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De 1976 a 2000: as músicas reaproveitadas pelo Van Halen para “A Different Kind of Truth”

Disco final da carreira da banda recupera várias demos que até então nunca haviam aparecido nos álbuns oficiais, as transformando em novas canções

Não era a intenção, mas “A Different Kind of Truth” acabou se tornando o álbum final do Van Halen, tendo em vista a morte do gigante Eddie Van Halen em 2020. Lançado em 7 de fevereiro de 2012, o trabalho nasceu por acaso, pois a ideia original era compilar versões lado B para músicas já conhecidas – e, quem sabe, uma ou outra demo inédita.

Embora tenha lançado seu disco de estreia em 1978, o Van Halen foi criado ainda em 1973. Até a chegada ao estrelato cinco anos depois, algumas demos com músicas autorais foram gravadas por David Lee Roth (voz), Eddie Van Halen (guitarra), Michael Anthony (baixo) e Alex Van Halen (bateria), geralmente na tentativa de conseguir contrato com uma gravadora.

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Foi uma época tão prolífica que muitas composições do período renderam faixas para discos futuros, não apenas para o trabalho de estreia. Diante de tal cenário, Wolfgang Van Halen, filho de Eddie que ocupou a vaga deixada por Michael Anthony, desistiu de produzir um álbum de lados B para compilar material para um novo disco do Van Halen – que não lançava um full-length desde “Van Halen III” (1998).

Dessa forma, várias músicas que entraram em “A Different Kind of Truth” são derivadas de demos produzidas na década de 1970. As únicas exceções são “You and Your Blues”, “China Town” e “Stay Frosty”, além de “Blood and Fire”, que saiu da trilha sonora do filme “The Wild Life” (1984).

A capa de “A Different Kind of Truth”

A seguir, as origens do álbum final do Van Halen são dissecadas com alguns comentários de Wolfgang em entrevista à Ultimate Classic Rock.

Van Halen e as origens de “A Different Kind of Truth”

“Tattoo”

Divulgada como primeiro single do álbum, a abertura “Tattoo” é uma versão atualizada de “Down in Flames”, demo produzida ainda em 1977. Na visão de Wolfgang Van Halen, escolhê-la para ser a primeira música do disco a ser mostrada ao público foi um erro.

“Como abertura ou primeiro single, não achava ideal. Lutei para que ‘She’s the Woman’ fosse o primeiro single. Não é sobre a qualidade da música, ela só é um pouco diferente do restante do álbum. As pessoas são tão cínicas e reativas nos dias de hoje, nas redes sociais, que quando essa música chegou, foi a primeira impressão do público – e eles pensaram que o resto do álbum soaria assim. Não era o caso.”

Ouça uma gravação ao vivo de “Down in Flames” a seguir.

“She’s the Woman”

Entre todas as reaproveitadas, talvez “She’s the Woman” seja a mais conhecida. Presente na demo “Zero”, produzida por Gene Simmons em 1976, a faixa teve boa parte de sua estrutura mantida – fora o título.

Contudo, a ponte original da demo precisou ser alterada nessa nova gravação porque havia dado origem a outra música no passado: “Mean Street”, clássico do álbum “Fair Warning” (1981) que se chamava “Voodoo Queen” na versão original.

Ouça a demo de “She’s the Woman” abaixo.

“You and Your Blues”

Uma das poucas realmente inéditas de “A Different Kind of Truth”, “You and Your Blues” traz, na visão de Wolfgang Van Halen, um pouco do lado mais melódico da banda – explorado na fase com o vocalista Sammy Hagar –, mas com a assinatura clássica de David Lee Roth.

“É como o lado mais melódico do meu pai que você via na era Hagar, mas com Dave ali. Achei muito divertido.”

“China Town”

Outra inédita, “China Town” chama atenção por seu instrumental frenético e pesado. Wolfgang avisa que a abertura em tapping é feita por ele junto do pai – diferentemente do que muitos pensavam, pois atribuíam a introdução apenas a Eddie, supostamente usando pedal oitavador.

“Fiquei tão empolgado para que as pessoas ouvissem ‘China Town’, pois é provavelmente minha música favorita de se tocar no álbum.”

“Blood and Fire”

Quinta da tracklist, “Blood and Fire” foi o único resgate da década de 1980. A faixa traz elementos de “Ripley”, instrumental do Van Halen para a trilha sonora do filme “The Wild Life” (“Vida Selvagem”), lançado em 1984. É, na opinião de Wolfgang, uma das músicas mais belas já feitas pelo pai.

“O fraseado melódico dessa música feito pelo meu pai remete tão bem à época do álbum ‘1984’ que você pode notar isso. […] Também me lembra de ‘Baluchitherium’ (do disco ‘Balance’, de 1995).”

Ouça “Ripley” abaixo.

“Bullethead”

Uma das primeiras a ser resgatada para o projeto, “Bullethead” é datada originalmente de 1977. Descrita como o momento mais punk do álbum final do Van Halen, a música foi apresentada em sua demo retrabalhada em 2009 para convencer David Lee Roth a embarcar no projeto.

