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Edu Falaschi celebra “Rebirth” e apresenta “Vera Cruz” com show visual em SP

Acompanhado de supergrupo e convidados especiais, vocalista caprichou nos detalhes, inclusive de produção visual, para gravação de DVD

Início de maio de 2021. A pandemia ainda não havia dado uma trégua no Brasil e Edu Falaschi sequer havia lançado o álbum “Vera Cruz”, que estabeleceu de vez sua carreira solo com ares de supergrupo. Ainda assim, em entrevista exclusiva ao jornalista que vos escreve, ele fez uma promessa já com relação à turnê:

“Posso dizer que o fã terá uma experiência inédita em termos de banda nacional de heavy metal no âmbito de produção.”

Muitos daqueles que presenciaram a apresentação realizada no último domingo (21), no Tokio Marine Hall, em São Paulo, devem concordar com a forte declaração. A tour já havia começado – e com ares de controvérsia, devido às alegações de que o vocalista estaria fazendo playback – antes da passagem pela capital paulista, mas o cantor parecia saber que a performance na terra da garoa seria especial. Portanto, escolheu esta ocasião para também gravar um DVD – como em 2019, optando pela mesma casa que ainda se chamava Tom Brasil.

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*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemo

Expectativa

O repertório da noite já era conhecido do público: as performances de todas as músicas dos álbuns “Rebirth” (Angra, 2001), celebrando seu 20º aniversário assim como tem feito a ex-banda do cantor, e “Vera Cruz”, com “Spread Your Fire”, do disco “Temple of Shadows” (Angra, 2004), no bis. As participações também: o violonista Fábio Lima, o guitarrista Tito Falaschi (irmão de Edu e antigo parceiro de Symbols) e os vocalistas Thiago Arancam, Marcello Pompeu (Korzus), Fernanda Lira (Crypta) e Elba Ramalho. Ainda assim, os eventos da ocasião surpreenderam em certos quesitos.

Nem sempre, porém, a surpresa foi positiva. A abertura dos portões atrasou em uma hora, quando a fila para entrada já rodava o quarteirão. A apresentação em si foi iniciada somente 40 minutos após o horário agendado. Atrasos, vale enfatizar, são raros no Tokio Marine Hall – e complicam a vida dos fãs quando ocorrem em noites de domingo. O público, que compareceu em peso e estava empolgado de forma também rara para um show do gênero, gritou por Falaschi diversas vezes antes de Júnior Carelli, ex-tecladista do Noturnall e diretor responsável pela gravação do DVD, subir ao palco como uma espécie de “mestre de cerimônias”.

Tanto Júnior quanto Arthur Bevilacqua, responsável pela produção do show que também conversou com o público, deixaram claro os esforços para fazer aquela ideia virar realidade. Por vezes, citavam números como a quantidade de câmeras usadas para a gravação (treze) e de funcionários envolvidos com o evento (cinquenta). Mesmo com a gravação profissional, Carelli avisou ao público que todos poderiam gravar com seus celulares o quanto quisessem, negando boatos de que filmagens amadoras seriam proibidas. “Só não atrapalhem os câmeras”, pediu.

“Rebirth”

Por volta de 20h40, a vinheta “In Excelsis” começa a tocar nas caixas de som. Logo entram no palco – não necessariamente nesta ordem – Edu Falaschi, Aquiles Priester (bateria), Fábio Laguna (teclados), Roberto Barros e Diogo Mafra (guitarras), Raphael Dafras (baixo) e Fábio Caldeira e Raíssa Ramos (backing vocals). O time principal incendiou o público com a música de abertura, “Nova Era”, em um palco especialmente projetado para celebrar os 20 anos de “Rebirth” – e com adereços que já remetiam a “Vera Cruz”.

A primeira faixa da noite também mostrou algumas características que seriam notadas ao longo do show em geral. Uma delas é a competência da banda que acompanha Edu. São verdadeiras máquinas, com destaque a Priester, cuja bateria estava bem alta não só na montagem do palco, como também em volumes na mix. A ênfase na percussão e nas sonoridades graves fizeram com que as vozes, especialmente de Falaschi, e as guitarras, especialmente de Roberto Barros, nem sempre estivessem tão audíveis.

Apesar da questão de volumes, “Nova Era” foi executada com primor. Até mesmo Edu, em meio às desconfianças de que não cantaria tão bem ou estaria usando playback, se saiu bem. Na música seguinte, “Millennium Sun”, sua performance começou a mostrar algumas falhas, mas ainda dentro do esperado para alguém que não apenas canta músicas registradas em altos tons há mais de 20 anos, como também teve problemas de saúde diretamente relacionados às suas cordas vocais.

