Jack White experimenta sem abdicar do peso em “Fear of the Dawn”

Primeiro dos dois álbuns do músico em 2022 aposta em sonoridade mais heavy, com guitarra assumindo papel de regente

A carreira de Jack White fora do The White Stripes tem mais pontos altos do que baixos, especialmente quando os trabalhos com The Raconteurs e The Dead Weather entram na conta. Mesmo assim, parte dos fãs estava preocupada com seu mais novo trabalho, “Fear of the Dawn”, que chega via Third Man Records/BMG. O motivo? Seu antecessor, “Boarding House Reach” (2018), que exagera nos experimentos e soa um pouco perdido.

Mas é importante lembrar que entre “Boarding…” e “Fear…”, há “Help Us Stranger” (2019), primeiro disco do The Raconteurs em mais de uma década. O trabalho é tão bom que parece ter mostrado a White o que seu público mais gostaria de ouvir dele.

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Não que isso seja uma grande preocupação. Foi por não ceder a padrões que o ex-líder do já encerrado The White Stripes consagrou-se vendendo milhões de discos, fazendo shows lotados por todo o planeta e recebendo 12 prêmios Grammy. Em tempos onde rock de garagem parecia obsoleto, ele e a baterista Meg White estouraram com álbuns do calibre de “White Blood Cells” (2001) e “Elephant” (2003). E quando seu grupo principal chegou ao fim e todos esperavam que ele mantivesse aquela sonoridade em carreira solo, a lógica foi subvertida com os ousados “Blunderbuss” (2012) e “Lazaretto” (2014).

Por outro lado, como estamos falando de um artista de 46 anos e mais de duas décadas de carreira, o público espera por algo. Natural. No caso de “Fear of the Dawn”, a expectativa não era das melhores até que o explosivo single “Taking Me Back”, presente na trilha do game “Call of Duty: Vanguard”, foi lançado. A torcida por uma sonoridade garage rock retrô, remetendo ao White Stripes, tornou-se enorme.

Dá para dizer que este novo trabalho entrega isso, mas não só. A veia experimental de Jack, cada vez mais disposto a mostrar algo diferente, segue aflorada. Mas como ele anunciou que vai lançar dois álbuns em 2022 – “Entering Heaven Alive”, de sonoridade folk, sai dia 22 de julho –, deu para distribuir um pouco mais os estilos entre ambos os trabalhos.

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O reflexo mais notório de ter feito dois álbuns de uma vez é que como o próximo será mais “calminho”, este de agora praticamente não tem balada. A única que pode ser classificada dessa forma é o encerramento “Shedding My Velvet”, um semiblues com um delicioso groove R&B que acabou se tornando um dos grandes destaques da tracklist.

De resto, ou há o frenesi visceral do garage rock, ou há momentos de ousadia tentada que vão do rap à psicodelia – ainda que sem deixar o peso de lado. Mesmo quando a ideia é soar mais convencional, Jack, que gravou sozinho vocais e todos os instrumentos, experimenta bastante com várias camadas de guitarra, efeitos que parecem vir de um extenso pedalborad analógico ou sintetizadores geralmente inclinados para sons retrô.

Mas atendendo à definição do rock mais “cru”, destacam-se a já mencionada “Taking Me Back”, com seu riffão pesado e bateria seca; a faixa-título, que abdica de possíveis variações rítmicas ao colocar o pé no acelerador; e “Morning, Noon and Night”, chamando atenção por sua simplicidade e aura menos dark. Esta última, inclusive, tem riffs tão bons em seu terço final que poderia gerar outra boa música.

Com relação às faixas mais experimentais, as melhores são aquelas que dialogam com o hip hop de alguma forma. “Hi-De-Ho”, por exemplo, acerta ao trazer participação de Q-Tip (A Tribe Called Quest) em um clima que vai do rap rock retrô a segmentos mais contemporâneos do gênero, passando por gospel e até música espanhola. Já “What’s the Trick?” agrada ao tentar emular Rage Against the Machine, especialmente nas guitarras, sem abdicar de fortes ganchos melódicos. Fora do rap, ainda há a semibalada “Shedding My Velvet”, já descrita em parágrafo anterior.

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Quem experimenta, também derrapa. Dessa forma, temos algumas músicas que não geram grandes impressões, como a meio-industrial “The White Raven” e as quase-psicodélicas “Eosophobia” e “Eosophobia (Reprise)”, além de uma faixa que mal dá para ouvir até o fim: a chatinha “Into the Twilight”, que não é salva nem mesmo pelos samples inusitados de Manhattan Transfer.

Por sorte (ou competência), “Fear of the Dawn” é como a carreira de Jack White fora do The White Stripes: há mais pontos altos do que baixos. Seguro até nas passagens ousadas, o álbum acerta ao deixar a guitarra, com seus infinitos sons possíveis, na linha de frente. Recursos estilísticos à parte, o repertório é bom – e isso é o que importa. Agora, resta aguardar se “Entering Heaven Alive” manterá o padrão de qualidade ou se Jack poderia ficar com apenas um disco para 2022.

Ouça “Fear of the Dawn” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Jack White – “Fear of the Dawn”

  1. Taking Me Back
  2. Fear Of The Dawn
  3. The White Raven
  4. Hi-De-Ho (W/ Q-Tip)
  5. Eosophobia
  6. Into The Twilight
  7. Dusk
  8. What’s The Trick?
  9. That Was Then (This Is Now)
  10. Eosophobia (Reprise)
  11. Morning, Noon And Night
  12. Shedding My Velvet

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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