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Do bloqueio criativo ao fantasma: a história de “Sabbath Bloody Sabbath”, álbum do Black Sabbath

Sem riffs, a banda se mudou para um castelo mal assombrado, em uma história digna de cinema

Os primeiros anos do Black Sabbath foram intensos: entre 1970 e 1972, a banda lançou quatro álbuns e fez shows de maneira quase ininterrupta. Isso causou muita exaustão física e mental, o que, unido ao uso indiscriminado de drogas, colaborou para que as coisas “empacassem” no início da produção de “Sabbath Bloody Sabbath” (1973).

Para gravar seu quinto disco de estúdio, o plano da banda era o mais óbvio possível. Eles voltariam à mansão de Bel Air, em Hollywood, onde viveram e compuseram o aclamado “Vol. 4” (1972).

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No entanto, depois de um mês, o guitarrista e cérebro da banda, Tony Iommi, teve que aceitar a dura verdade: ele estava sofrendo com um bloqueio criativo, o que afetava todo o grupo.

Iommi não era apenas o cérebro, mas o motor do Black Sabbath naquele momento, já que tudo funcionava com base em seus poderosos riffs. O próprio guitarrista relatou a situação em entrevista ao Loudwire.

“Era a mesma casa, tudo o mesmo, mas não estava funcionando. Foi a primeira vez na minha vida que tive um bloqueio criativ. Todo mundo costumava esperar até que eu surgisse com um riff, então trabalhávamos a partir dali. Mas nada estava vindo.”

A solução seria uma mudança de ares, que levou o grupo de volta para a Inglaterra em setembro de 1973. Mas estamos falando do Black Sabbath, e é claro que eles não alugaram um estúdio ou uma casa: o quartel general foi montado em um castelo do século 18 que tinha fama de ser mal-assombrado.

Black Sabbath exorciza o bloqueio

O castelo de Clearwell, localizado na floresta de Dean, em Gloucestershire, foi o destino de Tony Iommi, Geezer Butler (baixo), Ozzy Osbourne (vocal) e Bill Ward (bateria). Usado anteriormente por bandas como Led Zeppelin, Mott the Hoople e Deep Purple, o imóvel contava com grandes masmorras, ótimas para abrigar os equipamentos de som e salas de ensaio.

A mudança de artes deu certo. Em pouco tempo, Iommi teve a ideia de um de seus riffs mais famosos: o da faixa-título de “Sabbath Bloody Sabbath”. Em material do box set “Black Box” (2004), Geezer Butler descreveu o sentimento da banda quando o guitarrista superou o problema.

“Quando Tony surgiu com o riff de ‘Sabbath Bloody Sabbath’, foi quase como ver seu primeiro filho nascendo. Era o fim de nossa seca musical, o começo de nossa nova direção, uma afirmação de vida. Significava que a banda tinha um presente – e um futuro – de novo.”

A partir deste primeiro riff, a composição deslanchou e o Black Sabbath criou um de seus álbuns mais aclamados. De sonoridade complexa, orquestrada e bastante inovadora para a época, o disco foi um sucesso absoluto, mas o quarteto de Birmingham ainda passaria por alguns sustos no castelo antes de partir para o estúdio.

“É só o Mau pelas masmorras do castelo”

Apesar de ter sido construído no século 18, o castelo de Clearwell tentava recriar o ambiente de um castelo medieval, com direito a masmorras – onde a banda ensaiava – e uma sala de armas, entre outros lugares. E como todo bom castelo inglês, o local tinha também seu próprio fantasma.

Tony Iommi conheceu o anfitrião saindo de um dia de ensaios, diretamente das masmorras. O guitarrista relatou o primeiro dos encontros em entrevista para a Classic Rock.

“Lembro de sair das masmorras um dia, acho que com Geezer, Bill ou alguma outra pessoa. Estávamos andando pelo corredor e vimos essa figura vindo na nossa direção. É um corredor longo. Essa figura virou à esquerda e entrou nessa sala, que era a sala de armas, onde guardavam todas as armas. Nós o seguimos e entramos. Não havia ninguém ali. E não havia saída ou nada do tipo – nenhuma outra porta. Muito estranho.”

