Quem criou o quê em “Comfortably Numb”, do Pink Floyd? Waters e Gilmour discordam

Clássico do álbum “The Wall” (1979) foi a última colaboração entre os dois, além de ter sido mais um capítulo na eterna "guerra" entre os músicos

A música Comfortably Numb não é apenas um dos maiores sucessos do Pink Floyd. O terceiro e último single de The Wall (1979) representa um momento interessante da “guerra” travada entre Roger Waters e David Gilmour. É o capítulo final de embates internos, já que o álbum seguinte, The Final Cut (1983), foi criado apenas por Waters — que saiu da banda pouco tempo depois.

Roger e David assinam a composição de “Comfortably Numb”, uma das poucas em que trabalharam juntos em “The Wall” – as outras são “Run Like Hell” e “Young Lust”. O disco é praticamente uma autobiografia de Waters, que é responsável também por todas as letras do disco. Quis o destino que aquela fosse também a última música a criar com Gilmour até hoje – e provavelmente para sempre.

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Os dois não discordam a respeito dos créditos. Os dois a conceberam. Divergem, porém, sobre o quanto cada um contribuiu para a versão final da canção.

Sabe-se que a ideia original veio de Gilmour, que trabalhava na música para seu primeiro álbum solo, homônimo, lançado em 1978. O guitarrista chegou a definir “minha música, letra dele”, durante entrevista para a revista Mojo (via Songfacts), mas é aí que começa a discordância.

“Comfortably Numb” — música e letra ou só letra?

Para Roger Waters, a contribuição de David Gilmour foi menor. O baixista declarou, na reportagem matéria da Mojo, que o ex-colega trouxe apenas com a ideia base. Roger alega ter desenvolvido a maior parte do trabalho musical restante, além da letra. Ele afirmou:

“David me deu uma sequência de acordes, então se você quer brigar sobre isso – e eu não quero brigar sobre isso –, eu poderia dizer que compus a melodia e toda a letra, obviamente. Acho que nos refrãos ele cantarolou um pedaço da melodia, mas nos versos certamente não. Isso nunca foi um problema para mim, acho que é uma ótima sequência de acordes.”

A letra de “Confortably Numb” é uma das poucas coisas sobre a faixa que não gera discussão. Assim como todo o conceito de “The Wall”, ela foi ideia de Waters e faz um paralelo entre duas situações vividas por ele.

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A primeira, na infância, foi quando ele teve uma febre, acompanhada pela sensação de tranquilidade. Foi daí que veio o verso “When I was a child I had a fever / My hands felt just like two balloons” (“Quando eu era criança, tive uma febre / sentia minhas mãos como dois balões”).

A segunda situação aconteceu em um show em 1977, quando Waters estava doente e sentia fortes dores estomacais. Ele relembra:

“Isso veio de um show específico no Spectrum, na Filadélfia (29 de junho de 1977). Eu tinha dores de estômago tão fortes que achei que não seria capaz de tocar. Um médico no backstage me deu uma injeção de alguma coisa que eu juro por Deus que poderia ter matado uma p*rra de um elefante. Fiz o show inteiro com dificuldade para levantar a mão acima do joelho. Ele disse que era um relaxante muscular, mas me deixou quase insensível. Foi tão ruim no fim do show que o público estava pedindo mais. Eu não conseguia. Eles fizeram o bis sem mim.”

O “Frankenstein” em estúdio do Pink Floyd

Ainda nas gravações, “Comfortably Numb” já gerou problemas entre David Gilmour e Roger Waters. Foram feitas duas versões e cada um gostou de uma delas. Depois de muita briga, decidiram intercalar versos e partes das versões favoritas de cada um. Esse é o resultado final que saiu em “The Wall”.

Em entrevista à Absolute Radio (transcrita pelo Showbiz Cheatsheet), o baixista e vocalista relembrou essa parte da treta:

“Provavelmente é uma história em que a memória de David e a minha seriam quase exatamente as mesmas. Tínhamos feito uma faixa rítmica – então seria bateria, baixo, guitarra ou qualquer outra coisa – e eu adorei. Ele achou que não era preciso ritmicamente o suficiente e recortou a faixa da bateria, algo mais e disse: ‘Pronto, está melhor’. E eu ouvi e disse: ‘Não, não está. Eu odeio isso’. Então essa era toda a discordância. E no final, a faixa que está no disco, a primeira estrofe é da versão que eu gostei, e a segunda estrofe é da versão que ele gostou, depois um pouco de refrão meu e um pouco dele. Foi uma negociação e um compromisso.”

Waters estava certo sobre a memória de Gilmour. O guitarrista contou exatamente a mesma história sob a sua perspectiva para a Guitar World em 1993. Ele disse:

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“Nós mudamos o tom da abertura da música de E para B, eu acho. O verso ficou exatamente o mesmo. Então tivemos que adicionar um pedaço, porque Roger queria cantar o verso ‘I have become confortably numb’. Fora isso, foi muito, muito simples de compor. Mas as discussões sobre ela eram sobre como deveria ser mixada e qual faixa deveríamos usar. Nós fizemos uma gravação com Nick Mason na bateria que eu achei muito bruta e desleixada. Tentamos de novo e achei o segundo take melhor. Roger discordou.”

Gilmour ainda conclui mostrando não ter se apegado tanto a detalhes com o passar dos anos:

“Era mais uma coisa de ego do que qualquer coisa. Nós realmente batemos de frente um com o outro por uma coisa tão pequena. Eu provavelmente não conseguiria mostrar a diferença se você colocasse as duas versões em um disco hoje.”

Pink Floyd e “Confortably Numb”

Além dos quatro membros do Pink Floyd à época, “Comfortably Numb” contou com orquestrações de Michael Kamen e violão do guitarrista de jazz Lee Ritenour. Lançada como single, ganhou disco de platina no Reino Unido, tendo “Hey You” como lado B.

Foi a última colaboração da dupla Gilmour/Waters e também foi a última música tocada na derradeira apresentação oficial da banda, ocorrida durante o evento beneficente Live 8, realizado em 2 de junho de 2005. O quarteto se apresentou em Londres, no Hyde Park.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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