5 discos para conhecer o gigante Jeff Beck

Experimentos e ecletismo marcam a obra do guitarrista, falecido na última terça-feira (10) aos 78 anos

Na última terça-feira (10), Jeff Beck morreu de meningite bacteriana num hospital próximo a Riverhall, fazenda no sul da Inglaterra onde morava. Ele tinha 78 anos.  

Aclamado por seus fãs, colaboradores e personalidades da cena musical como um dos maiores guitarristas de todos os tempos, Geoffrey Arnold Beck nasceu em 24 de junho de 1944, em Londres. Filho do contador Arnold e da doceira Ethel Beck, Jeff começou cedo, ainda criança, tocando piano mais por imposição da mãe do que por vontade própria.

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Ao descobrir — e se encantar com — B.B. King, Cliff Gallup, Les Paul, Lonnie Mack e outros guitarristas, trocou as teclas pelas seis cordas. Em 1963, juntou-se aos irmãos Paul e John Lucas na formação do The Tridents, cujo único registro foi uma demo.

Dois anos mais tarde, entrou no lugar de Eric Clapton nos já estabelecidos Yardbirds. Com Beck a bordo, o grupo que já gozava de posição na dianteira da chamada Invasão Britânica, viu seu som enraizado no blues adquirir contornos psicodélicos. A estada de Jeff durou pouco mais de um ano e meio, mas rendeu sucessos como “Heart Full of Soul”, que entrou no top 10 estadunidense e chegou a um impressionante segundo lugar no Reino Unido.

Lançou-se solo em 1967 com o compacto “Hi Ho Silver Lining”, mas ao invés de dar continuidade, optou por formar uma nova banda, o Jeff Beck Group, que viveria dois períodos distintos: no primeiro (1968-1969), foi seminal no desenvolvimento do hard rock ao eletrificar o blues e dar ainda mais ênfase a riffs e solos; no segundo (1971-1972), tentou a sorte na soul music apostando em versões de estandartes do gênero.

Retomou a carreira solo partir de 1975, ano de “Blow By Blow”, e jamais voltou atrás. Foram dez álbuns de estúdio que abrangem vasta gama de estilos e experimentos — desde o jazz fusion e o rockabilly até investidas nas músicas eletrônica e erudita — e outros quatro em parceria com outros artistas, sendo “18” (2022), gravado com o ator Johnny Depp, o derradeiro.

Veja abaixo por quais discos começar a desbravar a obra magistral de Jeff Beck.

5 discos para conhecer Jeff Beck

1) The Yardbirds – “Roger the Engineer” (1966)

A banda que lançou Eric Clapton e depois virou o Led Zeppelin contou com a incandescência de Jeff Beck por apenas vinte meses, período no qual gravou seu LP mais bem-sucedido. Único álbum dos Yardbirds a figurar no top 20 britânico e o que mais alto chegou nas paradas dos EUA, “Roger the Engineer” foi composto e gravado em apenas uma semana.

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Sua mistura de blues carregados com protopsicodelia (ouça “Over Under Sideways Down”, construída sobre uma linha de baixo similar à de “Rock Around the Clock”, de Bill Haley & His Comets) antecipa o padrão sonoro adotado e lapidado pelo Cream e pelo próprio Led.

Quer ter noção de o quão Beck era diferenciado de seus contemporâneos? A resposta está no seu desempenho individual em “The Nazz Are Blue”.

2) The Jeff Beck Group – “Truth” (1968)

Depois de deixar os Yardbirds, Jeff Beck decidiu fazer carreira solo. Por mais que seu compacto “Hi Ho Silver Lining” (com um tal de John Paul Jones no baixo) tenha sido de enorme sucesso, ele quis, a contragosto do produtor Mickie Most, montar uma banda.

Com um lineup estelar para dizer o mínimo — o baterista Mick Waller; o baixista Ronnie Wood, futuro guitarrista dos Rolling Stones; e nos vocais, ninguém menos que Rod Stewart —, o Jeff Beck Group fez sua estreia com “Truth” e permaneceu no top 20 estadunidense por impressionantes oito meses.

