Entrevista: Papa Roach celebra evolução com novo álbum, ‘Who Do You Trust?’

Goste ou não do Papa Roach ou de seu momento atual, é inegável que a banda sempre buscou evolução. O grupo foi formado na modesta cidade de Vacaville, na Califórnia, Estados Unidos, em 1993, e se consagrou anos depois, com álbuns influenciados pelo nu metal, como “Infest” (2000) e “Lovehatetragedy” (2002), lançados pela DreamWorks.

Ainda no auge do próprio nu metal, o Papa Roach passou por sua grande mudança: de gravadora e, automaticamente, sonoridade. O primeiro álbum da banda pela Geffen foi “Getting Away with Murder” (2004), que flertou com vertentes mais alternativas do hard rock – há quem diga que o grupo tenha se rendido ao emocore nesse período, mas a conexão não vai além do visual.

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Os discos seguintes, “The Paramour Sessions” (2006) e “Metamorphosis” (2009), bebem da mesma fonte. No entanto, as mudanças mais drásticas na sonoridade do Papa Roach começaram a partir de “The Connection” (2012), que aliam influências mistas – além da pegada nu metal ter retornado, o uso de elementos da música eletrônica começaram a guiar o grupo.

“Who Do You Trust?”, próximo álbum do Papa Roach, é o 10° de sua trajetória e o quinto dessa atual fase, que aposta em composições mais híbridas. É importante destacar, contudo, que o quarteto formado por Jacoby Shaddix (vocal), Jerry Horton (guitarra), Tobin Esperance (baixo) e Tony Palermo (bateria) segue mergulhado no rock. Os outros gêneros, como eletrônico e pop, aparecem em “pitadas”.

Em entrevista exclusiva, o baterista Tony Palermo destacou que “Who Do You Trust?” foi influenciado pelo disco anterior, “Crooked Teeth” (2017), bastante elogiado pela imprensa especializada e dois singles no topo das paradas americanas Mainstream Rock, da Billboard: “Help” e “Born For Greatness”. Segundo Palermo, o resultado foi “a coleção de músicas mais eclética” feita pelo Papa Roach.

“Acho que apenas tomamos alguns pontos de início diferentes nesse álbum. Em ‘Crooked Teeth’, tivemos algumas ideias ‘fora da caixinha’, como ‘Born For Greatness’ e ‘Periscope’, que soam mais pop… começamos o novo álbum a partir desse ponto e ampliamos ainda mais os limites, como em músicas como ‘Elevate’. Há outra faixa, ‘I Suffer Well’, que é uma música maluca de punk rock, com menos de dois minutos. É muito diverso”, afirmou.

O baterista destacou que, embora diversas influências estejam sendo usadas desde “Getting Away With Murder” (2004), o Papa Roach segue “uma banda de rock, com bateria forte e guitarras altas”. “É apenas um elemento que cresceu conosco”, disse ele, que apontou “Who Do You Trust?” como um álbum “animado”, tanto pelas letras quanto pela construção melódica das músicas, que usam mais a escala maior – conhecida por “abrir” a harmonia, diferente da menor, usada para composições mais obscuras.

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Independente de influências, “Who Do You Trust?” é um disco de rock bastante enérgico. Quem acompanha o trabalho recente do Papa Roach não irá se decepcionar com o que será apresentado no álbum, já conferido em audição prévia para imprensa.

Menos guitarras? Não é bem assim

Em “Who Do You Trust?”, a presença de batidas eletrônicas em certos momentos chama a atenção, mas o que mais se destaca é a ausência de passagens com guitarra em destaque. Jerry Horton foi silenciado pelo atual momento da banda?

De acordo com Tony Palermo, não. Embora não se ouça o som tradicional da guitarra em certas músicas, ainda se trata de Jerry Horton trabalhando nas seis cordas. “Algumas das coisas que soam como teclados são, na verdade, Jerry tocando na guitarra. Acho que ele fez um grande trabalho”, afirmou o baterista.

A evolução do Papa Roach passa por seus músicos – de Jerry Horton fazendo sons de teclado na guitarra ao próprio Tony Palermo trabalhando em conjunto de batidas eletrônicas. E os integrantes reconhecem que é importante seguir olhando para frente, em vez de tentar repetir o que foi feito no passado.

