se juntou à banda em novembro de 1980, substituindo Dennis Stratton a tempo de compor e gravar “Killers” (1981). Mas sua carreira na música começou bem antes, em estilos que volta e meia viriam à tona em empreitadas futuras.

Adrian Frederick Smith nasceu no dia 27 de fevereiro de 1957 no bairro londrino de Hackney. Caçula de três filhos, gostava de futebol na infância. Ao ingressar na música, perdeu o interesse pelo esporte. Tinha 15 anos quando comprou seu primeiro LP: “Machine Head”, do Deep Purple.

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Foi numa ida a uma loja de discos local que Adrian conheceu o guitarrista Dave Murray, responsável por fazê-lo querer aprender a tocar o instrumento. Ao biógrafo do Iron Maiden, Mick Wall, para o livro “Run to the Hills: A Biografia Autorizada” (Generale, 2014), ele conta:

“Dave era a única pessoa que gostava do mesmo tipo de som que eu. Sempre que levava sua guitarra para a escola costumava ficar rodeado de meninas. Dava para ver que ter uma guitarra, desde aquela época, trazia uma certa vantagem. As garotas reparavam em você.”

A fim de começar sua carreira musical o quanto antes, Adrian largou a escola aos 16 anos. “Queria ser um astro do rock”, diz ele. Assim que parou de estudar, montou sua primeira banda, Evil Ways (com Dave), e não parou mais.

Urchin

Embora como Dave curtisse Deep Purple e Black Sabbath, Adrian preferia coisas que achava mais simples de tocar, como Thin Lizzy e Free — era fã confesso do guitarrista Paul Kossoff (1950-1976). Em razão disso, o Urchin, não obstante o rótulo de pioneiro da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), estava muito mais alinhado ao hard rock.

A estreia em disco do grupo ocorreu em 13 de maio de 1977 com o compacto “Black Leather Fantasy” / “Rock and Roll Woman”. O futuro pareceu tão promissor que Smith recusou o primeiro convite feito pelo baixista Steve Harris para se juntar ao Iron Maiden.

Não tardou, porém, até que ele visse decolar a banda para a qual disse “não” enquanto a sua própria amargava saídas de integrantes, mudanças de estilo e desinteresse geral como sinais de que o fim estava próximo. No fim de 1980, o Urchin acabou, e foi questão de tempo até os laços de amizade falarem mais alto e Adrian reeditar a dupla com seu velho amigo Dave no Maiden.

Em 2020, o selo Classic Metal Records lançou com exclusividade no Brasil o box set “Anthology”, que inclui dezoito registros dos anos derradeiros do grupo, incluindo faixas até então somente disponíveis em LP ou há quase uma década sem ver a luz do dia em CD.

A.S.A.P.

Quando o Iron Maiden fez uma pausa após a turnê do álbum “Seventh Son of a Seventh Son” (1988), Adrian, que até então tendia a descartar ideias de músicas que não fossem funcionar para a banda, resolveu reuni-las e, com a bênção de Rod Smallwood, começou a gravá-las. O empresário do Maiden explica:

“Elas soavam um pouco como Bruce Springsteen ou Bryan Adams. Eu não as via como rivais para o Maiden, porque era algo totalmente diferente do que a banda fazia.”

De olho na visibilidade que o Maiden poderia ter nos Estados Unidos caso o A.S.A.P. (sigla para Adrian Smith and Project) tivesse um hit por lá, a EMI não poupou despesas: o disco, intitulado “Silver and Gold”, foi gravado no famoso Trident Studios de Londres — mesmo estúdio onde os Beatles gravaram “Hey Jude” e David Bowie gravou o divisor de águas “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972) —, com produção do premiado Stephen Short e contou com Zak Starkey, filho do Beatle Ringo Starr, na bateria, e um ex-companheiro de Urchin, Andy Barnett, na segunda guitarra.

Mas nem todo o investimento tanto no produto quanto na divulgação — que incluiu uma breve turnê pelo Reino Unido — não impediram o álbum de ser um fracasso em vendas em ambos os lados do Atlântico. Para Adrian, isso se deve ao fato de que:

“O disco não é metal o suficiente para os fãs do Maiden.”

Psycho Motel

Quando deixou o Iron Maiden em 1990, Adrian Smith chegou a cogitar a aposentadoria. Graças a Jamie Stewart — baixista que tocou nos quatro primeiros álbuns do The Cult — e Carl Dufresne, a ideia foi chutada para escanteio. Com a dupla, Adrian formou o The Untouchables, que, a princípio, não faria mais do que alguns shows tocando o bom e velho hard rock só por diversão.

