Bruce Dickinson já havia colaborado com as composições do Iron Maiden em seu disco de estreia, “The Number of the Beast” (1982). Porém, devido a questões contratuais, não pôde ser creditado. Sua inclusão definitiva no time criativo aconteceu no trabalho seguinte, “Piece of Mind” (1983).
E não dá para negar que a permissão do baixista e líder Steve Harris gerou um acréscimo e tanto à banda. O frontman ampliou o espectro de temas abordados nas letras, buscando elementos mitológicos e de ficção científica. Também criou uma dobradinha altamente eficiente com o guitarrista Adrian Smith, que se estenderia até mesmo para fora do grupo na década seguinte, com resultados tão bons quanto.
Porém, também é sabido que a relação do cantor com o patrão nem sempre foi a mais pacífica. Um dos atritos aconteceu justamente nesse período, como Bruce relembrou em sua biografia oficial, “Para que serve esse botão?” (2017).
Avesso a guinadas comerciais, Steve fazia de tudo para proteger a integridade musical da Donzela de Ferro. Dickinson resolveu ir para um arrisca tudo, contando com o aval de Smith e do empresário da banda, Rod Smallwood. O resultado foi “Flight of Icarus”, primeira criação da história do Iron Maiden sem a participação de Harris.
A letra de “Flight of Icarus”
A temática de “Flight of Icarus” é baseada de maneira livre no mito grego de Ícaro. Filho de Dédalo, foi preso com o pai após revelar os segredos do labirinto do Minotauro a Ariadne. Essa passou as informações a Teseu, que matou o ser.
Visando escapar da detenção, os dois projetaram asas feitas com penas de gaivotas e coladas com cera de abelha. Eles conseguiram sair voando da Ilha de Creta. Porém, tomado pela vaidade e o senso de poder, Ícaro foi mais longe, chegando próximo ao sol. Com o calor, a cera de abelha derreteu e as penas se desprenderam. Ícaro caiu no mar Egeu e morreu afogado. Seu pai nada pode fazer e assistiu tudo agoniado.
Conforme o site Sua Pesquisa, há um significado por trás da história:
“Como sabemos, os gregos antigos passavam ensinamentos através de lendas e mitos. A lenda de Ícaro, era contada, principalmente, para ensinar a importância da humildade após um êxito (vitória) e também de seguir as orientações dos mais experientes (no caso desse mito é Dédalo, seu pai). O mito também faz referência sobre a impossibilidade de um ser humano querer ter poderes semelhantes aos dos deuses.”
Bruce Dickinson desafia Steve Harris
Bruce Dickinson também resolveu desafiar o poder supostamente intransponível de Steve Harris. Mas se deu bem, como o próprio conta:
“Rod decidira jogar tudo contra a banca nos Estados Unidos e apostara na nossa capacidade de nos estabelecermos como headliners. As redes sociais não existiam. Todo o poder era do rádio. Se conseguíssemos emplacar uma faixa na programação das emissoras, nos daríamos muito bem – trabalho duro e turnês dariam conta do resto. Eu disse a ele que ‘Flight of Icarus’ seria a música.”
Ainda havia uma pessoa a convencer. Alguém que não estava disposto a ceder tão facilmente.
“Quando gravamos a faixa, tive um embate com Steve quanto ao andamento. Ele queria tocar tudo bem mais rápido, quase como um shuffle. Peitei-o e ele relutantemente cedeu, deixando que eu ditasse o timing.”
Porém, Dickinson precisou cometer um pecado, quando interpelado:
“- Isso não tem nada a ver com querer tocar no rádio, tem? – cobrou Steve.
– Ah, não. Deus que me perdoe. Claro que não – menti.”
No fim das contas, a aposta se pagou.
“Gravamos daquela forma e entramos no top 10 da parada radiofônica, fora de todos os padrões. Aliás, acho que o andamento certo era aquele mesmo, independentemente de qualquer coisa. Mas tenho certeza que Steve discorda porque já faz trinta anos que não a tocamos ao vivo.”
De fato, Harris deixou claro por muitos anos que não gostava de “Flight of Icarus” – assim como de “Run to the Hills”. Porém, nas turnês mais recentes, após a publicação do livro, ela voltou ao setlist.
Iron Maiden e “Piece of Mind”
Lançado em 16 de maio de 1983, “Piece of Mind” foi o quarto álbum completo do Iron Maiden. Marcou a estreia do baterista Nicko McBrain, titular da função até os dias atuais. A sonoridade ganhou maiores requintes melódicos, explorando influências épicas.
Inicialmente, o título do trabalho seria “Food For Thought”. A mudança ocorreu durante as gravações, com uma alusão à expressão “peace of mind” – no Brasil mais comumente adaptada para “paz de espírito”. Chegou ao 3º lugar na parada britânica, ganhando disco de platina, feito repetido nos Estados Unidos.
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