A “equação” do sucesso no cinema é algo a se observar sempre. Há quem acredite que quando um ator ou um cineasta alcança determinado nível na carreira, todas as escolhas feitas por este profissional dali em diante serão excepcionais. Era o que se esperava de “Thor: Amor e Trovão”.
Aqui temos Taika Waititi, vencedor do Oscar, na direção e intérpretes como Natalie Portman, Christian Bale e Russell Crowe – cada um deles tem uma estatueta na prateleira. Fora o orçamento gigante, efeitos especiais de primeira e os amados atores e personagens que já estavam ali. Até o título é maravilhoso.
Segundo a “equação” do cinema, é impossível pensar que isso não se transforme em um dos melhores filmes do ano. Porém, aqui, em uma rara ocasião, essa máxima falhou. Temos que aceitar: “Thor: Amor e Trovão” é uma decepção.
*Este texto contém alguns pequenos spoilers que não afetam a experiência.
Um dos melhores arcos… nos quadrinhos
O quarto filme de Thor traz um elogiado arco atual dos quadrinhos. Acompanhamos o vilão Gorr que, após uma vida inteira de sofrimento nas mãos dos Deuses, acaba se encontrando com a Necroespada e, assim, se torna o Carniceiro dos Deuses. Trata-se de um ser que entende que a humanidade ficaria melhor sem as divindades às quais devotamos o nosso amor.
A história é muito interessante e madura. Carrega consigo toda uma discussão sobre religião, ateísmo e devoção. Em certo ponto, até mesmo Thor passa a questionar se Gorr não tem razão no que faz e prega.
Já no longa que estreou nesta quinta (7), Taika Waititi adota essa ideia de forma muito superficial. Gorr (Christian Bale), após perder sua filha para a seca, acaba se encontrando com a Necroespada. Cheio de fúria e vingança, inicia sua jornada para aniquilar todos os Deuses. Enquanto isso, Thor (Chris Hemsworth), ao lado dos Guardiões da Galáxia, busca um recomeço após “Vingadores: Ultimato”. Em uma jornada paralela, a dra. Jane Foster (Natalie Portman) luta contra um câncer em estágio 4.
Daí pra frente, não há muito segredo no que acontece. O então destroçado Mjölnir se apresenta para a dra. Jane e assim, a cura do câncer e lhe concede os poderes de Thor. Após se reencontrarem, eles se unem a Korg (Taika Waititi) e Valquíria (Tessa Thompson) para colocar um fim em Gorr.
O enredo é mal desenvolvido, com soluções fáceis e genéricas, além de piadas. Sim, são 120 minutos de muitas piadas e gracinhas. Taika Waititi tinha nas mãos uma história densa, pesada, profunda, que poderia muito bem ser grandiosa – e, por que não, ter a mão cômica do diretor que nos entregou o extraordinário “Thor: Ragnarok”. Mas ele abdica disso tudo em prol da galhofa potencializada a mil.
Entenda: Waititi salvou Thor. Ao recriá-lo de forma surpreendente em “Thor: Ragnarok”, o então vingador mais deixado de lado durante anos se tornou quase tão grandioso e querido quanto o Homem de Ferro de Robert Downey Jr. Mas tudo tem um limite.
Cansa assistir a um filme com piadas forçadas a cada 2 minutos. Não há respiro, não há descanso, nada. É surra atrás de surra, como se mergulhassem sua cabeça em um mar de piadas enquanto gritam: “ria, seu desgraçado”.
Mas “Thor: Amor e Trovão” é ruim?
Apesar de tudo, “Thor: Amor e Trovão” não é execrável. Está longe disso. O quarto filme protagonizado por Chris Hemsworth entra na lista dos medianos da Marvel pois, querendo ou não, ele diverte. Toda galhofa bem produzida será um show de entretenimento. É muito carisma em tela pra você não ser abraçado.
Contudo, não dá pra aceitar só isso. Joga-se muito no lixo em prol das gracinhas. São quase 12 anos de Universo Cinematográfico Marvel. Abriu-se mão de voos maiores de imediato para sustentar um esquema inabalável. Mas hoje nos deslocamos ao cinema pagando caro para ver uma galhofa sem profundidade, com um excesso de piadas que em maioria não funcionam.
Alguns pontos positivos devem ser destacados. Um deles é perceber como é bom quando um filme da Marvel vira as costas para o Universo compartilhado. “Thor: Amor e Trovão” não tem nenhuma ligação com a colcha de retalhos do estúdio. É uma obra solo, que se basta por si só. Isso é bom.