Mudanças na formação — em especial a entrada do vocalista norueguês Hans-Olav Solli (Sons of Angels) — logo resultariam na troca de nome para Psycho Motel e na adoção de uma postura mais profissional. Durante seu período de atividade, o grupo lançou dois álbuns muito distintos entre si: o primeiro, “State of Mind” (1995), é basicamente um brinde aos anos 1970, com vocais ao estilo Led Zeppelin. Já “Welcome to the World” (1997), com o jovem Andy Makin no lugar de Solli, saúda o rock noventista pegando uma carona tardia na estética do grunge.

Bruce Dickinson

Após o lançamento de “Welcome to the World”, Adrian Smith colaborou com o vocalista Bruce Dickinson — à época fora do Iron Maiden, totalmente focado em sua carreira solo — nos álbuns “Accident of Birth” (1997) e “The Chemical Wedding” (1998), além de tocar no ao vivo “Scream for Me Brazil” (1999).

Em sua autobiografia, “Para Que Serve Esse Botão?” (Intrínseca, 2018), Bruce tece comentários acerca dessa fase, comparando a dobradinha:

“‘Accident of Birth’, em vários aspectos, foi o álbum que o Iron Maiden nunca fez [e] me pusera de volta nos trilhos; com ‘The Chemical Wedding’, havia chegado a hora de eles me levarem a algum lugar. ‘Accident’ permanecia firmemente enraizado no metal tradicional. [Mas o] gênero em si havia evoluído, e eu queria abraçar a evolução […]. Achava que ‘The Chemical Wedding’ necessitava de um tema tão épico quanto alguns riffs que fluíam dos trastes das guitarras de Roy Z e Adrian Smith. É aí que entram a capa e o universo poético de William Blake.”

Em 1999, tanto Adrian quanto Bruce voltariam ao Iron Maiden dando origem à atual formação com três guitarristas.

Smith/Kotzen

De vizinhos a parceiros em papo de uma década por sugestão de gente que sacou o potencial das jam sessions que rolavam em sociais na casa de um ou de outro. Se pararmos para pensar, uma aliança entre o bastião do hard rock dentro do Iron Maiden e o homem que foi de promessa do shredding e ídolo do glam metal dos últimos dias ao artista mais completo em atividade não era coisa tão improvável.

Lançado em 26 de março de 2021, “Smith/Kotzen” é resultado de meses de intercâmbio de ideias num mundo pré-pandemia e também um atestado de que nada supera o talento. Riffs trazidos tanto por Adrian Smith quanto por Richie Kotzen e uma divisão quase sempre justa dos encargos vocais tornam o trabalho um prato cheio para os fãs do instrumento que é o órgão sexual do rock.

Ao disco, seguiu-se o lançamento de um EP, “Better Days”, também em 2021. Com os brasileiros Bruno Valverde (Angra) na bateria e Julia Lage (esposa de Kotzen) no baixo, a dupla realizou sua estreia nos palcos em janeiro passado com cinco shows nos Estados Unidos.

Outros projetos

Antes de começarem a gravar o álbum “Somewhere in Time” (1986), do Iron Maiden, Smith e o baterista Nicko McBrain, mais movidos pelo tédio do que pelo real desejo de produzir algo, se reuniram com alguns colegas músicos — entre eles, o ex-Bad Company Dave Caldwell — para uma zoeira em estúdio. Batizado de The Entire Population of Hackney, o devaneio serviu para estabelecer as bases do que se tornaria o A.S.A.P., além de ter rendido as músicas “Juanita” e “Reach Out”, que o Maiden usaria como lado B dos singles “Stranger in a Strange Land” e “Wasted Years”, respectivamente.

No mesmo ano, Adrian participou de “Stars”, do Hear ‘n Aid, projeto capitaneado por Ronnie James Dio para combater a fome na África.

Em 2011, Smith formou o Primal Rock Rebellion com o vocalista Mikee Goodman. Seu único álbum até o presente momento, “Awoken Broken”, chegou às lojas em fevereiro de 2012.

A guitarra de Adrian também pode ser ouvida em três faixas — “The Calling”, “New Horizons” e “Hunting” — de “Instant Clarity” (1996), primeiro álbum solo do vocalista Michael Kiske (Helloween) e em tributos a Alice Cooper (“Humanary Stew”, 1998) e Rush (“The Royal Philharmonic Orchestra Plays the Music of Rush”, 2012).

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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