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A história de cada música de “Led Zeppelin IV”, a obra-prima do Led Zeppelin

Com estimativa de 37 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, álbum é um dos mais celebrados da carreira da banda

Lançado em 8 de novembro de 1971, o álbum sem título do Led Zeppelin, conhecido como “Led Zeppelin IV”, é um dos mais revolucionários da banda, do rock e da música em geral. Não à toa, é um dos discos mais vendidos da história: estima-se que 37 milhões de cópias tenham sido comercializadas mundialmente.

Um dos grandes charmes de “Led Zeppelin IV” está no fato de que cada música parece fazer sentido ali. São apenas oito faixas, mas todas elas apresentam elevado patamar de qualidade e formam um contexto próprio quando são colocadas juntas.

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Evidentemente, algumas canções se destacam, como “Black Dog” e seu groove envolvente, “Rock and Roll” e sua pegada que faz justiça ao título, “Stairway to Heaven” com sua grandeza inegável… mas não há mau momento em “Led Zeppelin IV”.

A lista a seguir apresenta a história de cada música do álbum, da abertura “Black Dog” ao encerramento com “When the Levee Breaks”. Confira!

A história das músicas de “Led Zeppelin IV”

“Black Dog”

A abertura do álbum foi também o primeiro single do trabalho nos Estados Unidos, além de ser um dos maiores clássicos do Led Zeppelin. Dona de um riff marcante, a faixa também se sobressai por um ritmo pouco convencional que é conduzido por maestria pelo baterista John Bonham.

O título (em tradução livre, “cão preto”) não tem nenhuma relação com a letra: a escolha se deu por causa de um cão labrador que andava pelas árvores próximas a Headley Grange, onde o disco foi gravado.

Robert Plant gravou seus vocais em apenas dois takes, enquanto o guitarrista Jimmy Page e o baixista John Paul Jones ainda trabalhavam no riff principal. A parte a capella foi uma influência direta da música “Oh Well”, lançada pelo Fleetwood Mac dois anos antes.

O solo no final da música foi gravado por Page direto na mesa de som, sem o uso de um amplificador.

“Rock and Roll”

Uma das favoritas da banda para abrir os shows, “Rock and Roll” surgiu a partir de uma brincadeira de John Bonham na bateria com a introdução de “Keep a Knockin'”, de Little Richard.

Na letra, Robert Plant dá uma resposta aos críticos que acusavam o Led Zeppelin de ter virado uma banda folk em “Led Zeppelin III” (1970). O vocalista comentou sobre isso em entrevista para a Creem, em 1988.

“Achamos que o rock and roll deveria ser trazido de novo. Eu estava finalmente em uma banda realmente de sucesso, e sentíamos que era hora de detonar. Não foi uma coisa intelectual, porque não tínhamos tempo para isso – nós só queríamos transbordar tudo. Foi uma coisa bem animal, infernal e poderosa, o que estávamos fazendo.”

Ian Stewart, famoso por ser um integrante semioficial dos Rolling Stones, toca piano na faixa. Certamente, ofereceu um tempero adicional e vintage à faixa.

“The Battle of Evermore”

Em “The Battle of Evermore”, o Led Zeppelin conta com a colaboração da vocalista Sandy Denny, do Fairport Convention, marcando a única participação vocal na história da banda.

A música foi composta por Jimmy Page, que brincava com um bandolim que John Paul Jones havia levado para as gravações.

Já a letra, cortesia de Robert Plant, foi baseada em um livro sobre as Guerras de Independência da Escócia. No entanto, há referências diretas à Batalha de Pelennor, um dos eventos mais importantes de “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, de J.R.R. Tolkien, do qual o vocalista era um grande fã. Plant, inclusive, faria outras músicas com essa temática.

Pela participação, Sandy Denny ganhou seu próprio símbolo representando-a, assim como os membros da banda.

O símbolo de Sandy Denny em “Led Zeppelin IV”

“Stairway to Heaven”

Um dos maiores clássicos do rock e da música popular no geral, “Stairway to Heaven” traz também uma das letras mais analisadas e enigmáticas de todos os tempos.

A importância dos versos escritos por Plant é tão grande que a letra foi a única impressa no encarte do disco em sua edição original.

Inicialmente, a música trata sobre ganância, mas conforme evoluiu em suas passagens rítmicas, ganhou contornos misteriosos. Citações à Rainha de Maio e a outros elementos do folclore e paganismo europeus certamente deixaram os fãs intrigados.

O enorme sucesso e o mistério em torno de “Stairway to Heaven” serviram como motivos para a banda ser acusada de “satanismo”. Bem longe disso, no fim das contas.

A parte melódica, por sua vez, nasceu por inspiração de outra obra do grupo: “Dazed and Confused”, blues rock melancólico do álbum de estreia. A ideia era criar algo tão épico quanto, com as esperadas mudanças de clima em seu desenrolar.

Em uma antiga entrevista, Jimmy Page explicou:

“A ideia era ter uma música que realmente mudasse conforme a tocamos. As camadas se desdobrariam com os instrumentos conforme eles fossem entrando. A bateria chegaria mais tarde assim que a música progredisse. Haveria esse movimento no solo de guitarra que o conduzia, com o ímpeto se desdobrando assim que o ritmo se acelera.

Eu sabia que algo assim não era algo feito na música popular. Era feito na música clássica, mas era complicado fazer ensaios em cima disso e transformá-la em algo rotineiro até que Robert fizesse as letras. Mas tudo deu certo. As performances eram mais completas uma vez que tinha as letras lá. Pudemos realmente construir algo e moldá-lo com perfeição.”

