Entrevista: Simon McBride fala sobre Deep Purple, Morse, Blackmore e mais

Com guitarrista mais heavy que seu antecessor, veterana banda de hard rock retorna ao Brasil para quatro shows, um deles no festival Monsters of Rock

Não é um clichê quando se diz que o Deep Purple tem relação especial com o Brasil. Estamos falando de uma banda que, de acordo com o Setlist.fm, já realizou 69 apresentações por aqui até o momento, em 12 turnês diferentes – a primeira aconteceu em 1991 e a mais recente, em 2017.

E está na hora da décima terceira visita acontecer, já que os gigantes do hard rock devem estar com saudades. Desde a segunda tour em território nacional, em 1997, o Purple nunca ficou tanto tempo sem vir aqui. O hiato mais longo até então era de três anos. Apresentações em Brasília (18/04, junto do Kiss), São Paulo (22/04, festival Monsters of Rock), Curitiba (23/04) e Ribeirão Preto (25/04, festival Ribeirão Rock Series) vão colocar fim a este agridoce hiato, reforçado pela pandemia.

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Muita coisa aconteceu com o grupo desde a última visita. À época, eles estavam em uma turnê de despedida, apropriadamente chamada de “The Long Goodbye”. Já era um indicativo de que eles não queriam sair de cena. E não deu outra: após a conclusão do giro, em dezembro de 2019, os músicos fizeram uso do lockdown para lançar dois álbuns – “Whoosh!” (2020) e o trabalho de covers “Turning to Crime” (2021) – e retornaram aos palcos logo no início de 2022, quando a Covid-19 deu trégua de vez.

Nesse ínterim, até a formação mudou. Em março do ano passado, o guitarrista Steve Morseentrevistado pelo site durante a viagem anterior ao Brasil – se afastou temporariamente para cuidar de sua esposa, Janine, na luta dela contra um câncer. Quatro meses depois, foi confirmado que a retirada seria em definitivo. A vaga ficou com Simon McBride, músico que já havia excursionado anteriormente com dois integrantes do grupo: o vocalista Ian Gillan e o tecladista Don Airey.

Já nas primeiras apresentações, ainda enquanto membro provisório, McBride mostrou-se um guitarrista diferente de Morse. Não melhor, nem pior; apenas distinto. Reconhecido virtuoso do jazz fusion, Steve se notabilizou por trazer desde 1994 uma série de variações e texturas sonoras que não eram percebidas no Deep Purple com Ritchie Blackmore, membro fundador a quem substituiu. Simon, por sua vez, não esconde ser um legítimo filho do hard rock e heavy metal, ainda que não se limite a tais referências e também tenha se provado bastante fluido no blues.

As diferenças foram comentadas pelo próprio Simon McBride em entrevista a IgorMiranda.com.br. Além do background artístico, o atual guitarrista do Deep Purple – que vem ao Brasil pela primeira vez em sua vida – destacou a diferença de 25 anos de idade entre ele, nascido em 1979, e seu antecessor, que veio ao mundo em 1954.

“Cada guitarrista é diferente. Você pode tentar soar como outra pessoa, mas no final das contas, você soará como você. Steve é um grande músico, mas ele tem uma formação diferente da minha. Acho que Steve vem de uma origem mais country, enquanto eu cresci no período do rock dos anos 80. Tudo se resume às suas influências.”

A sonoridade mais agressiva do “novato” trouxe uma dose extra de peso ao som do Deep Purple. E isso foi feito de forma natural, sem nem precisar mudar o repertório, pouquíssimo alterado nos últimos anos. Aliás, McBride já adianta: no Brasil, vão tocar as mesmas músicas já performadas em outras ocasiões recentes, com bastante foco no álbum “Machine Head” (1972) – tocado quase na íntegra – e algumas pérolas como “Perfect Strangers”, “Black Night” e “Anya”, esta última do pouco lembrado disco “The Battle Rages On…” (1993).

“O setlist vai ser praticamente o mesmo. Temos um setlist, mas às vezes a gente muda no dia do show. Depende da ocasião. Por exemplo: se for um show em um festival, tentamos manter mais agitado, com menos músicas lentas. A razão pela qual tocamos muitas músicas do ‘Machine Head’ é por ser isso que os fãs querem ouvir.”

Música no sangue

“Emocionante”. Esta foi a palavra usada por Simon McBride ao ser convidado a descrever como é um show do Deep Purple na atualidade. O “novinho” não era nem nascido quando a música pesada foi revolucionada por Ian Gillan, o baixista Roger Glover e o baterista Ian Paice, os remanescentes da chamada formação clássica do Deep Purple – completa por Ritchie Blackmore (guitarra) e o saudoso Jon Lord (teclado), falecido em 2012.

