“Rock in a Hard Place”, quando tudo deu errado para o Aerosmith

Amaldiçoado por problemas internos e ausências dos guitarristas Joe Perry e Brad Whitford, sétimo álbum de estúdio da banda representa fundo do poço de sua carreira

A expressão em inglês “caught between a rock and a hard place” é o equivalente do nosso bom e velho “entre a cruz e a espada”. Uma situação extremamente complicada onde nenhuma decisão parece boa e qualquer resultado é potencialmente desastroso. Essa era a situação do Aerosmith no início dos anos 80.

Em meio à popularidade decrescente e vícios em drogas cada vez piores, o grupo já havia perdido um de seus líderes quando o guitarrista Joe Perry saiu da banda no meio das gravações do álbum “Night in the Ruts” (1979).

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A banda poderia achar que estava fazendo um trocadilho com “Rock in a Hard Place”, mas a ideia de fazer um disco sem uma de suas forças motrizes representa muito bem o dilema da expressão original.

Essa é a história de como o Aerosmith atingiu o fundo do poço.

Leite derramado

Joe Perry havia deixado o Aerosmith após um dos episódios mais bestas da história do rock. Antes de uma apresentação em Cleveland, uma briga aconteceu entre sua esposa, Elissa, e a mulher do baixista Tom Hamilton, Terri, durante a qual um copo de leite foi atirado. 

Após o show, os ânimos entre os integrantes estavam exaltados. Em defesa das ações de sua esposa, Perry decidiu deixar o grupo. Não foi uma saída do nada: havia uma tensão crescente entre o guitarrista e o vocalista Steven Tyler, como Hamilton detalhou em “Walk This Way: The Autobiography of Aerosmith”:

“Tinha um padrão em shows naquele verão em que Steven fazia algo para irritar Joe e aí Joe esnobava ele no palco – era muito óbvio –, Joe fazendo questão de não cantar os backing vocals dele e tocando muito alto, e aí Steven ficaria ainda mais irritado e fazia ou dizia algo pro Joe que o afastava ainda mais da banda.”

As gravações de “Night in the Ruts” foram salvas pelo outro guitarrista do grupo, Brad Whitford, que cobriu as partes restantes de Joe Perry. O álbum custou US$ 1 milhão para ser gravado, mas vendeu mais de um milhão de cópias nos Estados Unidos, compensando o investimento.

Entretanto, Steven Tyler estava completamente destruído pelas drogas e brigando abertamente na imprensa com Perry, agora com uma banda nova, The Joe Perry Project. Durante uma turnê em 1980, o vocalista mal conseguia durar duas canções do set antes de desabar no palco. 

No segundo semestre daquele ano, um acidente grave de moto deixou o cantor de cama por um período longo de tempo. Continuando a usar drogas enfurnado em casa, Tyler foi se aproximando cada vez mais de seu nadir.

Mais uma baixa

Quando o Aerosmith finalmente voltou ao estúdio, em 1981, todos os problemas dos anos anteriores começaram a pesar em Brad Whitford. O substituto de Perry, Jimmy Crespo, era um guitarrista talentoso, mas ele e Whitford não tinham a mesma química. Enquanto isso, o vício de Steven Tyler em heroína o deixou ainda mais difícil de lidar.

Em “Walk This Way: The Autobiography of Aerosmith”, Tom Hamilton falou sobre o período:

“Por dois anos, o álbum no qual estávamos trabalhando, ‘Rock in a Hard Place’, estava a dois meses de ficar pronto. Era uma época difícil. Vendemos nossa casa, nos mudamos para um apartamento e todo mundo também começou a cortar despesas. Joey (Kramer, baterista) e eu estávamos determinados a esperar pelo Steven, mas Brad não aguentou.”

Após uma pausa de alguns dias, Whitford deixou a banda. A ideia de continuar naquele ciclo era impossível para ele. Agora o Aerosmith estava sem seus guitarristas originais, com um disco para gravar.

Fundo do poço

O resultado foi o fundo do poço. “Rock in a Hard Place” custou US$ 1,5 milhão para produzir, mas não vendeu remotamente como seus antecessores. Pela primeira vez desde “Get Your Wings” (1974), nenhum dos singles – “Lightning Strikes” e “Bitch’s Brew” – entrou na Billboard Hot 100, principal parada de compactos dos Estados Unidos.

Musicalmente, a banda se recusava a atualizar seu som para adequar-se à emergente cena hard rock/heavy metal da década de 1980 – com tantas bandas que tinham eles próprios como influência. A fórmula ainda era muito baseada no blues rock que os consagrou quase 10 anos antes.

Em sua autobiografia “Hit Hard: A Story of Hitting Rock Bottom at the Top”, Joey Kramer definiu o trabalho da seguinte forma:

“O disco não é ruim. Há algumas coisas realmente boas nele. Mas não é um disco de verdade do Aerosmith porque somos apenas eu, Steven e Tom com um guitarrista substituto. É Jimmy Crespo fazendo o trabalho de guitarra.”

Durante a turnê, que trouxe Rick Dufay na vaga de Brad Whitford, a banda não conseguia mais sequer marcar shows em arenas. Fãs continuavam a exigir a volta de Joe Perry.

O guitarrista solo retornou em 1984, depois de se divorciar de Elissa. Trouxe Whitford consigo. O grupo se recuperou após isso e enfim atualizou seu som na segunda metade da década de 1980, mas “Rock in a Hard Place” permanece como evidência do pior período da história do Aerosmith.

Aerosmith – “Rock in a Hard Place”

  • Lançado em 1º de agosto de 1982 pela Columbia
  • Produzido por Jack Douglas, Steven Tyler e Tony Bongiovi

Faixas:

  1. Jailbait
  2. Lightning Strikes
  3. Bitch’s Brew
  4. Bolivian Ragamuffin
  5. Cry Me a River
  6. Prelude to Joanie
  7. Joanie’s Butterfly
  8. Rock in a Hard Place (Cheshire Cat)
  9. Jig Is Up
  10. Push Comes to Shove

Músicos:

  • Steven Tyler (vocal, teclados, gaita, percussão, piano na faixa 10)
  • Jimmy Crespo (guitarra solo e base, backing vocals, vocais adicionais na faixa 3)
  • Tom Hamilton (baixo)
  • Joey Kramer (bateria)
  • Rick Dufay (creditado como guitarrista base, mas não toca)

Músicos adicionais

  • Brad Whitford (guitarra base na faixa 2)
  • Paul Harris (piano na faixa 10)
  • John Turi (saxofone na faixa 8)
  • Reinhard Straub (violino na faixa 7)
  • John Lievano (violão na faixa 7)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

1 COMENTÁRIO

  1. Opinião de um melômano comum: prefiro mil vezes este álbum (que eu acho muito bom) a todos os outros, pós-Permanent Vacation, que são um pastiche repetitivo e enfadonho de todos os anteriores.
    O Aerosmith é banda de 03 álbuns, somente: Greatest Hits (melhor que ser obrigado a ouvir os originais na íntegra), Rock in a Hard Place e Permanent Vacation (a “obra-prima” da banda).
    Os entendidos de técnica musical podem achar todos os álbuns uma delícia mas, como eles (os álbuns) foram feitos para os outros (nós, os clientes), estes outros acham o que quiserem, rs

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