Como Vinnie Paul mudou a cara do metal na década de 1990

Falecido aos 54 anos, Vinnie Paul foi um dos bateristas mais importantes do metal como um todo. Seu estilo distinto de tocar fez com que o gênero passasse por uma já necessária reinvenção logo nos primeiros meses da década de 1990, com o quinto disco de estúdio do Pantera, ‘Cowboys From Hell’ (1990).

Antes de ‘Cowboys From Hell’, o Pantera era uma boa banda de hard rock, mas sem diferencial em sua sonoridade. No álbum anterior a esse, ‘Power Metal’ (1988), a entrada do vocalista Phil Anselmo fez com que o grupo começasse a trilhar caminhos mais ligados ao heavy metal e, enfim, os irmãos Vinnie Paul e Dimebag Darrell (guitarrista, morto em 2004) começaram a explorar seus potenciais.

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Em ‘Cowboys From Hell’, a mudança foi um pouco mais brusca: o Pantera colocou um peso digno de thrash metal em primeiro lugar, mas com uma leitura diferente, mais focada em ritmo do que em velocidade. Há quem diga que esse disco marcou o início do chamado ‘groove metal’, que, ao lado de trabalhos do Sepultura com Max Cavalera, serviria de influência para nomes como Machine Head, White Zombie, Fear Factory, Gojira, Five Finger Death Punch e até bandas mais consagradas, como o Anthrax.

– Leia: A ‘quase entrada’ de Dimebag Darrell para o Megadeth

O papel de Vinnie Paul nessa nova sonoridade foi fundamental, pois era necessário ter uma percussão diferenciada para fazer algo distinto em um gênero tão marcado pelas aceleradas BPMs (batidas por minuto). Paul era muito técnico não só com as mãos, que o ajudavam a fugir de linhas óbvias, mas também com os pés, já que muito de sua pegada, mesmo, do bumbo duplo.

Aliás, o que Vinnie Paul fazia com os pés era de outro mundo. Suas construções irregulares a partir dos pedais conferia charme único ao som do Pantera. Era um dos poucos bateristas que não precisava tocar rápido para dar peso a uma música, ainda que dominasse técnicas como a de blast beats.

Vinnie Paul cita os registros de Tommy Aldridge com Pat Travers como os responsáveis por fazê-lo se interessar por bumbo duplo. Alex Van Halen (Van Halen), Phil Rudd (AC/DC) e Neil Peart (Rush) também são influências, mas a grande referência era John Bonham – algo perceptível, pois Bonham também era mestre em aplicar linhas de bateria irregulares e inusitadas nas músicas do Led Zeppelin.

Em discos seguintes, como “Vulgar Display of Power” (1992) e “Far Beyond Driven” (1994), o papel de Vinnie Paul na sonoridade do Pantera cresceu ainda mais. A fórmula consistia em, inicialmente, deixar a criatividade de Dimebag Darrell florescer com seus riffs e passagens melódicas. A partir daí, Vinnie seguia a estrutura imposta pelas seis cordas, em vez de construir ritmos em contraponto a Darrell. Somente depois disso, entravam o baixo e os vocais.

“Nunca tive baixo no meu retorno de som. Em vez disso, prefiro colocar apenas guitarra. Sei que o baixista precisa estar ‘fechado’ com o baterista, mas, para mim, o metal é sobre guitarra e bateria estarem juntas e operando como uma máquina. Toquei com meu irmão a vida toda e fomos magicamente entrosados”, afirmou o baterista, em entrevista à Music Radar.

No Hellyeah, banda montada por Vinnie Paul após o assassinato de Dimebag Darrell, a mágica se perdeu um pouco, ainda que tenha feito bons discos com o grupo. Não dá para reinventar a roda tantas vezes e o entrosamento com Dimebag era, realmente, crucial.

Ainda assim, Vinnie Paul parecia ter lenha para queimar, o que torna a sua morte precoce ainda mais triste. É impossível não pensar que, a essa altura, Paul esteja fazendo uma jam com seu irmão em outro plano. Que descanse em paz.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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