Os guitarristas Adrian Smith (Iron Maiden) e Richie Kotzen (The Winery Dogs, ex-Poison, ex-Mr. Big) lançam, nesta sexta-feira (26), o álbum de estreia do projeto Smith/Kotzen. O trabalho, homônimo, chega a público por meio da gravadora BMG.
Gravado nas Ilhas Turcas e Caicos em fevereiro de 2020, com produção de Richie e Adrian e mixagem por Kevin Shirley, a obra de 9 faixas traz a dupla de músicos alternando funções de vocais principais, guitarra e baixo.
- Entrevista exclusiva: Richie Kotzen fala sobre Smith/Kotzen, seu projeto com Adrian Smith
Há apenas duas participações: os bateristas Nicko McBrain, colega de Adrian do Iron Maiden, na música “Solar Fire”; e Tal Bergman, parceiro de turnê de Richie, nas faixas “You Don’t Know Me”, “I Wanna Stay” e “‘Til Tomorrow”. Kotzen assume as baquetas nas outras cinco músicas.
Ouça o álbum “Smith/Kotzen” a seguir, via Spotify:
É curioso observar que o rock ainda não tem a cultura de “collabs” e “feats” que já existe em outros estilos, especialmente o pop e o hip hop. Não é comum termos músicos de bandas e até backgrounds diferentes colaborando em projetos paralelos.
Felizmente, Adrian Smith e Richie Kotzen não se intimidaram com a falta de “exemplos” dentro do rock. Vizinhos em Los Angeles, nos Estados Unidos, e amigos há um bom tempo, os músicos resolveram se juntar para gravar um álbum depois de fazerem diversas jams juntos, no estúdio caseiro de Smith em Los Angeles.
Comentários sobre os talentos de ambos os envolvidos são dispensáveis. Sabemos que os dois são muito competentes e, de certa forma, versáteis. Smith nunca foi um guitarrista convencional de heavy metal, o que é ótimo, e ainda tem uma boa voz. Kotzen, cantor completo e multifacetado nas 6 cordas, já explorou dezenas (!) de vertentes diferentes em seus álbuns solo, indo do jazz ao funk, do soul ao blues, etc, sem deixar a peteca cair.
Os backgrounds, claro, são distintos, além das origens geográficas – Adrian é britânico, enquanto Richie é americano. Ainda assim, eles catalisaram seus elementos em comum no álbum homônimo do Smith/Kotzen. São eles, em especial, a paixão por blues, por classic rock e por guitarras exuberantes. O resultado de tudo isso, como esperado, saiu acima da média.
Faixa a faixa
Um aspecto curioso do disco é que suas duas primeiras músicas de trabalho (singles), “Taking My Chances” e “Scars“, respectivamente primeira e terceira da tracklist, não representam tão bem o material como um todo. São boas faixas, claro, mas estão longe de serem as melhores.
“Taking My Chances” é a típica abertura de álbum: protocolar, traz refrão fácil e deve funcionar bem nos shows. Mostra, ainda, a boa dinâmica entre Smith e Kotzen. Por sua vez, a relativamente longa “Scars” tem introdução climática, andamento arrastado e sonoridade típica de “beira de estrada”. Apesar dos bons solos, não engrena.
No meio dessas duas, o álbum traz uma de suas melhores músicas: “Running“, de ganchos melódicos bem grudentos, refrão potente, solo incrível ao fim e mais aparição dos vocais de Adrian. Voltando à ordem normal da tracklist, há de se destacar também a quarta faixa, “Some People“, que mergulha de cabeça num classic rock de muito groove e também conta com presença maior da voz do integrante do Iron Maiden.
Na sequência, “Glory Road” parece ser um dos exemplos mais evidentes do cruzamento de influências: os versos são bem blues, bem tipo “Adrian Smith de férias do Maiden”, enquanto o refrão tem uma veia soul típica de Richie Kotzen. A aguardada “Solar Fire“, provavelmente a melhor do álbum, faz justiça ao peso de seu convidado especial. Nicko McBrain simplesmente arregaça, oferecendo linhas de baterias trançadas a um funky hard rock repleto de malemolência.
As três músicas finais do disco, todas com Tal Bergman na bateria, são, cada uma a seu modo, mais introspectivas. “You Don’t Know Me“, a antepenúltima, é a mais longa da tracklist, com mais de 7 minutos de duração. Soa mais melancólica, ainda que não seja uma balada por definição. O “reinício” da canção a partir do 5° minuto, com mudança no arranjo e solos de guitarra (especialmente o de Adrian), é de tirar o fôlego.
“I Wanna Stay” preserva a essência da música anterior, mas com um peso maior da mão de Smith, que trouxe solos e efeitos mais experimentais. O encerramento fica a cargo de “‘Til Tomorrow“, que também flerta com tonalidades menos usuais, ainda que com um refrão bem aberto, tipicamente Richie Kotzen.
- Leia resenha: O perfeito álbum de estreia do The Winery Dogs, de 2013
Uma colaboração real
O saldo geral do álbum é bem positivo. Os dois músicos parecem ter colaborado bastante juntos, sem abrir espaço para uma “música do Adrian” ou “música do Richie”. Todas as criações contam com as impressões digitais de ambos, o que é muito bom.
Por ter sido autoproduzido e contar apenas com dois músicos cuidando de quase tudo, é inegável a sensação de que daria para polir um pouco mais a sonoridade. Não no sentido de deixar tudo mais leve, mas distribuir melhor alguns solos – há, de fato, muitos solos no álbum – e parear algumas timbragens, talvez deixando o ambiente geral um pouco menos “carregado”.
Nada que atrapalhe, porém, o resultado final de um dos melhores trabalhos de 2021 até o momento. Há boas canções, capricho nas guitarras, dinâmica vocal fora de série e uma fusão de estilos diferenciada. Não precisamos de muito mais do que isso.
Que o trabalho de estreia do Smith/Kotzen seja o primeiro de muitos. Recomendado até (e especialmente) para quem não curte Iron Maiden – sim, porque não há quem não goste de Richie Kotzen.
- Entrevista exclusiva: Richie Kotzen fala sobre Smith/Kotzen, seu projeto com Adrian Smith
Smith/Kotzen – ‘Smith/Kotzen’
1. Taking My Chances
2. Running
3. Scars
4. Some People
5. Glory Road
6. Solar Fire
7. You Don’t Know Me
8. I Wanna Stay
9. ‘Til Tomorrow