O repertório é uma amálgama de originais da parceria Beck/Stewart (“Let Me Love You”, “Rock My Plimsoul” e “Blues Deluxe”) com versões que vão desde a releitura de “Shapes of Things” dos Yardbirds a dois números do bluesman americano Willie Dixon: “I Ain’t Superstitious” e “You Shook Me”; essa última, gravada logo depois pelo Led Zeppelin.

3) Jeff Beck – “Blow by Blow” (1975)

Os dois álbuns finais do Jeff Beck Group — “Rough and Ready”, de 1971, e o homônimo de 1972 — promoveram uma aproximação de seu líder com a soul music. Não à toa o carro-chefe de “Blow by Blow”, sua primeira empreitada cem por cento instrumental, seja a versão de “Cause We’ve Ended As Lovers”, de Stevie Wonder, em que Beck se refestela em inspiradíssima performance sobre o Fender Rhodes de Max Middleton, o baixo do jamaicano Phil Chen e a bateria de Richard Bailey.

Stevie também cedeu a Jeff a faixa “Thelonius”, na qual toca clavinete, embora não conste dos créditos. Lado B do comecinho dos Beatles, “She’s a Woman”, de Lennon e McCartney, é outro destaque e evidencia junto à autoral “Scatterbrain” e a outro cover — “Diamond Dust”, de Bernie Holland — a pegada jazz fusion muito mais ostensivamente explorada no trabalho seguinte, “Wired” (1976). E por falar no Fab Four, quem assina a produção de “Blow by Blow” é o quinto Beatle, George Martin.

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4) Jeff Beck – “Flash” (1985)

Passados cinco anos desde o pouco lembrado “There & Back” (1980), Jeff Beck daria um giro de 180 graus na carreira ao unir forças com Nile Rodgers e abraçar uma estética totalmente pop em seu quarto álbum de estúdio. Além do produtor e idealizador do Chic, participam da empreitada nomes como o baterista Carmine Appice, o baixista Doug Wimbish (uma década antes de assumir o posto no Living Colour) e Rod Stewart, que incorpora Curtis Mayfield na emotiva releitura de “People Get Ready”.

Se a ideia era capitalizar em cima de um estilo que dominava as paradas da época, a dupla não poderia ter sido mais bem-sucedida: número 39 nos Estados Unidos e recorde de vendas em outros sessenta países, “Flash” não só rendeu a Beck o primeiro de oito Grammys — “Escape” levou o prêmio na categoria Melhor Performance de Rock Instrumental — como o apresentou a um público mais jovem graças à entrada do clipe de “Ambitious” na programação da MTV.

5) Jeff Beck – “Performing This Week… Live at Ronnie Scott’s” (2008)

Uma lista de cinco discos para conhecer Jeff Beck nunca estaria completa sem uma amostra de como o guitarrista era no palco. Embora haja candidatos de peso inconteste, como o explosivo “Jeff Beck with the Jan Hammer Group Live” (1977) ou o ao vivo no Japão registrado pelo trio Beck, Bogert & Appice em 1973, a performance no lendário e minúsculo Ronnie Scott’s Jazz Club de Londres em novembro de 2007 — lançada em CD, DVD e Blu-ray um ano depois — encapsula com perfeição o catálogo de Jeff sob um clima intimista de volta às origens.

Com Jason Rebello (teclados), Vinnie Colaiuta (bateria) e a então baixista revelação Tal Wilkenfeld, ele revisita desde “Beck’s Bolero” (composta por Jimmy Page em 1966) até “A Day in the Life”, dos Beatles, laureada com um prêmio Grammy. E na falta de Rod Stewart, quem assume o microfone em “People Get Ready” é a multiplatinada Joss Stone.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

2 COMENTÁRIOS

  1. Vocês são péssimos. Quer fizer que o Power Trio Beck, Bogert & Appice não existiu? O álbum maravilhoso deles em estudio e o Duplo ao vivo “Live In Japan” não existiu? Foi o melhor trabalho dele junto com o Truth. Lamentável!

    • Existiram, mas é uma lista de cinco discos – e é uma lista de opinião. Não leu o título? Não conhece o conceito do quadro? Não sabe o que é opinião? Não me rebaixo a seu nível ao dizer que você é péssimo, mas seu comentário é de fato péssimo e pra lá de mal-educado.

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