Intrigados pela estranha visita, os músicos do Sabbath relataram o ocorrido aos proprietários do castelo, que nem se preocuparam..

“Alguns dias depois, as pessoas que eram donas do castelo vieram ver se estávamos ok e nós dissemos: ‘vimos algumas coisas estranhas acontecerem aqui’. Eles disseram: ‘oh, Deus, esse é o…’ qualquer que fosse o nome, ‘…o fantasma do castelo; não se preocupem com ele’.”

O fantasma em perigo?

Mal sabiam os proprietários que o fantasma é que corria algum perigo ao se trancar com Ozzy, Tony, Geezer e Bill em um castelo. Naquela época, os músicos do Black Sabbath eram conhecidos por pegarem pesado nas brincadeiras um com o outro, até chegar ao ponto de que ninguém mais queria dormir no castelo – com medo do fantasma e da zoeira.

Em sua autobiografia “Eu Sou Ozzy”, Ozzy Osbourne detalhou uma das brincadeiras que um aprontava para o outro. Bill Ward era o alvo principal.

“Não éramos mais os ‘senhores da escuridão’ do que éramos os ‘senhores da m**da de galinha’ em relação a esse tipo de coisa… nós incomodávamos tanto um ao outro que nenhum de nós dormia. Você só ficava lá deitado, com os olhos bem abertos, esperando uma armadura vazia entrar no seu quarto a qualquer segundo para enfiar uma adaga na sua bunda.”

O próprio vocalista também quase colocou fogo no castelo em uma ocasião, quando dormiu com sua bota perto da lareira acesa.

Visita do Led Zeppelin

Para que o fantasma de Clearwell tivesse paz, o Sabbath partiu então para o Morgan Studios, em Londres, para gravar o novo trabalho.

Lá, eles acabaram recrutando o tecladista Rick Wakeman, do Yes, que acabou participando em “Sabbra Cadabra”.

O grupo também recebeu uma inesperada visita dos integrantes do Led Zeppelin, que os conheciam desde os primeiros dias, em Birmingham.

Na ocasião, chegou a ser cogitado que o baterista John Bonham tocasse com eles a música “Supernaut”, sua predileta dos caras, mas a ideia acabou sendo descartada. Ainda assim, eles fizeram uma jam em estúdio, com covers de outros artistas. O material foi gravado, porém, nunca lançado.

O último dos grandes?

Lançado em 1º de dezembro de 1973, “Sabbath Bloody Sabbath” fez sucesso e é considerado por muitos como o último grande disco do Black Sabbath em sua primeira fase. O trabalho leva experimentações mais a sério e provavelmente representa o ápice desse aspecto no som da banda, embora o sucessor, “Sabotage” (1975), também traga muito disso.

O período das gravações também foi o último em que os integrantes se deram bem. A partir dali, as drogas, os egos e as diferenças criativas, além de problemas burocráticos, fariam com que o poder de decisão fosse ainda mais centralizado em Tony Iommi.

Com 1 milhão de cópias vendidas nos Estados Unidos e bom desempenho nas paradas do Reino Unido e Europa, o Black Sabbath embarcou em uma turnê também bem-sucedida. O giro seria encerrado com a lendária apresentação no festival California Jam, ao lado do Earth, Wind & Fire, Eagles, Black Oak Arkansas, Deep Purple e Emerson, Lake & Palmer.

Ainda que “Sabotage” também seja um grande disco, é seguro dizer que o Black Sabbath nunca mais foi o mesmo depois de “Sabbath Bloody Sabbath”. Os eventos que levaram ao racha da primeira formação começaram logo após esse álbum.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

4 COMENTÁRIOS

  1. Até hoje existe a polêmica acerca do riff de Sabbath Bloody Sabbath ter sido plagiado da canção What To Do, do disco da Vanusa, de 1973. Tony Iommi não nega. Diz que é possível, pois na época estava passando por um bloqueio criativo e ouviu discos do mundo todo em busca de inspiração.

  2. Man! Q foda essa matéria
    Viagei lendo esse conteúdo, tenho conhecimento sobre a banda pois sou muito fan. Mas essa aí não esperava. Meus parabéns pelo artigo, agora vou acompanhar esse site.
    Rock ‘N’ Roll

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