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Conheça os diferentes álbuns australianos do AC/DC

Banda liderada pelos irmãos Young lançou vários discos em seu país de origem antes de estourar mundialmente

Muito antes de bombar mundo afora, o AC/DC não passava de um fenômeno local que conseguia pagar as contas graças às performances sempre eletrizantes que apresentava. Sob o comando dos irmãos Angus (guitarra solo) e Malcolm Young (guitarra base) e tendo no roadie promovido a vocalista Bon Scott o perfeito mestre de cerimônias, o grupo chamou a atenção de uma gravadora da Austrália, a Albert Productions, antes de ser comercializado para além de seu país de origem sob a égide da poderosa Atlantic Records.

Nota-se nestes anos iniciais que o mercado australiano tinha o privilégio de deter a exclusividade de alguns produtos. De 1975 a 1979, o público consumidor de lá foi frequentemente presenteado com itens únicos, que vão desde LPs exclusivos — que contêm, por conseguinte, faixas exclusivas — a artes de capa disponíveis somente naquele território.

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O presente artigo tem por missão evidenciar o que diferencia as versões australianas das internacionais dos álbuns de estúdio lançados pelo AC/DC nos anos 1970. Confira!

Os álbuns australianos do AC/DC

“High Voltage”

O AC/DC encontrou uma boa maneira de capturar a energia de seus shows para o seu álbum de estreia: eles iam para o estúdio gravar logo após se apresentarem ao vivo. O resultado, “High Voltage”, soa bastante cru, mas enérgico, com o toque dos produtores Harry Vanda e George Young — irmão mais velho de Angus e Malcolm —, outrora integrantes do grupo The Easybeats, mais conhecido pelo hit “Friday On My Mind” (1966).

O “High Voltage” lançado na Austrália em 17 de fevereiro de 1975 é um álbum diferente daquele lançado no resto do mundo em 30 de abril de 1976. “She’s Got Balls” e “Little Lover” são as únicas das oito canções do repertório que as duas versões compartilham. Outras quatro — “You Ain’t Got a Hold on Me”, “Show Business”, “Soul Stripper” e “Baby, Please Don’t Go” — acabariam por se tornar parte do EP “’74 Jailbreak” (1984).

As duas restantes, “Stick Around” e “Love Song” — canção de amor piegas que Angus aponta como a música do AC/DC de que menos gosta —, permaneceriam exclusivas na Austrália até 2009, ano do lançamento da caixa “Backtracks” contendo raridades da banda.

No final de junho, meros quatro meses após ser lançado, “High Voltage” ganhou disco de ouro. Imediatamente, o AC/DC foi a Sydney para gravar o segundo álbum. No mesmo mês, o single “High Voltage” — a primeira música do AC/DC em que o baterista Phil Rudd toca e que acabou não sendo incluída no disco homônimo —, foi lançado.

“High Voltage” (versão australiana):

  1. Baby, Please Don’t Go
  2. She’s Got Balls
  3. Little Lover
  4. Stick Around
  5. Soul Stripper
  6. You Ain’t Got a Hold on Me
  7. Love Song
  8. Show Business

“High Voltage” (versão internacional):

  1. It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock ‘n’ Roll)
  2. Rock ‘N’ Roll Singer
  3. The Jack
  4. Live Wire
  5. T.N.T.
  6. Can I Sit Next to You Girl
  7. Little Lover
  8. She’s Got Balls
  9. High Voltage

“T.N.T.”

Apesar de ser o único álbum australiano sem um equivalente internacional, oito faixas de “T.N.T.” aparecem no “High Voltage” lançado no resto do mundo.

Além do título e da capa que traz uma figura de dois dormentes de ferrovia com as letras T.N.T. pintadas em estêncil por cima, apenas duas faixas distinguem um álbum do outro. São elas: “She’s Got Balls” e “Little Lover” incluídas no lugar de “Rocker” — que mais tarde apareceria em “Dirty Deeds Done Dirt Cheap” — e o cover de “School Days”, de Chuck Berry.

Se a maioria das músicas era do “T.N.T.”, então por que o disco foi chamado de “High Voltage”? Fica aí o questionamento.