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A saber: Gillan e Glover nasceram em 1945; Paice, em 1948, assim como Don Airey, que ocupou a vaga de Lord em 2002. Curiosamente, o tecladista entrou para o Rainbow, banda formada por Blackmore após seu rompimento com o Purple, justamente no ano em que McBride deixou a barriga da mamãe, em 1979.

O guitarrista, aliás, não teme que seus colegas resolvam novamente se aposentar. Nem ele acredita que isso pode acontecer:

“Acho que se você é músico, você nunca vai se aposentar. Está no seu sangue. É muito difícil deixar de fazer turnês pelo resto da vida e simplesmente não fazer mais nada.”

É improvável que o Purple interrompa suas atividades no momento. Findada a turnê pela América do Sul, o grupo fará entre junho e julho uma turnê pela Europa, com os tradicionais festivais de verão do continente em seu itinerário. Em meio aos compromissos na estrada, um novo álbum está sendo feito. Simon adianta:

“Sim, temos trabalhado em um novo material que soa legal, é muito empolgante. É um pouco diferente e provavelmente mais parecido com o material antigo da banda, na minha opinião.”

A sombra de Ritchie Blackmore

O Deep Purple olha para frente, mas muitos fãs seguem apegados ao passado e desejam um retorno de Ritchie Blackmore – ainda que o próprio veterano tenha dito inúmeras vezes que jamais se reuniria com os ex-colegas. Por um lado, é natural que parte do público anseie por isso, considerando que as obras mais conhecidas do grupo foram produzidas com o intempestivo guitarrista. Mas já se passaram três décadas desde o rompimento. Tanto o Purple quanto Blackmore mudaram muito e estão bem distantes, musicalmente, do som que faziam em décadas passadas.

Simon McBride tem consciência de que a “sombra” de Ritchie sempre rondou pela banda, inclusive ao longo da extensa passagem de Steve Morse. Ainda assim, ele garante que não se incomoda.

“Eu simplesmente não me preocupo com isso. Existem os fãs hardcore de Ritchie que acreditam que o Purple acabou com a saída dele tantos anos atrás – embora Steve tenha ficado na banda por mais tempo que Ritchie. [Risos] Os fanáticos do Ritchie podem ser muito cruéis com comentários online, mas sendo honesto: eu não me importo com o que pensam de mim, apenas faço o que faço, pois é tudo o que sei fazer.”

Ao mencionar os covardes trolls de internet, o músico faz questão de destacar: são minoria. Barulhentos, mas em menor parte. A gigantesca maioria é receptiva e faz questão de exaltar o trabalho feito junto ao Purple.

“Para ser sincero, 90% das pessoas e comentários nas mídias sociais foram muito respeitosos e positivos para mim, o que é sempre bom de ouvir, sendo o cara novo na banda. Sempre existirão os ‘guerreiros do teclado’, como eu os chamo, o mundo está cheio de pessoas sem educação que sentem a necessidade de insultar outras pessoas sem motivo, mas eu simplesmente não me importo com o que os idiotas pensam. [Risos]”

A grande lição do “lutador”

Antes de envolver-se com o “lado roxo da força”, Simon McBride construiu carreira como músico de estúdio e integrante do Sweet Savage, banda de heavy metal que teve ninguém menos que Vivian Campbell (Dio, Whitesnake, Def Leppard) como membro no início dos anos 1980. A passagem do atual guitarrista do Deep Purple se deu entre 1996 e 1998 e trouxe ao público dois álbuns: “Killing Time” (1996) e “Rune” (1998).

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Desde 2008, McBride também produz em carreira solo. Seu álbum mais recente, “The Fighter”, saiu em maio do ano passado e chamou atenção por sua sonoridade híbrida. Ainda que calcado no rock clássico, o tracklist explora influências que vão do blues e da soul music ao hard rock tão amado pelo autor da obra – que garante estar feliz com a repercussão do registro.

“Estou muito orgulhoso desse álbum. Foi gravado de forma estranha, já que parte dele foi feito em estúdio e parte dele teve que ser feita online, via Dropbox, por motivos relacionados à Covid-19. No entanto, acabou saindo melhor do que eu esperava. As reações foram ótimas e está vendendo bem, o que é ótimo.”

Apesar disso, o Purple é prioridade número um no momento. E o grande aprendizado extraído por Simon deste período ao lado dos colegas veteranos é, ao mesmo tempo, uma verdadeira mensagem de motivação.

“A maior lição que aprendi é nunca desistir e estar preparado para qualquer coisa. Nunca pensei que estaria no Deep Purple, uma das bandas de rock mais icônicas da história. Aí, do nada, recebo uma ligação para me juntar a eles. Meu mundo foi transformado em questão de alguns meses.”

Serviço – Deep Purple no Brasil

O Deep Purple se apresenta em Brasília (18/04, junto do Kiss), São Paulo (22/04, festival Monsters of Rock), Curitiba (23/04) e Ribeirão Preto (25/04, festival Ribeirão Rock Series). Clique aqui para comprar ingressos.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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