“Acid Rain” trouxe, infelizmente, um momento anticlímax: o refrão interpretado por Fábio e Raíssa. São dois grandes cantores e a estratégia de poupar o protagonista é válida, mas não no refrão de uma das músicas mais aguardadas da primeira etapa do setlist. As vozes seguem sendo motivo de debate em “Heroes of Sand”, mas neste caso pela interpretação de Falaschi, já demonstrando alguns problemas a mais. Assim como na seguinte “Unholy Wars”, chama atenção o fato de que as notas agudas são bem executadas, mas a dificuldade maior do artista está nos registros médios. São problemas que ocorreram mais no início do que no fim do show, mas ainda assim deve ser feita a observação.

As cinco músicas citadas anteriormente foram tocadas praticamente de forma direta, sem qualquer conversa com o público. Só antes de “Rebirth” é que Edu bate um papo com os fãs, contando que está usando a mesma jaqueta do DVD “Rebirth World Tour: Live in São Paulo” (2002) e convidando na sequência Fábio Lima para a primeira de suas duas participações. Um belo solo de violão de náilon introduziu a canção, cantada a plenos pulmões por quem estava presente em meio a uma execução perfeita no palco.

Emendada na sequência, “Judgement Day” traz Aquiles Priester tocando de forma particularmente forte. Sua bateria mexia-se tanto que parecia estar prestes a cair do praticado – algo que, felizmente, não aconteceu. Infelizmente, por outro lado, Edu entregou sua performance vocal mais decepcionante até aqui. O problema com os registros médios se refletiu nos versos, enquanto que os agudos dos refrães foram bem feitos.

Mas os comentários sobre problemas com os vocais de Falaschi param por aqui, já que ele se saiu bem no restante da noite. Antes de dar sequência ao setlist, o cantor apresentou todos os integrantes de sua banda, sempre de forma bastante elogiosa. Chegou a citar Roberto Barros e Diogo Mafra como a melhor dupla de guitarristas de power metal da atualidade, Raphael Dafras como o músico mais completo do gênero nos dias de hoje e Aquiles Priester como o maior baterista de todos os tempos no segmento. O cantor, por sua vez, foi apresentado por Priester, que deixou o palco superior para conversar com o público.

“Running Alone” teve uma das melhores performances de Edu Falaschi na etapa “Rebirth” do repertório. Foi uma das canções que, em outras cidades, levantou suspeita de playback – que não se confirmou, ao menos sob minha ótica, em São Paulo. “Visions Prelude” fechou a execução na íntegra do disco com a incrível participação de Thiago Arancam, que dividiu vocais com o protagonista da noite. Antes, o tenor lírico que interpreta a peça “O Fantasma da Ópera” em sua montagem brasileira performou a ária “Nessun Dorma”, arrancando aplausos dos presentes.

“Vera Cruz”

As cortinas se fecharam novamente e um intervalo de pouco mais de 5 minutos foi necessário para a montagem do palco da segunda etapa do show. O palco já tinha canhões, leme e outros adereços que remetiam ao conceito de “Vera Cruz”, mas ganhou detalhes ainda mais impactantes para a sequência da apresentação ­– com destaque aos dois soldados gigantes colocados em disposição quase central. Até Edu Falaschi voltou com um visual diferente, deixando a “jaqueta do ‘Rebirth’” de lado para entrar no clima de “Vera Cruz”.

Passado um longo vídeo em inglês contando a história do álbum, com ilustrações presentes no livro de “Vera Cruz”, entram a vinheta “Burden”, com direito a uma freira surgindo no palco para dar início ao lado teatral da noite, e a acelerada “The Ancestry”, executada em meio a jatos de gelo seco disparados do palco. Apesar de deslizes de Roberto Barros na introdução, toda a banda parece mais à vontade a partir daqui – por motivos óbvios, já que estão tocando composições próprias e, no caso de Edu, feitas há menos tempo, com registros um pouco mais próximos de sua realidade atual.

O público correspondeu. Tanto nesta faixa quanto nas seguintes, dá para ver que os fãs já estão familiarizados com letras, melodias e batidas, pois acompanham os músicos. Em “Sea of Uncertainties” e na balada “Skies in Your Eyes”, esta última com Edu assumindo o violão (e cantando mesmo com seu microfone querendo cair do pedestal a todo momento), deu para notar a galera cantando junto e interagindo com viradas e solos. Talvez nem precisasse tocar “Rebirth” na íntegra para convencer o público a comparecer.

Outra vinheta, “Frol de la Mar”, é apresentada enquanto atores sobem ao palco para “conduzir” a caravela. “Crosses” chama atenção por introduzir mais um elemento visual: fogos de artifício. “Land Ahoy”, por sua vez, foi recebida como sendo uma das mais aguardadas desta etapa do setlist. Convenceu desde a introdução tocada no violão por Roberto Barros até a conclusão apoteótica, apesar do trabalho de atuação com uma “luta” durante o segundo refrão ter gerado estranheza. Como algumas das inserções teatrais eram muito breves, serviam mais para impressionar visualmente do que para ajudar a contar uma história.

