Assistir ao show de uma banda clássica do rock é como ver um daqueles jogos de futebol de veteranos no final do ano. Você sabe que os caras não conseguem mais correr da mesma forma nem possuem a mesma força do passado para dar um chute. O barato de presenciar aquilo é resgatar memórias, lembrar do quanto aquilo é importante – não apenas em sua vida, mas nas de outras pessoas e gerações.
A maior crítica de quem presencia um concerto do Kiss na última década e meia reside nas performances vocais pavorosas de Paul Stanley. O homem que já foi considerado um dos grandes cantores de outros períodos não consegue mais entregar um desempenho no mesmo padrão de outrora. É um fato que o próprio reconhece, você que está lendo não precisa se ofender nem tentar defender o indefensável.
Portanto, não dá para ver uma apresentação do quarteto em sua turnê de despedida – e desta vez parece ser para valer, já que o tempo é um adversário invencível – sem ter um alto grau de tolerância. Mesmo porque com as tecnologias e comunicações atuais, ninguém pode dizer que não foi avisado de antemão.
Mas o fato é que mesmo com todos os poréns, Stanley (voz e guitarra), Gene Simmons (voz e baixo), Tommy Thayer (guitarra) e Eric Singer (bateria) realmente conseguem entregar uma performance que tem tanto carisma que acaba suplantando as dificuldades impostas pela vida.
A apresentação na Arena do Grêmio, em Porto Alegre, na última terça-feira (26) foi uma prova cabal. Com a melhor produção de palco que trouxe ao país em todas as suas turnês, os quatro mascarados tiveram a plateia na mão o tempo todo.
Tive a oportunidade de assistir as três passagens do grupo pela capital gaúcha e esta foi, de longe, a mais empolgante. Superou com sobras a performance questionável da formação original em 1999 (emocionante pelo significado, mas com um Ace Frehley fora de si e um Peter Criss limitadíssimo) e a diminuta apresentação de 2012, com problemas de palco e atrasos – embora o clima intimista de um espaço menor como o ginásio Gigantinho tenha dado um charme especial.
A abertura foi feita pela banda local Hit the Noise, que mostrou bastante competência com um stoner/sludge cheio de riffs e melodias soturnas pontuadas por um vocal melodioso. O público aprovou e a expectativa é grande para o que oferecerão no futuro.
Vale citar que o quarteto conta com o baixista Marcel Bittencourt, que até pouco tempo atrás fazia parte da Rebel Machine, uma das formações hard rock preferidas da casa em tempos recentes – que infelizmente encerrou atividades.
A atração principal não precisou de qualquer esforço para empolgar. As referências ao passado emocionam – a coreografia ao final de “Deuce” ganhou acompanhamento no telão de outras formações, incluindo a oitentista de cara limpa, com o guitarrista Bruce Kulick na linha de frente junto aos patrões.
O setlist não apresenta novidades, mas percorre a carreira de forma satisfatória. Sempre vai faltar uma ou outra preferida pessoal, mas não dá para fazer jus a uma discografia tão rica em hits.
Mesmo com todos os problemas citados no início do texto, o Kiss ainda oferece um dos espetáculos mais divertidos do rock and roll. A End of the Road oferece um show emocionante sem deixar que o clima triste impere. Ainda assim, não foi difícil ver várias lágrimas percorrendo os rostos dos presentes.
Kiss – ao vivo em Porto Alegre
- Local: Arena do Grêmio
- Data: 26 de abril de 2022
- Turnê: End of the Road – América do Sul
Repertório:
- Detroit Rock City
- Shout It Out Loud
- Deuce
- War Machine
- Heaven’s on Fire
- I Love It Loud
- Say Yeah
- Cold Gin
- Lick It Up
- Calling Dr. Love
- Tears Are Falling
- Psycho Circus / solo de bateria / 100,000 Years
- God of Thunder
- Love Gun
- I Was Made for Lovin’ You
- Black Diamond
- Beth
- Do You Love Me?
- Rock and Roll All Nite
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O Kiss é e sempre será, independente da opinião de qm se acha músicos ou jornalista, a maior banda do mundo!