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O que mudou no remix de “Forbidden”, do Black Sabbath

Correção sonora assinada por Tony Iommi revigora álbum mais subestimado do grupo na era Tony Martin

O recém-lançado remix do álbum “Forbidden” (1995), do Black Sabbath, como parte do box Anno Domini: 1989-1995, tem gerado uma onda de entusiasmo entre fãs e críticos de música. A nova versão apresenta uma série de modificações na sonoridade original, resgatando a essência da banda que muitos acreditavam estar perdida na versão inicial do álbum.

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Quem assina a remixagem é ninguém menos que Tony Iommi em parceria com o engenheiro de som Mike Exeter. Ao The Midlands Rocks, em 2019, o guitarrista disse que nunca gostou de como o álbum soava e que via no remix “uma oportunidade de voltar atrás e tornar algumas músicas mais parecidas com o que as pessoas esperariam do Sabbath.”

Mas o quê, exatamente, a dupla mudou? Antes dessa resposta, voltemos a 1995.

O álbum que quase destruiu o Black Sabbath

Tudo começou quando a I.R.S. Records sugeriu que o Black Sabbath trabalhasse com um produtor mais moderno. Na autobiografia “Iron Man” (Planeta, 2011), Tony Iommi escreve que os executivos da gravadora não paravam de falar a respeito de um cara.

“Era Ernie Cunnigan, o guitarrista da banda Body Count, mais conhecido como Ernie C. Disseram que trabalhar com ele nos daria um pouco mais de credibilidade, porque achavam que a tínhamos perdido.”

Em depoimento ao biógrafo Martin Popoff reproduzido em “Born Again: Black Sabbath nos Anos 80 e 90” (Estética Torta, 2022), Tony Martin recorda-se de uma reunião na qual a colaboração com caras do rap foi apresentada ao grupo como uma ótima ideia.

“Eu não via o benefício disso. Não imaginava como isso daria certo, nem o Cozy [Powell, baterista] (…) Sei que o Aerosmith tentou fazer isso e se deu bem com o Run-DMC, mas, p#ta m#rda, estávamos falando do Black Sabbath (…) Com o tempo, foi comprovado que estávamos certos.”

A Ernie foi dado o benefício da dúvida. Em entrevista ao podcast de Danko Jones, o músico e produtor disse ter informado que faria uso de uma sonoridade mais seca, tendência na época.

“Quando lançamos, o vinil já estava em desuso, então, avisei que deixaria o som mais seco. Os discos dos anos 80 soavam grandes, como tocar dentro de um túnel. O vinil era mais seco, é o que faz o som. […] Quando o Nirvana chegou, o som ficou mais pessoal, como se estivesse na garagem da banda.”

Mas por mais que dissesse o contrário, o produtor cria do hip-hop não sabia nada a respeito do Sabbath. Iommi, que desde os primeiros álbuns sempre se envolveu na produção e na mixagem em determinada altura, ficou fora do caminho.

“Forbidden” foi gravado em oito dias, algo que o Sabbath não fazia desde Paranoid (1970). Iommi queria que o disco parecesse com algo tocado ao vivo, recuperando a sensação de entrar no estúdio, montar o equipamento e só tocar em vez de gravar cada instrumento separadamente. Todavia, o som acabou não ficando bom em nenhuma música, pelo que conta o guitarrista.

“Achei uma porcaria, até mesmo a ilustração da capa. Por isso, não me surpreendi quando o álbum não vendeu bem.”

De barrento a brilhante

Mesmo a sonoridade barrenta de “Forbidden” tendo seus defensores — há quem ouça nela a tal autenticidade dos primórdios que Iommi tanto almejava —, por anos a discussão foi se o álbum, frequentemente apontado como o mais fraco do Sabbath, era, de fato ruim, ou se foi vítima de uma produção infeliz. Será?

A primeira coisa que se precisa ter em mente é que o novo remix não responde a essa questão. Porém, torna a escuta algo mais prazeroso.

Uma das mudanças mais notórias é o despojamento dos efeitos nos vocais. O remix também é eficaz em destacar os instrumentos de forma individual, em contraste com o som comprimido e hermético do original. Partes que estavam completamente enterradas na mixagem inicial agora são audíveis, permitindo uma apreciação mais profunda da complexidade musical da banda.

Martin se beneficia especialmente do novo tratamento, com o que parecem ser diferentes tomadas de voz ausentes na mixagem original. Isso é percebido, por exemplo, em “Get a Grip”.

A guitarra de Iommi, o elemento mais crucial do som do Sabbath, finalmente soa como deveria: nítida, robusta, na linha de frente. O músico também aproveitou tanto para modificar solos quanto para suprimir preenchimentos — como se ouve em “I Won’t Cry for You”. Ao Guitar.com, ele explica:

“Encontrei alguns pedaços de guitarra que Ernie não tinha usado [no álbum original]. Dentro das restrições óbvias, consegui fazer as coisas soarem muito melhores.”

