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Hardcore Superstar supera traumas e problema técnico com bom show em SP

Ainda que para público reduzido, apresentação no Carioca Club mostrou por que banda sueca é uma das mais interessantes do hard rock anos 2000

Quando começou a falhar o som do Hardcore Superstar logo durante a terceira música do show do último sábado (18), no Carioca Club, em São Paulo, o fã de longa data deve ter pensado: “esses caras não dão sorte com a gente mesmo”. Ou só veio à mente algum palavrão mesmo.

Até então, era ligeiramente traumático o histórico do grupo de hard rock, formado em 1997 na cidade sueca de Gotemburgo, com o Brasil. Em 2009, faria sua estreia no país com duas apresentações no Manifesto Bar, também na capital paulista. Porém, foi preciso cancelar ambos os compromissos porque o vocalista Joakim “Jocke” Berg estava com sintomas de gripe e febre alta, o que impossibilitou seu embarque de Paris, na França, à megalópole brasileira.

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Passados quase 15 anos, uma nova tentativa: a banda composta por Jocke, Vic Zino (guitarra), Martin Sandvik (baixo) e Magnus “Adde” Andreasson (bateria) confirmou três shows no Brasil, contemplando não apenas SP, como também Belo Horizonte e Curitiba. Contudo, a turnê precisou ser adiada em um mês devido a problemas familiares de Zino.

Foto: Thammy Sartori

Adde também pode estar com situações pessoais a serem resolvidas. O motivo? Para as datas remarcadas, trouxeram para a bateria Johan Reivén, produtor do álbum homônimo de 2005 (também conhecido como “Black Album”) e do trabalho mais recente, “Abrakadabra” (2022).

Com o adiamento, houve quem pensasse que as apresentações acabariam canceladas de vez. Felizmente, isso não aconteceu. Mas o problema de som logo na terceira música do set na capital paulista — a saber, “Into Debauchery” — colocou todo mundo, novamente, em estado de alerta. Também felizmente, a questão foi resolvida.

Foto: Thammy Sartori

Inluzt e Nite Stinger

Antes do Hardcore Superstar subir ao palco, o evento produzido pela Dark Dimensions contou com duas bandas de abertura: Inluzt e Nite Stinger. Ambas são figurinhas carimbadas da cena hard rock de São Paulo; ambas têm pontos a serem ajustados caso a intenção seja alçar voos mais altos.

Do Inluzt, que se descreve como sleaze metal (embora fique devendo no peso), não dá para reclamar de entrega. Fabz (voz), Roxx (guitarra), Mexx (baixo) e Lexxi (bateria) trataram a apresentação para um público bem reduzido — dá para chutar que havia uns 100 presentes no momento inicial — como se estivessem diante de uma arena lotada. Não baixaram a guarda mesmo com problemas de som, tanto na guitarra quanto no baixo, especialmente na segunda etapa do show.

Só não foi o suficiente, até porque nem tudo se conquista só na raça. Boa parte do repertório do grupo soa genérico, caindo sempre em algumas armadilhas criativas que fazem o ouvinte pensar: “já ouvi isso antes”. Se é a intenção, não deveria. Canções como “Revolution”, “Untamed”, “Inluzt Boys” e “Temptation” mostram que o grupo ainda tem arestas a aparar, tanto no âmbito criativo quanto em performance — os quatro são bons músicos, com destaque à bateria de Lexxi, mas o som ao vivo fica bem vazio se comparado às gravações em estúdio.

Foto: Thammy Sartori

Com o Nite Stinger, houve melhora no que diz respeito ao preenchimento do som. Apesar do aparente uso de backing vocals pré-gravados (com coros acionados quando só havia uma pessoa, o próprio vocalista principal, diante do microfone), os timbres usados eram mais sóbrios, menos abelhudos. Porém, a lacuna criativa esteve ainda mais evidente — e foi complementada por uma performance menos enérgica, passando a sensação de sempre estar com o pé no freio.

A escolha de setlist foi próxima do que se viu no show de abertura para Johnny Gioeli em fevereiro último; o que é natural, já que a banda ainda não lançou tantas músicas autorais. Para o novo compromisso, havia dois integrantes diferentes no palco: Marc DeLuca (guitarra solo, também Paradise Inc) e Rafael Rosa (bateria, também Sinistra), ao lado de Jack Fahrer (voz), Bento Mello (baixo, também Sioux 66) e Bruno Marx (guitarra).

Foto: Thammy Sartori

Mesmo com os novos músicos, as questões do início do ano se repetiram: as canções não engrenam. Exceção feita ao hard rock com cara de hino “You Want It, You Got It” e à semibalada “Let Me In”, as músicas sempre começavam com alguma empolgação, mas entravam em versos pouco convincentes ou, mais frequentemente, refrães mornos. Os vocais pouco variantes de Fahrer e os ritmos quase sempre cadenciados parecem ser os principais responsáveis. Como dito lá em fevereiro: há potencial e recurso técnico para ser diferente, é só querer.

Foto: Thammy Sartori

Hardcore Superstar

O cancelamento de 2009 e o adiamento do último mês parece ter feito o Hardcore Superstar iniciar seu show com ainda mais “fome de jogo” que o habitual — mesmo que diante de um Carioca Club parecendo ter apenas metade de sua capacidade máxima (de mil pessoas) preenchida. Na abertura “Abrakadabra”, única faixa do álbum mais recente da banda a aparecer no setlist, até faltou palco para Jocke percorrer: o vocalista não parou quieto e cumprimentou todos que estavam nas primeiras fileiras por diversas vezes.

