Os 5 anos do perfeito disco de estreia do The Winery Dogs

The Winery Dogs – “The Winery Dogs”
Lançado em 5 de maio de 2013

O conceito de supergrupo se aplica de verdade em ocasiões bem mais raras do que se pensa. É difícil uma “seleção” de músicos apresentar obras satisfatórias por diversos fatores, que vão desde entrosamento artístico até relações pessoais – ter muito cacique para pouco índio pode comprometer o resultado final.

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Não é o caso do The Winery Dogs. O supergrupo – que é supergrupo de verdade – foi montado de forma espontânea, com músicos que têm relação entre si: Richie Kotzen como vocalista e guitarrista, Billy Sheehan como baixista e Mike Portnoy como baterista. E tal naturalidade se reflete no disco de estreia da banda, autointitulado, lançado em 5 de maio de 2013 no Japão e em 23 de julho do mesmo ano no restante do mundo.

O início do The Winery Dogs, porém, não foi nada orgânico. Billy Sheehan e Mike Portnoy decidiram montar uma banda juntos e tentaram convidar John Sykes, ex-guitarrista do Thin Lizzy e do Whitesnake. Também cantor no Blue Murder e em sua carreira solo, Sykes era visto como um nome ideal para o projeto, mas Sheehan explicou, em entrevista à Guitar World, que não deu certo porque o músico queria uma abordagem mais “metódica”, enquanto Portnoy e ele queriam trabalhar de forma mais rápida.

Como nada se concretizou – nem mesmo uma composição saiu da tentativa de trio com John Sykes -, Billy Sheehan e Mike Portnoy voltaram à estaca zero. Pouco tempo depois, o jornalista Eddie Trunk indicou o nome de Richie Kotzen. “Ainda não sei por que não pensei nele. Acho que era uma escolha tão óbvia que acabou escapando de mim”, brincou Sheehan, em depoimento à Guitar World.

Embora Billy Sheehan tenha brincado com o assunto, Richie Kotzen não era um nome exatamente óbvio. O virtuoso sempre esteve em carreira solo e já se declarou, muitas vezes, ter uma postura hesitante com relação a integrar bandas. Suas experiências com o Mr. Big – ao lado de Sheehan – e, especialmente, com o Poison mostraram que Kotzen fica mais satisfeito quando está sozinho, no controle de tudo.

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Por outro lado, devido à ocasião envolvida, o virtuoso guitarrista e talentoso cantor se encaixou tão bem como frontman que, no fim das contas, foi a melhor opção. E ele mesmo ficou feliz com a situação. “O que foi interessante é que foi a primeira vez que eu estive em uma banda do zero. Não estava chegando a um projeto já estabelecido, era algo novo”, afirmou Kotzen, em entrevista ao site Blues Rock Review.

O envolvimento desde o início, aliás, foi crucial para que o The Winery Dogs desse certo com Richie Kotzen. O motivo é simples: Kotzen compôs todo o material presente no disco de estreia da banda – duas músicas, “Damaged” e “Regret“, sequer receberam contribuições de Sheehan e Portnoy – e gravou até mesmo suas guitarras e vocais sem interferência de ninguém, já que seus colegas registraram suas partes em estúdio e, depois, precisaram cumprir agenda com outros projetos.

Ainda assim, o álbum de estreia do The Winery Dogs tem influência dos três envolvidos. Richie Kotzen, evidentemente, conseguiu imprimir sua personalidade hard rock e trouxe até elementos do funk, em faixas como “Desire“, e R&B/soul, em músicas como em “One More Time” e a já citada “Regret“. Billy Sheehan e Mike Portnoy trouxeram uma percepção virtuosa mais consistente, com linhas instrumentais recheadas de técnica – claro, sem perder a coesão – que também se encaixa no perfil de Kotzen.

Tal combinação de fatores fez o The Winery Dogs soar muito natural. Mesmo com a autoria do material atribuída a Richie Kotzen, a maestria de Billy Sheehan e Mike Portnoy em seus instrumentos fez com que suas respectivas contribuições ficassem bem perceptíveis. Não dá para imaginar outros músicos no planeta – nem mesmo os integrantes do trio em projetos separados – compondo músicas como “Elevate“, “We Are One” e “Not Hopeless“, que são tão virtuosas e melódicas ao mesmo tempo.

Graças ao debut autointitulado, o The Winery Dogs conseguiu duas façanhas em meu gosto particular. A banda é, para mim, a melhor formada nas últimas duas décadas. E seu álbum de estreia é um dos poucos deste mesmo período a não contar com nenhuma música sequer mediana. De “Elevate” a “Regret“, com ou sem “Criminal” (a faixa substitui “Time Machine” na edição japonesa), é um disco nota 10 do começo ao fim.

Assim como o êxito artístico, o sucesso comercial também chegou de forma natural ao The Winery Dogs. O álbum de estreia da banda chegou ao 27° lugar das paradas dos Estados Unidos e à 18ª posição nos charts do Japão, além de ter atingido ao top 5 de rankings americanos específicos, como “Top Alternative Albums” (3°), “Top Independent Albums” (4°), e “Top Rock Albums” (5°). Números expressivos para o contexto atual, de decadência combinada do rock pesado e da indústria fonográfica.

Empurrado pelo sucesso conquistado, o The Winery Dogs chegou a gravar mais um disco, “Hot Streak” (2015) – que é bom, mas não é do nível do álbum de estreia -, e um EP com faixas bônus, “Dog Years” (2017), antes de anunciar uma pausa em suas atividades. Assim como tudo relacionado ao trio foi orgânico, a pausa prolongada também era natural, pois, conforme destacado anteriormente, Richie Kotzen fica mais à vontade em carreira solo.

– Richie Kotzen explica por que deu um tempo do The Winery Dogs

O hiato não vai demorar tanto para ser encerrado, segundo os membros do trio. Depende da vontade de Kotzen, mas o músico já sinalizou que, em breve, voltará com os cães da vinícola. Talvez o disco de estreia nunca seja superado por lançamentos futuros dos integrantes envolvidos – o patamar é altíssimo -, contudo, basta que divulguem novos álbuns com certa regularidade para que minha felicidade e fé na música contemporânea seja mantida.

– Fotos e vídeos: Como foi o show do The Winery Dogs em Brasília, em maio de 2016

Richie Kotzen (vocal, guitarra, teclados)
Billy Sheehan (baixo, backing vocals)
Mike Portnoy (bateria, percussão, backing vocals)

1. Elevate
2. Desire
3. We Are One
4. I’m No Angel
5. The Other Side
6. You Saved Me
7. Not Hopeless
8. One More Time
9. Damaged
10. Six Feet Deeper
11. Time Machine
12. The Dying
13. Regret

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A foto que estampa a capa do disco perde bastante glamour quando se percebe que foi feita em um estacionamento, não é?
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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