O incansável Rage, uma das bandas de thrash metal mais produtivas de sua geração, chega com sangue novo em “Resurrection Day”. O álbum, 25º da carreira do grupo, foi disponibilizado nesta sexta-feira (17) pela gravadora SPV/Steamhammer.
Aqui, a banda alemã liderada pelo vocalista e baixista Peter “Peavy” Wagner entregou uma de suas performances mais pesadas até hoje. Parte disso parece ter vindo da recente mudança de formação pela qual o grupo passou: desde 2020, eles se apresentam como quarteto, com a dupla de guitarristas Jean Bormann e Stefan Weber assumindo a vaga deixada por Marcos Rodríguez.
É importante destacar que o Rage nunca ficou em dívida ao entregar ao público melodias bem construídas, bons refrães e uma identidade própria facilmente reconhecível. Contudo, faltava diversidade nos últimos trabalhos – algo corrigido em “Resurrection Day”.
A liderança de Peter “Peavy” Wagner nas composições se mantém, como habitual, acertada. Além dele, o baterista Vassilios “Lucky” Maniatopoulos, na formação desde 2015, segue fazendo um trabalho competente. Não se destaca, nem deixa faltar.
Entretanto, é a dupla de guitarristas que rouba a cena por aqui, por terem causado a maior mudança sonora. Jean Bormann e Stefan Weber fizeram esse disco soar bem melhor que os antecessores diretos. Ainda há algumas arestas a serem aparadas na atuação dos dois, especialmente pela forma como usar o peso – em excesso, pode tornar o som artificial -, mas nada que atrapalhe o resultado final.
Ouça “Resurrection Day” abaixo, via Spotify, ou clique aqui para acessá-lo em outras plataformas. Confira resenha a seguir.
A duplamente pesada ressurreição do Rage
Não dá para dizer que o Rage reinventou a roda em “Resurrection Day”. Esta, aliás, nunca foi a proposta da banda. É inegável, por outro lado, que a variedade sonora é maior neste álbum.
As orquestrações e coros épicos – cortesia do arranjador espanhol Pepe Herrero – marcam presença ao longo do trabalho. Sente-se que esse ingrediente é importante em momentos como “Traveling Through Time”, “The Age of Reason”, “Black Room” e até mesmo na faixa-título, que abre o trabalho após a vinheta introdutória “Memento Vitae (Overture)”.
Ao mesmo tempo, o peso ganhou certo caráter de frescor, de renovação, com as guitarras de dois novos integrantes. Logo em “Virginity”, terceira da tracklist, dá para sentir o impacto da presença da dupla. A canção é rápida e soa letal, apesar do refrão manter a pegada clássica do Rage.
A intensidade do Rage se mantém no álbum mesmo quando o lado thrash dá lugar ao power metal, como em “A New Land”, que dá sequência à audição. E quem gosta da pegada mais melódica, com refrães grudentos, vai se sentir em casa com a envolvente “Arrogance and Ignorance” – que poderia ter saído de um dos álbuns mais recentes do grupo, não fosse o peso reforçado.
“Man In Chains” chega a lembrar algo do Megadeth no início dos anos 2000 pelas guitarras, que a essa altura, já estão entre os pontos altos do disco. Não é a primeira vez que o Rage funciona como um quarteto e, não à toa, a fase anterior com duas guitarras é uma das favoritas dos fãs, que adoram álbuns como “Black in Mind” (1995) , “Lingua Mortis” (1996) e “End of All Days” (também 1996).
Se o peso é o que chama a atenção logo de cara em “Resurrection Day”, ironicamente, seu ponto alto é uma faixa melódica: a já mencionada “Traveling Through Time”, que traz uma dose maior da música erudita que Wagner tanto gosta. Em comunicado, o frontman falou sobre a canção e destacou a inspiração na obra do compositor renascentista Giorgio Mainerio:
“Há uma peça de Mainerio chamada ‘Schiarazula Marazula’, com um tema magnífico que eu toco em casa, as vezes, no violão. Jean e eu a adaptamos para se encaixar no formato do Rage e demos à canção uma perspectiva rítmica diferente, que adicionou intensidade. Nunca fizemos algo como ‘Traveling Through Time’ antes.”
“Black Room” segue com o pé no freio, sendo o mais próximo que o Rage faria de uma balada. O refrão é forte, como de costume, mas é sempre uma experiência interessante notar o contraste que as composições da banda alcançam em momentos como esse, traçando um paralelo com a pancadaria de outras músicas.
Falando em porrada, não dá para definir “Extinction Overkill”, encerramento do álbum, de outra forma. A faixa tem os dois pés no thrash metal, o que indica a tendência geral do trabalho.
No todo, “Resurrection Day” apresenta um Rage renovado, mais pesado, e – por que não? – criativo, que deve agradar à maior parte dos fãs. É um álbum competente, que passeia por várias vertentes com segurança.
Até por não ter a proposta de reinventar a roda, não é possível defini-lo como um disco excepcional. Ainda assim, representa um dos pontos altos da longeva carreira do grupo.
Rage – “Resurrection Day”
- Memento Vitae (Overture)
- Resurrection Day
- Virginity
- A New Land
- Arrogance And Ignorance
- Man In Chains
- The Age Of Reason
- Monetary Gods
- Mind Control
- Traveling Through Time
- Black Room
- Extinction Overkill