É uma faixa longa, superando os 8 minutos, e ganhava ainda jams em sua porção final quando tocada ao vivo, podendo chegar a 15 minutos em alguns shows.

Apesar de ser citada como a grande obra-prima do Led Zeppelin, “Stairway to Heaven” não agrada tanto a Plant nos dias de hoje. O vocalista chegou a pagar US$ 10 mil para uma rádio de Portland, nos Estados Unidos, nunca mais tocasse a faixa. Em entrevistas, diz que a verdadeira masterpiece da banda é “Kashmir”. Pode ser fruto da exaustão, já que a canção foi demasiadamente tocada desde seu lançamento – mas isso também atesta sua qualidade.

“Misty Mountain Hop”

No LP original, “Misty Mountain Hop” é a responsável por abrir o lado B. O piano elétrico de John Paul Jones guia a parte inicial da música, que conta com um riff hipnótico.

A letra é baseada em um confronto de jovens com a polícia britânica, presenciado por Robert Plant. A “Montanha Nebulosa” citada no título é outra referência à obra de Tolkien – desta vez, o livro “O Hobbit”, que precede “O Senhor dos Anéis”.

O vocalista revelou em entrevista à Rolling Stone, em 2017, que o título também se refere ao clima cheio de névoa típico do País de Gales. Plant viveu por um tempo em Worcestershire, na fronteira da Inglaterra com Gales, e revelou ser um admirador do “tempo feio” característico do lugar.

Já a parte melódica foi composta por Jimmy Page durante uma noite na qual ele era o único dos músicos acordado. À BBC, ele relembrou:

“Lembro-me de chegar com a parte inicial disso, e seguimos a partir dali. Jonesy colocou os acordes para a parte do refrão.”

“Four Sticks”

O título “Four Sticks” (“quatro baquetas”, em tradução livre) deriva do fato de que John Bonham usou quatro baquetas, e não duas, para tocar o instrumento ao longo da música.

Composta por Page e Plant utilizando elementos da música indiana, a faixa teve um processo de gravação bem conturbado, com vários takes sendo necessários para concluir o processo. Bonham ficou bastante frustrado com o que fez e se recusou a tentar mais do que duas vezes.

O motivo? A notória complexidade da parte rítmica, que mescla padrões de compasso 5/8 e 6/8.

Curiosamente, a ideia para a música veio do próprio Bonzo, que se sentiu inspirado após assistir ao ídolo Ginger Baker tocar em uma batalha de bateria contra Elvin Jones. Em entrevista ao livro “Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra”, Jimmy Page relembrou:

“John tinha ido ver o Ginger Baker’s Air Force e ficou muito empolgado com isso. Ele gostava de Ginger Baker, mas estava tipo: ‘vou mostrar a ele’. Pegou as quatro baquetas e pronto, fizemos apenas dois takes – foi o que conseguimos. Mas é surpreendente o que ele está fazendo. Ele nunca tinha tocado naquele estilo. Não consigo nem lembrar qual era o título original da música, mas com certeza virou ‘Four Sticks’ depois disso. Bonzo simplesmente levou aquilo para outra estratosfera.”

“Four Sticks” era tão difícil de se tocar que só foi executada ao vivo pela banda uma vez, embora tenha sido regravada em 1972 com músicos da Orquestra de Bombay, na Índia.

Jimmy e Robert retrabalharam a faixa para o álbum ao vivo “No Quarter”, do projeto Page & Plant. Ali, o arranjo adotado é bem diferente.

“Going to California”

Inspirada por Joni Mitchell e sua música “California”, “Going to California” traz um trabalho totalmente acústico de Jimmy Page e John Paul Jones.

Aqui, o baixista do Led Zeppelin assumiu o bandolim, em uma amostra de sua versatilidade como instrumentista – um dos grandes trunfos da banda.

Além da referência a Mitchell, a quem Page e Plant admiravam como compositora, a música também cita terremotos sofridos pelo estado americano poucos meses antes. Foi, inclusive, o cenário que a própria banda encontrou quando mixou o disco em Los Angeles.

Com relação à admiração por Joni, Jimmy revelou à Rolling Stone em 1975:

“Essa é a música que toco em casa o tempo todo: Joni Mitchell. O ponto forte é que ela é capaz de olhar para algo que aconteceu com ela, recuar e cristalizar toda a situação – e, em seguida, escrever sobre isso. Ela traz lágrimas aos meus olhos. O que mais posso dizer? É assustador.”

“When the Levee Breaks”

Originalmente um blues gravado no final dos anos 20 por Memphis Minnie e Kansas Joe McCoy, “When the Levee Breaks” fecha o álbum com um trabalho de estúdio notório.

Aqui, a banda explorou diversos efeitos e recursos, especialmente nos vocais de Robert Plant, que aparecem com uma sonoridade diferente a cada estrofe.

A bateria de John Bonham na introdução foi gravada em um hall da casa onde a banda trabalhou parte do álbum. Microfones foram pendurados através de uma escadaria, o que trouxe uma sonoridade especial.

A track da bateria ainda receberia um tratamento especial, resultando em um som único, tão famoso que foi usado por artistas de hip hop como sample ao longo de muitos anos.

O Led Zeppelin só a tocou ao vivo duas vezes, sendo uma das faixas mais difíceis de ser executada em shows – muito por causa dos efeitos de estúdio da versão original.

* Texto por André Luiz Fernandes e Igor Miranda, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.
  1. Excelente texto, traz muitas curiosidades e informações relevantes, sensacional! Parabéns pelo conteúdo. Sobre o disco – um clássico absoluto – dispenso maiores comentários…

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