“She’s the Woman” e “Let’s Get Rockin’” (que virou “Outta Space”) também foram mostradas ao cantor. Dito e feito: ele logo topou participar.

Ouça abaixo a demo de “Bullethead”.

“As Is”

“As Is” nasceu a partir de uma demo produzida no ano 2000. A ideia era tê-la como parte de “Love Again”, que seria o segundo álbum do Van Halen com Gary Cherone no vocal. Esse trabalho nunca chegou a ser feito, já que Cherone deixou a banda.

Apesar do projeto geral ter sido engavetado, Eddie Van Halen parecia ter “As Is” em sua mente – tanto que tocou um trecho da faixa em sua participação na série “Two and a Half Men”.

“As pessoas reconhecem aquela ideia principal de quando meu pai foi ao ‘Two and a Half Men’ e ele chamou essa ideia de ‘two burritos and a root bear float’. Ele toca o comecinho do riff de ‘As Is’, o que mostra o quanto essas ideias flutuavam por aí. Se você ouve ‘Jump’, o final dela tem ‘Top of the World’. Na trilha sonora de ‘The Wild Life’, você ouve ‘Right Now’. Com músicos, as ideias podem ser usadas o tempo todo e podem ficar estacionadas por um tempo.”

Assista abaixo à participação de Eddie Van Halen em “Two and a Half Men”.

“Honeybabysweetiedoll”

Outra demo de “Love Again”, datada de 2000, “Honeybabysweetiedoll” se chamava originalmente “Flex”. Acabou ganhando uma letra típica de David Lee Roth, que também mudou o título.

“O nome mais ridículo possível para uma música. Quando ouvi esse título, pensei: ‘ok, é Dave’ (risos). […] Na abertura, aquele som de scratch parece como metal quebrando. Sou eu. Muita gente pensa que é guitarra, mas você só ouve guitarra a partir daquele beep em tom mais agudo que meu pai estava fazendo com um pedal oitavador e delay. O scratch sou eu com um pedal wah de baixo arranhando para cima e para baixo. No riff principal, sou eu fazendo tapping com um dedo.”

“The Trouble With Never”

Terceira e última demo de “Love Again” a ser reaproveitada em “A Different Kind of Truth”, “The Trouble With Never” é, talvez, a que mais remete ao Van Halen clássico. Cativante como é, a faixa tinha um título provisório que remetia à sua própria introdução: “Da Da Da Da Da Da Da”. Segundo Wolfgang, mesmo após o título definitivo ser estabelecido, os músicos a chamavam pelo nome anterior.

“Outta Space”

Originalmente chamada “Let’s Get Rockin’”, “Outta Space” veio de uma demo datada de 1976. A letra da nova versão é de David Lee Roth, mas fora isso, pouca muda na comparação com a antiga faixa. Wolfgang comenta:

“Quando ouvi aquele riff de guitarra pela primeira vez ao escutar a demo, foi tipo: ‘oh, cara, precisamos fazer essa’. É uma música perfeita da era clássica do Van Halen em termos de sonoridade.”

Ouça abaixo a demo “Let’s Get Rockin’”.

“Stay Frosty”

A terceira e última inédita da tracklist busca soar como uma continuação de “Ice Cream Man”. É o que diz Wolfgang Van Halen a respeito de “Stay Frosty”.

“É totalmente Dave. A música é dele. Mas fui eu quem adicionei estrutura a ela. Aquele começo é como o original. Não sabíamos para onde iríamos com isso, então, pensei: e se a tratarmos como uma espécie de nova ‘Ice Cream Man’? Então, nasceu ‘Stay Frosty’.”

“Big River”

Original de 1976, “Big River” é oriunda da demo “Big Trouble”. Wolfgang comenta que a ponte da música é uma das passagens favoritas dele no álbum inteiro.

“O solo do meu pai e a progressão de acordes naquela seção são muito, muito divertidos. Soa agressivo.”

Ouça abaixo a demo de “Big Trouble”.

“Beats Workin’”

Também datada de 1976, “Beats Workin’” se chamava originalmente “Put Out the Lights”. É uma das várias faixas presentes na demo “Zero”, produzida por Gene Simmons. Na nova versão, ganhou uma letra de David Lee Roth. Wolfgang reflete:

“Talvez seja apenas por olhar para trás, ou o contexto onde estamos agora, mas tê-la como a última música do último álbum… há aquela sensação de encerramento que você pode quase ouvir nessa faixa. Sinto como se fosse uma despedida muito boa do Van Halen. Quando você a ouve, é bem legal.”

Ouça abaixo a demo “Put Out the Lights”

A tracklist completa de “A Different Kind of Truth”:

  1. Tattoo
  2. She’s the Woman
  3. You and Your Blues
  4. China Town
  5. Blood and Fire
  6. Bullethead
  7. As Is
  8. Honeybabysweetiedoll
  9. The Trouble With Never
  10. Outta Space
  11. Stay Frosty
  12. Big River
  13. Beats Workin’

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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