Temi que este longa se transformasse em plataforma para diminuir o protagonista masculino em prol do crescimento da então “Thor mulher”, mas felizmente isso não acontece. Aqui, a personagem de Natalie Portman existe como adição, um ponto a mais dentro da obra. Do começo ao fim, a história é do Thor e ele não divide esse protagonismo com sua versão feminina – pelo contrário, ela está lá para engrandecer a aventura e oferecer uma personagem inspiradora, mas sem passagem de bastão ou nada do tipo.
Em tempo: há duas cenas pós-crédito que não vão muito longe do que foi o filme.
Que elenco!
O crescimento de Chris Hemsworth no gênero comédia é impressionante. O astro desenvolveu timing perfeito para o humor. Tessa Thopmson também brilha com sua Valquíria – seja nas lutas ou na comédia, ela entrega facilmente o esperado. Natalie Portman, por sua vez, está em casa. Dá para sentir o quanto ela se diverte. Quando falamos de uma profissional deste nível, fica fácil entender que mesmo fantasiada com um martelo na mão ela vai nos proporcionar algo único.
Taika Waititi volta com Korg, seu personagem em voz e captura de movimento. Porém, se em “Thor: Ragnarok” o personagem fazia certeiras aparições e nos arrancava gargalhadas, neste novo longa ele não sai de tela e se torna insuportável. Já o eterno “Gladiador” Russell Crowe surge como Zeus – ou melhor, uma versão galhofa e caricata do Pai do Olimpo, que funciona muito bem e tem algumas piadas excelentes, mas com exageros que fazem o público se desligar por muitos momentos.
Mesmo com tantos destaques positivos no elenco, o longa ainda é de Christian Bale. Um dos maiores atores da história, mesmo careca e pintado de cinza, nos dá um dos melhores e mais assustadores vilões da Marvel. Bale só faltava gritar para que dessem o roteiro a ele. Era o que deveria ter sido feito, pois havia muito mais ali pra se trabalhar. Arrisco-me a dizer que depois de Thanos, Gorr é o vilão com mais motivações profundas que o Universo Cinematográfico Marvel já teve. Infelizmente, passa longe de ser um Carniceiro.
Também por culpa do diretor, os Guardiões da Galáxia liderados por Chris Pratt e sua química absurda com Chris Hemsworth também são jogados no lixo. Menos as cabras – essas eu espero que sejam eternas, pois são uma das poucas coisas que funcionam por aqui.
O que se passa na Fase 4?
Desconsiderando “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” – que está além de qualquer fase dos estúdios Marvel –, é inegável que chegamos ao limite do Universo Cinematográfico Marvel. A Fase 4 não funcionou. A ideia de fazer seriados de qualidade duvidosa no Disney+ desgastou o gênero. Não há mais frio na barriga antes de ir ao cinema para assistir à próxima história.
“Thor: Amor e Trovão” era pra ser um show do Guns N’ Roses nos tempos de ouro. No fim, foi como ver uma banda cover onde Slash usa moicano. Mais um filme decepcionante da Fase 4, em que a Marvel parece não saber o que fazer e apenas continua nos fazendo engolir produção atrás de produção na esperança que, enfim, algo dê certo e tenhamos uma nova saga do infinito – o que me parece bem distante de acontecer.
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Vivemos em uma época de Vibe, expectativa e Teaser de filmes que vão almejando nossa ansiedade em ver determinado filme ou seriado!!!! No final das contas acaba virando o modismo daquele momento…esperando até o próximo filme e assim começando de novo!!!! Acontece também nos games e assim vai, infelizmente e felizmente está acontecendo muito o fator da geração passada…o fator saudades dos primórdios!!!! Gosto muito dos filmes dos anos 80 e 90…vendo os filmes da marvel atuais, estou começando a sentir saudades dos filmes mais antigos dela também!!!! Expectativa para o novo filme do Capitão América, já que o seu seriado foi o que mais achei de interessante no quesito… Marvel depois da Marvel Homem de Ferro e Capitão América!!!! valeu!!!!
Parabéns Raphael. Artigo muito bem escrito. Além de livre dos grilhões da grande mídia, que só elogia esse filmeco patético e decepcionante. O parágrafo do “Ria, seu desgraçado” foi genial.