O baixo de Neil Murray está mais encorpado e potente“muito melhor agora”, opinou o músico em postagem nas redes sociais —, enquanto as nuances da bateria do saudoso e genial Cozy Powell são mais claramente perceptíveis.

Outra mudança significativa é a remoção de muitos dos teclados de Geoff Nicholls, especialmente na faixa-título, que também perdeu alguns preenchimentos de guitarra. Há variação de segundos, para mais ou para menos, em todas as músicas, mas “Rusty Angels” e a já citada “I Won’t Cry for You” são as que mais ganharam segundos: 13 a primeira, 36 a segunda. Também tiveram seus finais alterados, com os fade-outs originais dando lugar a arremates precisos.

A título de comparação, o remix trouxe “Forbidden” ao mesmo patamar sonoro do antecessor, Cross Purposes (1994). Não apenas melhora a clareza e a qualidade do som, mas também restaura a identidade do Sabbath de acordo com a sonoridade da banda nos anos 1990.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

5 COMENTÁRIOS

  1. De fato, o disco ficou mais “brilhante” em comparação com o CD. Como ficou mais agradável aos ouvidos, acabei prestando mais atenção nesse disco e agora eu arrisco dizer que o Forbidden é o melhor disco do Sabbath com o Tony Martin, para mim.

  2. Sempre ouvi falar mal dele e nunca me interessei. Por um lado isso foi bom, porque ouvindo agora, concordo com o amigo Juliano: É o melhor disco do Sabbath com o Tony Martin!

  3. é o segundo melhor, em primeiro HEADLESS CROSS, porque lá tem o hino WHEN DEATH CALLS é a melhor música do Sabbath da fase Tony Martin, em terceiro CROSS PURPOSES, é a tríade sagrada da era Tony Martin. SONZERA

  4. A verdade é que Black Sabbath não tem um disco que chega a ser ruim. No caso de Forbidden, algumas músicas não são tão boas, pouco inspiradas, era nítido que Iommi fez o disco na má vontade pra cumprir contrato e voltar logo com a formação original. Mas ainda assim, tem boas músicas como Get a Grip, Kiss of Death, etc. A nova mixagem melhorou consideravelmente o disco como um todo, eu achei que ficou muito boa. Na produção original, a guitarra de Iommi estava irritante, com um som horroroso. Quem sabe Iommi faça o mesmo com Born Again, outro disco com ótimas músicas mas com produção porca

  5. Eu tenho o cd desde algum lugar no tempo da decada de 90, confesso que curto esse disco. Eu acredito que o ranço destinado a ele é por conta do produtor estar envolvido com hip hop.

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O recém-lançado remix do álbum “Forbidden” (1995), do Black Sabbath, como parte do box Anno Domini: 1989-1995, tem gerado uma onda de entusiasmo entre fãs e críticos de música. A nova versão apresenta uma série de modificações na sonoridade original, resgatando a essência da banda que muitos acreditavam estar perdida na versão inicial do álbum.

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Quem assina a remixagem é ninguém menos que Tony Iommi em parceria com o engenheiro de som Mike Exeter. Ao The Midlands Rocks, em 2019, o guitarrista disse que nunca gostou de como o álbum soava e que via no remix “uma oportunidade de voltar atrás e tornar algumas músicas mais parecidas com o que as pessoas esperariam do Sabbath.”

Mas o quê, exatamente, a dupla mudou? Antes dessa resposta, voltemos a 1995.

O álbum que quase destruiu o Black Sabbath

Tudo começou quando a I.R.S. Records sugeriu que o Black Sabbath trabalhasse com um produtor mais moderno. Na autobiografia “Iron Man” (Planeta, 2011), Tony Iommi escreve que os executivos da gravadora não paravam de falar a respeito de um cara.

“Era Ernie Cunnigan, o guitarrista da banda Body Count, mais conhecido como Ernie C. Disseram que trabalhar com ele nos daria um pouco mais de credibilidade, porque achavam que a tínhamos perdido.”

Em depoimento ao biógrafo Martin Popoff reproduzido em “Born Again: Black Sabbath nos Anos 80 e 90” (Estética Torta, 2022), Tony Martin recorda-se de uma reunião na qual a colaboração com caras do rap foi apresentada ao grupo como uma ótima ideia.

“Eu não via o benefício disso. Não imaginava como isso daria certo, nem o Cozy [Powell, baterista] (…) Sei que o Aerosmith tentou fazer isso e se deu bem com o Run-DMC, mas, p#ta m#rda, estávamos falando do Black Sabbath (…) Com o tempo, foi comprovado que estávamos certos.”

A Ernie foi dado o benefício da dúvida. Em entrevista ao podcast de Danko Jones, o músico e produtor disse ter informado que faria uso de uma sonoridade mais seca, tendência na época.

“Quando lançamos, o vinil já estava em desuso, então, avisei que deixaria o som mais seco. Os discos dos anos 80 soavam grandes, como tocar dentro de um túnel. O vinil era mais seco, é o que faz o som. […] Quando o Nirvana chegou, o som ficou mais pessoal, como se estivesse na garagem da banda.”

