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O que Axl Rose dizia sobre a polêmica letra de “One in a Million”, do Guns N’ Roses

Música do álbum “GN'R Lies” traz palavras pejorativas para se referir a negros e gays, além de ter conteúdo xenofóbico

A música mais polêmica do Guns N’ Roses saiu no álbum “GN’R Lies” (1988). Trata-se de “One in a Million”, cuja letra, escrita pelo vocalista Axl Rose, cita negros, imigrantes e homossexuais de forma pejorativa.

Aparentemente, a faixa causa mal estar até hoje dentro da banda, pois foi retirada de um relançamento mais recente. Porém, sempre que foi questionado sobre o assunto, Axl negou qualquer preconceito.

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A letra de One in a Million

Um dos trechos que chamam atenção em “One in a Million” traz Axl Rose cantando sobre policiais e negros. O vocalista faz uso da palavra “nigger”, reconhecidamente racista.

Os problemas do artista com a polícia datam desde sua juventude, mas o preconceito racial parece não ter uma justificativa tão óbvia assim. Confira o trecho, junto de sua tradução, a seguir.

“Police and niggers, that’s right, get outta my way; Don’t need to buy none of your gold chains today.”

(“Policiais e crioulos, é isso aí, saiam do meu caminho; Não preciso comprar nenhuma de suas correntes douradas hoje.”)

Em outro trecho, a música fala de imigrantes e homossexuais, mais uma vez de forma pejorativa. Além das declarações xenofóbicas, especialmente contra iranianos, o cantor usa a palavra “faggot”, notoriamente homofóbica e fala sobre “espalhar doenças” – em plena epidemia de Aids, no fim da década de 1980.

“Immigrants and faggots, they make no sense to me; They come to our country and think they’ll do as they please; Like start some mini-Iran or spread some fucking disease; And they talk so many goddamn ways, it’s all Greek to me.”

(“Imigrantes e gays, eles não fazem sentido para mim; Eles vêm para o nosso país e acham que vão fazer o que querem; Como começar algum mini-Irã ou espalhar alguma maldita doença. E eles falam de tantas malditas formas diferentes, é tudo grego para mim.”)

Aparentemente prevendo a polêmica, a composição ainda conta com uma espécie de “defesa” contra as críticas que todos sabiam que viriam.

“Radicals and racists, don’t point your finger at me; I’m a small town white boy just tryin’ to make ends meet.”

“Radicais e racistas, não apontem seu dedo para mim; Sou um garoto branco de uma cidade pequena, apenas tentando se virar.”

A opinião do Guns N’ Roses

De modo geral, os demais integrantes do Guns N’ Roses enxergam a música de diferentes formas. Na época do lançamento de “GN’R Lies”, o então guitarrista Izzy Stradlin disse em entrevistas que a canção falava sobre as diferentes relações raciais na tumultuada Los Angeles dos anos 80.

Já o outro guitarrista, Slash, que é filho de mãe negra, incomodou-se com o conteúdo da letra. Comenta-se nos bastidores que ele e o baterista Steven Adler tentaram tirar “One in a Million” do disco, sem sucesso.

Em entrevista à Rolling Stone, em 1991, o músico declarou:

“Quando Axl apareceu com a música e realmente queria gravá-la, eu disse que não achava muito legal. Não me arrependo de tocar em ‘One in a Million’, só me arrependo do que estamos passando por causa dela e da forma como as pessoas perceberam nossos sentimentos pessoais.”

Com a palavra, Axl Rose

Falando também à Rolling Stone, mas em 1989, Axl Rose tentou se explicar – o que não ajudou muita coisa. O vocalista disse que compôs a letra na casa de um amigo enquanto pensava em como seria ir embora de Los Angeles, ao mesmo tempo em que relembrava seus primeiros dias na cidade.

“Comecei a escrever sobre querer sair de L.A., ir embora por um tempo. Eu iria até a estação de ônibus Greyhound, no centro de L.A. Se você nunca esteve lá, não pode me falar m**da nenhuma sobre o que acontece e sobre meu ponto de vista.

Lá tem um número enorme de negros vendendo joias roubadas, crack, heroína e maconha, e a maioria das drogas é falsa. Também há enganadores vendendo espaços para estacionar onde não há cobrança. Tentando enganar cada garoto que desce do ônibus e não sabe exatamente onde está e para onde ir, tentando pegar a pessoa de qualquer jeito.”

Perguntado sobre o uso de palavras pejorativas, Rose criticou uma possível censura e dizendo que negros podem usar a mesma palavra sem problema. Ele cita a música “Woman Is the Nigger of the World”, de John Lennon, e o significado da sigla do grupo de hip hop N.W.A.: “Niggaz Wit Attitudes” (“Crioulos Com Atitude”).

“Por que as pessoas negras podem chamar umas as outras de ‘nigger’, mas quando um cara branco faz isso, de repente há polêmica? Não gosto de limites de nenhum tipo. Não gosto que me digam o que posso e o que não posso dizer. Usei a palavra porque serve para descrever alguém que é basicamente um incômodo na sua vida, um problema. A palavra ‘nigger’ não significa necessariamente ‘crioulo’.”

Ao longo da entrevista, o vocalista do Guns N’ Roses citou problemas que teve com homossexuais e imigrantes ao longo da vida, o que o levou a ter opiniões extremas. Perguntado a respeito de homofobia, ele se classificou como “pró-hetero” e disse não entender por que alguns homens não se interessam por mulheres – embora admita que goste de ver mulheres se relacionando.

“Não sou contra eles fazerem o que querem fazer, desde que não esteja ofendendo ninguém que não estejam forçando isso para mim. Não preciso deles na minha cara ou, perdoe o trocadilho, na minha bunda com isso.”

Exclusão de relançamento

Independente das opiniões internas, o Guns N’ Roses sabia que “One in a Million” causaria polêmica – e, com isso, publicidade. A própria capa de “GN’R Lies” simula a primeira página de um tabloide e um dos artigos traz o título da música. No conteúdo, a banda já pede desculpas a qualquer um que se ofendesse.

As visões sobre a faixa parecem ter mudado com o passar dos anos. Em 2018, o Guns lançou um box comemorativo do álbum de estreia, “Appetite for Destruction” (1987), que continha músicas de “G N’ R Lies”, mas “One in a Million” acabou removida – por decisão da banda, segundo Slash.

O baixista Duff McKagan falou à Rolling Stone em 2019 sobre o assunto e disse que “ninguém entendeu” o objetivo da canção, por isso, ela foi removida do relançamento.

“Uma coisa sobre Axl é que se você vai tentar competir intelectualmente com ele, você está perdido, porque ele é um cara super inteligente. Ele é um cara super sensitivo, que estuda muito.

Quando fizemos essa música, eu ainda estava bebendo, mas ele estava bem à frente de nós com sua visão de ‘algo precisa ser dito’. Essa foi a forma mais extrema de dizer. Então avançando no tempo para agora. Tantas pessoas interpretaram essa música de forma errada que nós a removemos… ninguém entendeu.”

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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