“Fire with Fire” destacou de forma mais visível o talento de Fábio Caldeira, que assumiu a interpretação dos versos enquanto Edu Falaschi cuida dos refrãos. Fábio, agora com Raíssa, também aparece bem na “Mirror of Delusion”, cujo refrão é cantado de forma revezada com o protagonista. Para a balada “Bonfire of the Vanities”, duas participações especiais: o retorno de Fábio Lima e a presença de Tito Falaschi, que reproduziu o solo tocado por ele próprio na versão do álbum.

As duas faixas finais do set de “Vera Cruz” reservaram os convidados mais esperados da noite. “Face of the Storm” teve Max Cavalera, responsável pela gravação original, sendo substituído por Marcello Pompeu e Fernanda Lira. O primeiro chegou a assumir o papel de frontman antes da canção iniciar, puxando coros para deixar a plateia inflamada. Tanto ele quanto Fernanda se saíram bem ao se revezarem nas duas inserções principais da música, mas apareceram pouco – assim como o próprio Max não tem tanto destaque no registro do disco.

Por sua vez, “Rainha do Luar” concluiu o repertório regular com Elba Ramalho, reproduzindo a parceria presente no álbum. Antes de trazê-la ao palco, Edu contou que quando sugeriu o nome da artista para participar do disco, ouviu como resposta sugestões de cantoras mais jovens, especialmente do sertanejo contemporâneo. Ele, porém, disse que não queria chamar alguém para “lacrar”, mas sim alguém que ele admirasse. Elba justificou a idolatria com uma interpretação vocal emocionante e surpreendente para alguém no alto de seus 71 anos.

Apenas uma música estava posicionada para o bis: “Spread Your Fire”, que levou os fãs de volta a “Temple of Shadows”. Para Edu, nada de jaqueta ou de roupa ao estilo “descobrimento”: o vocalista surgiu sem camisa mesmo, enquanto Aquiles tocou com sua clássica máscara de polvo. A boa performance encerrou uma noite que não começou tão bem, mas trilhou um caminho interessante.

Saldo final

Como já destacado, o grupo que acompanha Edu Falaschi é composto por verdadeiras máquinas. É difícil deixar de exaltar o trabalho de Aquiles Priester, que é de fato um dos grandes bateristas do Brasil e um nome que merecia maior destaque no exterior, mas os outros músicos acompanharam devidamente seu nível de excelência. Mesmo Roberto Barros, por vezes criticado devido à sua abordagem técnica demais na guitarra, estava em ótima noite junto dos consistentes Diogo Mafra, Raphael Dafras e Fábio Laguna, além de Fábio Caldeira e Raíssa Ramos.

Foto: Jeff Marques / @mulekedoidomemo

O grande ponto de dúvida paira sobre Falaschi que, naturalmente, ainda parece se ver um pouco refém de seu repertório glorioso com o Angra para construir um show de impacto. A boa aceitação das músicas de “Vera Cruz” ao vivo indica outro caminho para o cantor: apostar mais em seus trabalhos atuais, onde há encaixe mais confortável para sua voz, e menos em canções que, infelizmente, expõem suas fragilidades vocais.

Mesmo com os pontos de atenção, o show é muito bom e transcende a música ao trazer aspectos visuais imponentes. Se Edu conseguiu atingir o objetivo citado na entrevista lá do primeiro parágrafo, só o tempo irá dizer. Mas ele fez de tudo para chegar a esta marca. Ninguém pode negar.

*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemo

Edu Falaschi – ao vivo em São Paulo

  • Local: Tokio Marine Hall
  • Data: 21 de agosto de 2022
  • Turnê: Vera Cruz Tour + 20 anos de Rebirth

Repertório:

“Rebirth”

  1. In Excelsis + Nova Era
  2. Millennium Sun
  3. Acid Rain
  4. Heroes of Sand
  5. Unholy Wars
  6. Rebirth (com Fábio Lima)
  7. Judgement Day
  8. Running Alone
  9. Nessun Dorma (número solo de Thiago Arancam)
  10. Visions Prelude (com Thiago Arancam)

“Vera Cruz”

  1. Burden + The Ancestry
  2. Sea of Uncertainties
  3. Skies in Your Eyes
  4. Frol de la Mar + Crosses
  5. Land Ahoy
  6. Fire with Fire
  7. Mirror of Delusion
  8. Bonfire of the Vanities (com Tito Falaschi e Fábio Lima)
  9. Face of the Storm (com Marcello Pompeu e Fernanda Lira)
  10. Rainha do Luar (com Elba Ramalho)

Bis:

  1. Deus Le Volt! + Spread Your Fire

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

1 COMENTÁRIO

  1. O show foi du caralho! Você apontou muito bem o que teve de bom e de ruim, mas valeu muito a pena! Que noite!
    Uma coisa que me marcou muito foi como a Elba parecia precisamente o CD de tão precisa que estava sua interpretação!

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