“Acho que é muito importante continuar a evolução. Tudo o que fazemos soa correto e natural para nós. Nunca fizemos algo que não queríamos. Há muitas críticas online, mas é muito importante seguir evoluindo naturalmente”, disse.

A todo vapor

A nítida evolução pela qual o Papa Roach tem passado fez com que, naturalmente, a banda permanecesse muito produtiva, em termos de trabalhos criativos. Não é fácil seguir lançando álbuns em tempos de streaming – e pouca rentabilidade de material produzido em estúdio -, mas o grupo ignorou esse detalhe e vai fechar a década com quatro discos lançados – todos pela Eleven Seven Music, um selo independente que, na América Latina, tem distribuição pela Warner Music.

“Queremos continuar criando coisas que são relevantes. Acho que é importante não tomar tanto tempo entre dois álbuns. Costumávamos fazer turnês ainda maiores, mas, agora, nem tanto. Estar na estrada ainda é a coisa mais importante para uma banda”, afirmou Tony Palermo.

O baterista reconheceu, porém, que o formato do “álbum completo” pode deixar de ser usado pelo Papa Roach. “Talvez, no futuro, a gente não grave mais discos completos, mas podemos nos adaptar e lançar EPs, com umas cinco músicas. Pode ser o próximo passo, até porque quando você sai em turnê, só toca de cinco a sete músicas novas. Porém, nessa era de streaming, sentimos que ainda há muitos fãs querendo o álbum, o ‘pacote completo’. Estamos oferecendo isso para esse público, mas nunca se sabe. Talvez o próximo trabalho seja mais repartido”, disse.

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Turnê pelo Brasil

A entrevista com Tony Palermo ocorreu durante visita ao Brasil, juntamente de Jacoby Shaddix, para promover “Who Do You Trust?”. O baterista destacou que foi “estranho” viajar para não fazer shows, já que a agenda foi exclusivamente de divulgação, mas revelou que o Papa Roach voltará ao país em 2019.

“Estamos planejando fazer turnê ao longo de todo o ano de 2019. De janeiro a março, temos datas marcadas. E é por isso que estamos no Brasil agora: para promover o álbum e ter vibrações das pessoas, dos promotores de eventos. Em dezembro de 2016, nós viemos e queremos manter o mercado sul-americano em nossa programação de turnê”, afirmou.

Palermo disse, porém, que não há previsão exata de datas para o retorno do Papa Roach ao Brasil – sabe-se, apenas, que será em 2019. “Não sabemos ao certo quando será, pois está sendo planejado, mas, definitivamente, será entre abril e dezembro”, pontuou, aos risos.

Embora os integrantes do Papa Roach não gostem de olhar para trás, os fãs já cobram shows que comemorem os 25 anos de banda, formada em 1993, ou dos 20 anos do lançamento do álbum “Infest”, divulgado em 2000. A banda pensa em celebrar alguma das ocasiões na estrada, mas com shows únicos e não turnês completas. Quem sabe o Brasil não seja contemplado com apresentações nostálgicas?

“O ‘Infest’ completará 20 anos de lançamento, certo? Acho que será interessante fazer um show comemorativo em algum festival. Já falamos sobre isso. Talvez seja algo de apenas um dia, quem sabe anual, mas estamos planejando algo assim. Fizemos isso em Londres no passado, quando tocamos o ‘Infest’ na íntegra (no Roundhouse, no dia 12 de março de 2015). As pessoas gostaram. Talvez a gente faça isso de novo, mas vamos ver o que acontece”, concluiu.

“Who Do You Trust?” – lançamento em 19 de janeiro de 2019.

Capa:

Tracklist:

01. The Ending
02. Renegade Music
03. Not The Only One
04. Who Do You Trust?
05. Elevate
06. Come Around
07. Feel Like Home
08. Problems
09. Top Of The World
10. I Suffer Well
11. Maniac
12. Better Than Life

Músicos:

Jacoby Shaddix (vocal)
Jerry Horton (guitarra)
Tobin Esperance (baixo)
Tony Palermo (bateria)

Foto da matéria: Darren Craig / divulgação

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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