“Electric Rider”, que enfim deixou o público tão elétrico quanto o frontman, apresentou de vez as credenciais do HCSS: hard rock com veia sleaze, mas um pé no heavy metal, especialmente pelas guitarras de Vic Zino. É o que torna este grupo um dos mais interessantes na cena revivalista dos anos 2000. Ao fim, uma promessa que seria repetida outras vezes: “esta é a nossa primeira vez no Brasil e não será a última”.

Foto: Thammy Sartori

E aí veio o problema descrito nos primeiros parágrafos deste texto. Justo em “Into Debauchery”, representante isolada de “Beg for It” (2009), um dos melhores álbuns do grupo. E logo no solo de guitarra. O som não chegou a cair por completo, só ficou muito mais baixo; era como se apenas parte do sistema de P.A.’s tivesse falhado. O quarteto demorou um pouquinho a perceber, o que gerou uma situação curiosa: seguiram tocando no volume cinco enquanto o público assumiu as rédeas e cantou ainda mais alto.

Foram necessários 20 minutos de interrupção para resolver o problema. Praticamente em nenhum momento o palco ficou abandonado: os integrantes foram à frente diversas vezes para conversar com os fãs e Vic Zino chegou a ficar solando por um tempo enquanto tudo se resolvia. Isso certamente ajudou a manter a plateia ainda quente para a chegada da heavy blues “Wild Boys”, quando todas as questões já haviam sido resolvidas. A quarta música do setlist seria apenas a primeira de seis do álbum homônimo de 2005, o “Black Album” do Hardcore Superstar, de longe o mais lembrado naquela noite.

Foto: Thammy Sartori

A grudenta “My Good Reputation”, outra do mesmo disco, antecedeu uma viagem ainda maior ao tempo com “Liberation”, vinda do segundo álbum “Bad Sneakers and a Piña Colada” (2000) e responsável por evidenciar como a banda evoluiu com o passar dos anos, já que essa faixa tem andamento um tanto previsível. Tanto show quanto clima estavam quentes demais, então, Jocke ofereceu água a fãs próximos do palco e o grupo iniciou seu “momento balada” com “Standin’ on the Verge”, executada apenas com voz e guitarra, e a afável “Someone Special”, com baixo + bateria entrando na segunda metade e longo solo de Vic Zino.

Foto: Thammy Sartori

Como se faltassem músicas do “Black Album”, entrou mais uma que, segundo Jocke, não é tão executada pelo grupo, mas entrou no repertório da turnê nacional. Era a protocolar “Last Forever”, ocupando espaço que poderia ser destinado a “Dreamin’ in a Casket” ou a alguma faixa de “Beg for It”. Ao menos serviu para anteceder uma das melhores e mais pesadas passagens do show, com “Moonshine” (segunda canção mais ouvida do grupo no Spotify) e “Bag on Your Head”.

Foto: Thammy Sartori

Outra faixa bastante popular do grupo, “Last Call for Alcohol” encerrou o set regular com direito a ser estendida em seu miolo para que Jocke distribuísse copos de cerveja aos fãs. Para o bis, duas canções que encerraram a noite com gosto de “quero mais”: o hit “We Don’t Celebrate Sundays”, que levou o público à loucura, e a grudenta “You Can’t Kill My Rock ‘n Roll”, cujo título estava escrito na camiseta do vocalista.

Descontada a paralisação no início, foi um show relativamente curto, de 75 minutos — um dos poucos problemas da apresentação, além da pouca variedade de álbuns representados no repertório. Fora isso, não houve do que reclamar. O quarteto caprichou na execução de suas músicas, mesmo tendo um baterista substituto, e a plateia respondeu à altura, especialmente nas partes inicial e final. Resta saber se irão voltar mesmo — e, caso o retorno ocorra, se haverá público para ao menos encher o Carioca Club. Esperamos que sim.

*Fotos de Thammy Sartori. Mais imagens ao fim da página.

Foto: Thammy Sartori

Hardcore Superstar – ao vivo em São Paulo

  • Local: Carioca Club
  • Data: 18 de novembro de 2023
  • Turnê: Abrakadabra

Repertório:

  1. Abrakadabra
  2. Electric Rider
  3. Into Debauchery
  4. Wild Boys
  5. My Good Reputation
  6. Liberation
  7. Standin’ on the Verge
  8. Someone Special
  9. Last Forever
  10. Moonshine
  11. Bag on Your Head
  12. Last Call for Alcohol

Bis:

  1. We Don’t Celebrate Sundays
  2. You Can’t Kill My Rock ‘n Roll

Hardcore Superstar:

Foto: Thammy Sartori
Foto: Thammy Sartori
Foto: Thammy Sartori
Foto: Thammy Sartori
Foto: Thammy Sartori
Foto: Thammy Sartori
Foto: Thammy Sartori
Foto: Thammy Sartori
Foto: Thammy Sartori
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Nite Stinger:

Foto: Thammy Sartori
Foto: Thammy Sartori
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Inluzt:

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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