Mas por mais que dissesse o contrário, o produtor cria do hip-hop não sabia nada a respeito do Sabbath. Iommi, que desde os primeiros álbuns sempre se envolveu na produção e na mixagem em determinada altura, ficou fora do caminho.

“Forbidden” foi gravado em oito dias, algo que o Sabbath não fazia desde Paranoid (1970). Iommi queria que o disco parecesse com algo tocado ao vivo, recuperando a sensação de entrar no estúdio, montar o equipamento e só tocar em vez de gravar cada instrumento separadamente. Todavia, o som acabou não ficando bom em nenhuma música, pelo que conta o guitarrista.

“Achei uma porcaria, até mesmo a ilustração da capa. Por isso, não me surpreendi quando o álbum não vendeu bem.”

De barrento a brilhante

Mesmo a sonoridade barrenta de “Forbidden” tendo seus defensores — há quem ouça nela a tal autenticidade dos primórdios que Iommi tanto almejava —, por anos a discussão foi se o álbum, frequentemente apontado como o mais fraco do Sabbath, era, de fato ruim, ou se foi vítima de uma produção infeliz. Será?

A primeira coisa que se precisa ter em mente é que o novo remix não responde a essa questão. Porém, torna a escuta algo mais prazeroso.

Uma das mudanças mais notórias é o despojamento dos efeitos nos vocais. O remix também é eficaz em destacar os instrumentos de forma individual, em contraste com o som comprimido e hermético do original. Partes que estavam completamente enterradas na mixagem inicial agora são audíveis, permitindo uma apreciação mais profunda da complexidade musical da banda.

Martin se beneficia especialmente do novo tratamento, com o que parecem ser diferentes tomadas de voz ausentes na mixagem original. Isso é percebido, por exemplo, em “Get a Grip”.

A guitarra de Iommi, o elemento mais crucial do som do Sabbath, finalmente soa como deveria: nítida, robusta, na linha de frente. O músico também aproveitou tanto para modificar solos quanto para suprimir preenchimentos — como se ouve em “I Won’t Cry for You”. Ao Guitar.com, ele explica:

“Encontrei alguns pedaços de guitarra que Ernie não tinha usado [no álbum original]. Dentro das restrições óbvias, consegui fazer as coisas soarem muito melhores.”

O baixo de Neil Murray está mais encorpado e potente“muito melhor agora”, opinou o músico em postagem nas redes sociais —, enquanto as nuances da bateria do saudoso e genial Cozy Powell são mais claramente perceptíveis.

Outra mudança significativa é a remoção de muitos dos teclados de Geoff Nicholls, especialmente na faixa-título, que também perdeu alguns preenchimentos de guitarra. Há variação de segundos, para mais ou para menos, em todas as músicas, mas “Rusty Angels” e a já citada “I Won’t Cry for You” são as que mais ganharam segundos: 13 a primeira, 36 a segunda. Também tiveram seus finais alterados, com os fade-outs originais dando lugar a arremates precisos.

A título de comparação, o remix trouxe “Forbidden” ao mesmo patamar sonoro do antecessor, Cross Purposes (1994). Não apenas melhora a clareza e a qualidade do som, mas também restaura a identidade do Sabbath de acordo com a sonoridade da banda nos anos 1990.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

5 COMENTÁRIOS

  1. De fato, o disco ficou mais “brilhante” em comparação com o CD. Como ficou mais agradável aos ouvidos, acabei prestando mais atenção nesse disco e agora eu arrisco dizer que o Forbidden é o melhor disco do Sabbath com o Tony Martin, para mim.

  2. Sempre ouvi falar mal dele e nunca me interessei. Por um lado isso foi bom, porque ouvindo agora, concordo com o amigo Juliano: É o melhor disco do Sabbath com o Tony Martin!

  3. é o segundo melhor, em primeiro HEADLESS CROSS, porque lá tem o hino WHEN DEATH CALLS é a melhor música do Sabbath da fase Tony Martin, em terceiro CROSS PURPOSES, é a tríade sagrada da era Tony Martin. SONZERA

  4. A verdade é que Black Sabbath não tem um disco que chega a ser ruim. No caso de Forbidden, algumas músicas não são tão boas, pouco inspiradas, era nítido que Iommi fez o disco na má vontade pra cumprir contrato e voltar logo com a formação original. Mas ainda assim, tem boas músicas como Get a Grip, Kiss of Death, etc. A nova mixagem melhorou consideravelmente o disco como um todo, eu achei que ficou muito boa. Na produção original, a guitarra de Iommi estava irritante, com um som horroroso. Quem sabe Iommi faça o mesmo com Born Again, outro disco com ótimas músicas mas com produção porca

  5. Eu tenho o cd desde algum lugar no tempo da decada de 90, confesso que curto esse disco. Eu acredito que o ranço destinado a ele é por conta do produtor estar envolvido com hip hop.

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