Por que o Skid Row decidiu ficar mais pesado no álbum “Slave to the Grind”

Trazendo músicas como "Monkey Business", "In a Darkened Room" e "Wasted Time", disco trouxe roupagem diferente para o som da banda

O Skid Row surgiu como uma das últimas grandes forças do hard rock americano, no final da década de 1980. Curiosamente, a banda parecia estar ciente disso quando gravou seu segundo álbum, o pesado “Slave to the Grind”, em 1991.

O som pomposo e melódico da década passada seria devorado pelo grunge e pelo rock mais pesado e alternativo que começava a florescer nos anos 1990. Se fosse para cair junto, que fosse atirando – ainda que a ideia fosse, evidentemente, sobreviver.

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O disco de estreia do Skid Row, homônimo, fez muito sucesso em 1989 graças às baladas, como a clássica “18 and Life” e a romântica “I Remember You”. Mesmo as músicas mais hard rock traziam muito daquela sonoridade tipicamente oitentista, como “Youth Gone Wild” e “Big Guns”.

A transição para “Slave to the Grind”, lançado em 11 de junho de 1991, poderia até assustar quem esperava algo na mesma linha. Todavia, não dá para negar que foi uma mudança bem-vinda.

Em entrevista ao The Aquarian, em 2015, o baixista Rachel Bolan, um dos principais compositores da banda, explicou que sempre foi mais fácil seguir fórmulas. Só que a banda estava buscando, justamente, se desvencilhar dessas estéticas musicais pré-estabelecidas.

“Acho que muitas pessoas esperavam que nos tornássemos reféns de fórmulas com o modo que abordamos o primeiro disco. Não tínhamos interesse em fazer isso. Tenho tanto orgulho de todos nós por estarmos na mesma sobre isso. Não digo que não teria sido fácil do ponto de vista criativo seguir a linha do primeiro álbum, porque ele tinha algumas belas grandes músicas se pensarmos em rádio, mas estávamos com uma mentalidade diferente.”

Slave to the Grind: simples, direto e sem tortas

Desde o início, ficou resolvido que o peso daria o tom do segundo álbum do Skid Row. O produtor Michael Wagener relembrou também em 2015, em entrevista para o podcast Decibel Geek transcrita pelo Blabbermouth, como a banda trabalhou de forma simples e direta com as músicas.

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O maior exemplo disso é a faixa-título, cujo resultado final do disco é, basicamente, a primeira versão da música.

“Antes de irmos para a Flórida, fomos para um grande estúdio em Jersey e quase totalmente gravamos o álbum todo. Fizemos uma boa demo, por assim dizer. O engraçado é que a música ‘Slave to the Grind’ é daquela sessão. Foi gravada e mixada em uma hora, e é isso que você escuta no disco. Não foi nem remixada. Em uma hora, estava gravada. Tudo ali é ao vivo.”

A banda estava unida em uma mentalidade, junto com o produtor. Por outro lado, parece que a gravadora não tinha sacado exatamente qual era a proposta do Skid Row.

Em entrevista ao ShowbizJunkies, em 2016, o vocalista Sebastian Bach relatou um episódio a respeito da gravação do clipe da faixa-título do álbum. A banda teve que se posicionar a respeito do que pretendiam fazer, já que os executivos não entendiam.

De quebra, ainda rolou uma não-tão-leve alfinetada no Warrant, banda que, àquela altura, representava os elementos do glam metal que estavam se tornando ultrapassados – quem não se lembra do clipe de “Cherry Pie“?

“Quando chegamos, eles tinham essa garota de biquíni que deveria ser sexualmente objetificada no vídeo. Eu disse: ‘ela não vai estar nesse vídeo, a música não é sobre isso, não precisamos de garotas bonitas’. É isso que separava o Skid Row de algumas das outras bandas daquela época. Nossos vídeos não estavam objetificando mulheres com um pedaço de torta no colo.”

De fato: nem essa música, nem as outras faixas do disco traziam essa pegada. “Slave to the Grind”, no todo, explorou influências que se inclinavam bastante para o heavy metal, ainda que preservasse a veia hard rock.

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Boa parte do grupo, aliás, era fã de metal. Sebastian Bach nunca negou sua paixão por bandas como Judas Priest e Rush, compartilhadas pelos colegas. Eles também estavam ligados no que rolava na cena naqueles tempos, com o surgimento do Pantera e outros nomes ainda mais pesados.

O auge do Skid Row

No fim das contas, “Slave to the Grind” acabou sendo um grande acerto na carreira do Skid Row. As vendas foram ótimas e o álbum atingiu o primeiro lugar nas paradas dos Estados Unidos, além da terceira posição nos charts de Austrália e Japão, quinta no Reino Unido e oitava no Canadá e Nova Zelândia.

O segredo para o sucesso foi investir em peso sem abrir mão da identidade criada no álbum de estreia, como bem resumiu Michael Wagener:

“Esse era o plano. Toda banda na época dizia: ‘oh, nosso próximo álbum vai ser bem mais pesado’, mas nós fizemos isso. Seguimos esse caminho. ‘Vamos continuar sendo o Skid Row, mas vamos deixar um pouco mais rude, um pouco mais pesado’. Ainda tínhamos baladas lá. Talvez elas não fossem tão melosas quanto no primeiro disco, mas também não vendeu tanto quanto o primeiro disco, porque as donas de casa que gostavam das baladas, elas compravam os discos. Ainda assim, é um álbum incrível.”

De fato, a banda não deixou totalmente de lado as baladas, embora elas fossem mais sérias. “In a Darkened Room”, “Wasted Time” e “Quicksand Jesus”, com batidas mais lentas, foram lançadas como singles, assim como a faixa-título e “Monkey Business” – fora “Psycho Love”, que ganhou videoclipe.

Se o hard rock já estava condenado em 1991, “Slave to the Grind” foi um de seus últimos grandes suspiros.

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta, edição geral e argumentação-base por Igor Miranda; redação geral e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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