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O que Lars Ulrich pensa hoje sobre batalha judicial do Metallica contra o Napster

Baterista reconhece os pontos nos quais errou no passado ao processar o programa de compartilhamento de arquivos, mas passados tantos anos, será que ele estava tão errado assim?

A história do Metallica ganhou um capítulo peculiar em 2000. Na época, a banda, em uma decisão liderada pelo baterista Lars Ulrich, processou o programa Napster, uma então novidade da internet, que consistia em um sistema de compartilhamento de arquivos entre pessoas.

A polêmica na época foi bem grande, com opiniões muito divididas. E passados mais de 20 anos da treta, até mesmo Lars pensa diferente sobre o caso.

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O vazamento e o processo

O processo foi movido pelo Metallica após uma das demos da música “I Disappear”, que fez parte da trilha sonora do filme “Missão Impossível 2”, vazar na internet. A faixa foi disponibilizada no Napster e compartilhada livremente na internet.

Em entrevista à rádio 92Y de Nova York, com transcrição via Alternative Nation, Ulrich contou como ficou sabendo do vazamento.

“Gravamos entre compromissos de turnê e seguraríamos até o verão seguinte. Um dia, recebo uma ligação de Cliff (Burnstein, co-empresário do Metallica) dizendo que a música estava tocando em 20 estações de rádio americanas. Ficamos: ‘como isso é possível?’ Ele disse que havia algo chamado Napster, onde as pessoas compartilhavam arquivos.”

O Metallica venceu a ação judicial em 2001, obrigando o Napster a retirar qualquer música da banda de seu sistema de compartilhamento de arquivos. Outros artistas foram encorajados pela vitória a entrar com ações similares.

Dessa forma, a marca Napster teve que ser vendida. O serviço deixou de ser um programa P2P (peer-to-peer) de compartilhamento para se tornar uma espécie de precursor do streaming. A repercussão do caso foi tamanha que entrou para o imaginário popular, motivando paródias e esquetes – uma delas incluindo o próprio baterista da banda.

Entendendo o Napster

Em 2016, ou seja, 16 anos depois do processo, Lars Ulrich se mostrou mais maduro e reflexivo em relação ao caso. À revista Rolling Stone, ele contou que passou a entender melhor o que o Napster representava.

O músico admitiu ter aprendido que a impulsividade que moveu o Metallica a processar a empresa deve ser substituída por mais cautela. É importante, segundo ele, tentar saber com o que está lidando.

“Subestimei o que o Napster era para as pessoas em termos da liberdade que representava. Então penso que, às vezes, mesmo quando você não quer, tem que fazer uma pequena ponderação antes de pular – pelo menos ter uma ideia de onde você acha que vai aterrissar. (risos)”

O baterista aponta, no entanto, que os representantes do Napster adotaram a tática de jogar o Metallica contra os fãs. Segundo ele, isso acabou mudando totalmente a origem da discussão: muitas pessoas acharam que a banda estava sendo gananciosa, ainda que Ulrich sustente que a disputa nunca foi motivada por dinheiro.

“Era entre nós e o Napster. Aí o Napster fez com que fosse entre nós e os fãs – o que foi uma sacada muito, muito esperta. Essa não era a intenção. A questão com o Napster não era sobre dinheiro. Não era sobre comércio. Não era sobre direitos autorais. Era literalmente sobre escolha. De quem é a escolha de tornar nossa música disponível para download gratuito? Dissemos: ‘espere aí, a escolha devera ser nossa’. Outras pessoas tinham opiniões diferentes e virou sobre sermos gananciosos ou sobre dinheiro.”

Lars Ulrich e Metallica estavam certos?

Por ter liderado a situação diante da imprensa, Lars Ulrich recebeu muitas críticas negativas pela suposta ganância em ter processado o Napster. Além disso, embora a banda tenha vencido a causa na Justiça, outros programas P2P se popularizaram muito e deram origem ao auge da pirataria na internet, ocorrido no início na década de 2000.

Hoje o cenário é bem diferente. Primeiro, porque Lars acabou se tornando um grande amigo de Sean Parker, um dos co-fundadores do programa. E o mais importante: o sistema de consumo de música online ganhou caráter de legalidade, mas ainda não agrada os artistas.

Vários músicos se posicionam contra programas como o Spotify, argumentando contra a baixíssima remuneração que os músicos recebem pelos streamings, bem como a falta de controle sobre a própria obra. No fim das contas, a discussão não é tão diferente da época do processo movido contra o Napster.

O próprio Metallica se adaptou bem ao streaming, provavelmente por já ter uma mentalidade mais aberta em relação ao controle de sua obra – por incrível que pareça. Frequentemente, o grupo libera materiais exclusivos para consumo digital, incluindo até mesmo uma compilação de faixas ao vivo gravadas em shows no Brasil.

Mas toda vez que pessoas como Tom Morello, Rob Halford, Mike Portnoy e outros fazem críticas ao sistema vigente, fica claro que Lars Ulrich e o Metallica não estavam tão errados assim – ou pelo menos não tão desconectados da realidade.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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