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O poderoso e intenso álbum de estreia do Skid Row, lançado em 1989

A história do Skid Row começou, ainda em 1986, em uma loja de instrumentos de Toms River, Nova Jersey, onde o guitarrista Dave “The Snake” Sabo trabalhava. Ao avistar um cliente em potencial usando uma boina vermelha e uma jaqueta de couro rosa, ele não teve dúvidas: precisava falar com aquele sujeito. O rapaz de visual ousado era baixista e se chamava James Southworth, mas passou a atender como Rachel Bolan.

Os dois ficaram amigos e começaram a tocar juntos. Bolan chamou um segundo guitarrista e antigo colega de banda, Scotti Hill. Sabo, por sua vez, convidou o baterista Rob Affuso, com quem tocava em um cover de Rush. O vocalista Matt Fallon, de passagem breve pelo Anthrax, fechou a formação e, já em 1987, eles começaram a tocar, como Skid Row, no circuito underground de Nova Jersey, nos Estados Unidos.

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Ouça como era o Skid Row com Matt Fallon:

“Snake” Sabo tinha contatos fortes para acelerar o crescimento da banda: era amigo de infância de Jon Bon Jovi e chegou a integrar as primeiras formações do Bon Jovi, sendo substituído por Richie Sambora. Ainda moleques, Dave e Jon prometeram que seriam rockstars – e se um deles conseguisse primeiro, daria um jeito de trazer a fama para o outro.

Jon Bon Jovi foi o primeiro a “chegar lá”: em 1986, ele havia estourado para a fama com o álbum “Slippery When Wet”. “Era óbvio que Jon conseguiria primeiro”, relembrou Sabo, em entrevista à Classic Rock. “Ele disse que quando minha banda estivesse boa, ele nos ajudaria. Ele foi fiel à sua palavra: veio assistir a um show nosso, fez críticas construtivas e compartilhou experiências”, completou.

O Skid Row, então, abriu alguns shows da turnê de “Slippery When Wet” e o empresário Doc McGhee gostou dos caras, mas disse que eles precisavam de outro vocalista. E um jovem oriundo do Canadá, chamado Sebastian Bach, foi indicado para o posto. Bach começou a ficar conhecido entre os figurões do rock após ter cantado covers de Led Zeppelin na festa do fotógrafo Mark Weiss. Na ocasião, ele fez jam com ninguém menos que Zakk Wylde (Ozzy Osbourne), Kevin DuBrow (Quiet Riot) e membros do Twisted Sister.

Confiantes na indicação, os membros do Skid Row juntaram suas últimas economias para pagar uma passagem de Sebastian Bach do Canadá para os Estados Unidos. A primeira frase que Bach disse aos músicos foi: “caras, meu pênis mede 25 centímetros”. Isso reflete o comportamento impulsivo daquele jovem vocalista, então com 20 anos de idade, que garantiu a glória e, de certo modo, a ruína da banda.

– Leia: Snake recusa reunião do Skid Row com Bach: “não quero viajar com gente que não suporto”

Outra “ajuda” prestada por Jon Bon Jovi foi o primeiro contrato do Skid Row: a banda assinou com a editoral musical (que coordena o acervo de um artista) Underground, fundada por Bon Jovi e Sambora. Na época, a indicação de Jon ajudou tanto que o grupo foi disputado por diversas gravadoras, mas assinou com a Atlantic. Com o tempo, porém, o acordo com o vocalista se mostrou problemático, já que a maior parte dos direitos autorais ia para as contas de Jon e Richie. O guitarrista até devolveu sua parte, mas o cantor, não – e isso gerou uma treta entre ele e o explosivo Sebastian Bach.

De contrato assinado, aqueles moleques quase-caipiras viajaram para Lake Geneva, em Wisconsin, para que pudessem gravar, isolados, o seu álbum de estreia. A produção seria do já renomado Michael Wagener. “Foi uma grande experiência para garotos que estavam com seus 20 e poucos anos. E Michael Wagener foi muito importante em nos ajudar a manter o nosso foco. Havia muitas distrações por ali”, relembrou Dave Sabo, em entrevista à Glide Magazine.