“T.N.T.” vendeu 11 mil cópias na semana do lançamento e chegou à 2ª posição nas paradas australianas. Em poucas semanas, o álbum já seria disco de outro triplo.

“T.N.T.” (exclusivo na Austrália):

  1. It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock ‘n’ Roll) [com final estendido em alguns segundos]
  2. The Jack
  3. T.N.T.
  4. Live Wire
  5. High Voltage [com final estendido em alguns segundos]
  6. Rocker [com final estendido em alguns segundos]
  7. Can I Sit Next to You Girl
  8. Rock ‘N’ Roll Singer
  9. School Days

“Dirty Deeds Done Dirt Cheap”

Com todo o sucesso de “T.N.T.”, os produtores Vanda e Young se convenceram de que precisavam voltar para o estúdio e gravar logo o terceiro disco do AC/DC. Em fevereiro de 1976 gravaram as nove músicas que formariam “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”. O nome do álbum, ideia de Angus, foi tirado do desenho animado Beany e Cecil.

Como “T.N.T.” ainda vendia entre 3 e 4 mil cópias por semana, a Albert Productions atrasou o lançamento de “Dirty Deeds” até 20 de setembro, mesmo dia em que chegou às lojas o primeiro compacto do álbum, trazendo a faixa-título no lado A com “R.I.P. (Rock in Peace)” no lado B.

A capa do disco australiano era uma caricatura de Bon mostrando a tatuagem do antebraço — que mais parece uma coxa de frango — e Angus, atrás, mostrando o dedo. O europeu, lançado somente em janeiro de 1977, traria sete pessoas com os olhos cobertos por tarjas pretas e um cachorro fotografados no estacionamento de um hotel. Já os EUA só veriam o lançamento oficial de “Dirty Deeds” em 1981, com a mesma capa e tracklist do europeu, posto que a Atlantic se recusara a lançá-lo no país na época.

Embora não contenha “Love at First Feel”, lançada somente como single, a versão australiana de “Dirty Deeds” tem as próprias particularidades no repertório: “Jailbreak” e a supracitada “R.I.P. (Rock in Peace)”, disponibilizadas de forma posterior respectivamente no EP “’74 Jailbreak” e na caixa “Backtracks”.

“Dirty Deeds Done Dirt Cheap” (versão australiana):

  1. Dirty Deeds Done Dirt Cheap [com final estendido em alguns segundos]
  2. Ain’t No Fun (Waiting ‘Round to Be a Millionaire) [com final estendido em quase meio minuto]
  3. There’s Gonna Be Some Rockin’
  4. Problem Child
  5. Squealer
  6. Big Balls
  7. R.I.P. (Rock in Peace)
  8. Ride On
  9. Jailbreak

“Dirty Deeds Done Dirt Cheap” (versão internacional):

  1. Dirty Deeds Done Dirt Cheap
  2. Love at First Feel
  3. Big Balls
  4. Rocker
  5. Problem Child [com final estendido em alguns segundos]
  6. There’s Gonna Be Some Rockin’
  7. Ain’t No Fun (Waiting ‘Round to Be a Millionaire)
  8. Ride On
  9. Squealer

“Let There Be Rock”

Fortalecido por três anos de turnês e guiado por George Young e Harry Vanda, o AC/DC voltou ao Albert Studio em Sydney e gravou oito músicas novas.

“Let There Be Rock” foi lançado na Austrália no dia 21 de março de 1977. A capa original, com o inconfundível close no braço da Gibson SG de Angus, seria substituída nos Estados Unidos e na Europa por uma foto da banda ao vivo no palco e conteria o logotipo em seu modelo mais conhecido pela primeira vez.

A princípio, todas as versões de “Let There Be Rock” iriam conter uma tracklist idêntica. Contudo, a excessiva cautela — ou quem sabe o falso moralismo — da Atlantic Records logo barraria “Crabsody in Blue” naquele país.

Bem-humorada crônica de Bon sobre as consequências do sexo sem proteção — “crab” é o equivalente em inglês ao chato, o piolho pubiano —, a faixa é outra que permaneceria exclusiva na Austrália até o lançamento da caixa “Backtracks”.

“Let There Be Rock” (versão australiana):

  1. Go Down
  2. Dog Eat Dog
  3. Let There Be Rock
  4. Bad Boy Boogie
  5. Overdose
  6. Crabsody in Blue
  7. Hell Ain’t a Bad Place to Be
  8. Whole Lotta Rosie

“Let There Be Rock” (versão internacional):

  1. Go Down
  2. Dog Eat Dog
  3. Let There Be Rock
  4. Bad Boy Boogie
  5. Problem Child
  6. Overdose
  7. Hell Ain’t a Bad Place to Be
  8. Whole Lotta Rosie

“Powerage”

À Metal CD, Malcolm definiu “Powerage”, o quinto álbum de estúdio do AC/DC, como “o disco mais do mesmo”.

Dado que “Let There Be Rock” tinha vendido apenas 25 mil cópias na Austrália em comparação com as quase 250 mil comercializadas no resto do mundo, “Powerage” saiu primeiro no Reino Unido, em 28 de abril de 1978, contendo a faixa extra “Cold Hearted Man”.

Os mercados australiano e americano só o receberiam o disco quase um mês depois, em 25 de maio, contendo a mesma capa — uma foto de Angus com fios estourando pela manga da jaqueta no lugar das mãos — e a mesma tracklist; exceto pela supracitada bônus.

“Powerage” (versão europeia):

  1. Rock ‘N’ Roll Damnation
  2. Down Payment Blues
  3. Gimme a Bullet
  4. Riff Raff
  5. Sin City
  6. What’s Next to the Moon
  7. Gone Shootin’
  8. Up to My Neck in You
  9. Kicked in the Teeth
  10. Cold Hearted Man

“Powerage” (versão australiana e americana):

  1. Rock ‘N’ Roll Damnation
  2. Down Payment Blues
  3. Gimme a Bullet
  4. Riff Raff
  5. Sin City
  6. What’s Next to the Moon
  7. Gone Shootin’
  8. Up to My Neck in You
  9. Kicked in the Teeth

“Highway to Hell”

No final de 1978, “Powerage” tinha vendido 150 mil cópias. O álbum chegou à 13ª posição nas paradas britânicas e, pela primeira vez, o AC/DC entrou no top 50 nos Estados Unidos. O novo disco levaria o grupo ainda mais para o alto.

Por pressão da Atlantic Records, insatisfeita porque não conseguia colocar a banda para tocar no rádio nos Estados Unidos, o AC/DC trocou de estúdio e produtores: saem o Albert Studios e a dupla Vanda/Young e entram o Criteria, em Miami, e o lendário Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Kiss, Led Zeppelin), que logo depois seria despedido.

Após ouvir uma demo, Robert John “Mutt” Lange concordou em assumir o projeto, e a banda que nunca passara mais três semanas gravando um álbum desta vez ficou quase três meses em estúdio. O resultado foi “Highway to Hell”, que revisitou a tradição de ter uma arte de capa exclusiva para a Austrália. As diferenças nas versões australiana e internacional limitam-se a isso.

Capa internacional de “Highway to Hell”
Capa australiana de “Highway to Hell”

“Highway to Hell” (versões australiana e internacional):

  1. Highway to Hell
  2. Girls Got Rhythm
  3. Walk All Over You
  4. Touch Too Much
  5. Beating Around the Bush
  6. Shot Down in Flames
  7. Get It Hot
  8. If You Want Blood (You’ve Got It)
  9. Love Hungry Man
  10. Night Prowler

E depois?

O AC/DC tornou-se um sucesso internacional após o estouro de “Highway to Hell”, que alcançou o top 10 da Inglaterra, parando na oitava posição e chegou também no top 20 dos Estados Unidos, atingindo o número 17 do ranking.

Os álbuns subsequentes, começando por “Back in Black” (1980), abandonaram o conceito de exclusividade para o mercado australiano. Sendo assim, todos os álbuns com Brian Johnson nos vocais possuem a mesma capa e relação de faixas em todos os países.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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