O resultado das gravações é o álbum homônimo, lançado em 24 de janeiro de 1989. Fez um tremendo sucesso – e não era de se espantar, já que foi um grandes últimos discos de hard rock a serem lançados durante a pomposa década de 1980. Há, aqui, um vocalista de voz impactante, uma dupla de guitarristas muito entrosada (e que faz chover com o básico), um baixista-letrista no maior estilo Nikki Sixx e um baterista habilidoso, mas que, ao mesmo tempo, toca com “mão forte”.

O grande charme do Skid Row era aliar o hard rock, seu principal fio condutor, com elementos discretos de heavy metal e punk rock. Bolan era grande fã de Ramones e Sex Pistols, enquanto os demais membros eram fãs de Kiss, Van Halen e bandas de heavy metal em geral, como Judas Priest. Embora o grupo tenha se mostrado bem mais “heavy” nos álbuns seguintes, o registro de estreia já apresenta o peso que se espera de cinco caras com essa bagagem.

– Leia: Por que a reunião do Skid Row com Sebastian Bach não deve rolar

A faixa de abertura, “Big Guns”, resume bem o que se encontra no álbum: riffs cortantes, pegada sólida e, como grande chamariz, os vocais agudos e impostados de Sebastian Bach em meio a letras relativamente bem escritas. A rápida “Sweet Little Sister”, com refrão grudento, e a clichê “Can’t Stand The Heartache”, dão sequência à tracklist, enquanto “Piece of Me” traz um pouco da pitada punk de Rachel Bolan – a canção chega a lembrar os momentos mais “selvagens” do Guns N’ Roses, em alta na época.

A semi-balada “18 and Life”, cuja letra chama a atenção por contar uma história, mostra que os caras sabiam compor boas músicas mesmo com acordes simples e sem tentativas de reinventar a roda. A interpretação de Bach é fora de série. A boa “Rattlesnake Shake” e a poderosa “Youth Gone Wild”, quase um hino de uma geração de jovens desajustados, prosseguem a tracklist. A pesada “Here I Am” soa como uma antecipação ao álbum seguinte, “Slave to the Grind”, enquanto “Makin’ a Mess” já não impressiona tanto. A balada “I Remember You”, principal single do disco, volta a cativar – e, novamente, pela performance irretocável de Sebastian Bach. “Midnight/Tornado”, anti-clímax, fecha o disco com gosto de “quero mais”.

Os méritos musicais aliados ao pertencimento à engrenagem da indústria musical fizeram com que a estreia do Skid Row vendesse muito bem. No embalo de “I Remember You” e “18 and Life”, o álbum chegou ao 6° lugar das paradas dos Estados Unidos, além de emplacar boas posições nos charts do Reino Unido (30°), Nova Zelândia (1°), Canadá (12°) e Austrália (11°). A crítica especializada não recebeu o disco tão bem assim. Houve quem apontasse que as músicas seguiam uma fórmula muito pré-determinada, mas enxergasse na banda certo potencial – algo que, de fato, se desdobrou nos trabalhos posteriores.

A turnê de divulgação, com diversos giros como atração de abertura de Bon Jovi e Aerosmith, serviram para potencializar o sucesso conquistado com o disco. A personalidade impulsiva de Sebastian Bach quase foi um entrave, pois ele se meteu em diversas confusões, como sua prisão (liberada mediante fiança de US$ 10 mil) após atirar uma garrafa no rosto de uma fã de 17 anos durante um show (tentando acertar um cara que tentou jogar a mesma garrafa nele) e o uso de uma camiseta com os dizeres “Aids kills fags dead” (algo como “Aids mata bichas”) em outra apresentação.

Como era de se esperar – e foi até antecipado em parágrafos anteriores –, Sebastian Bach causaria mais problemas para os demais integrantes do Skid Row. Sua tumultuada saída da banda, em 1996, ainda divide os fãs, já que o cantor só lançou um álbum verdadeiramente bom em sua carreira solo – “Angel Down” (2007) –, enquanto o grupo, sem Bach, nunca mais foi o mesmo.

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Apesar das confusões, para aquele momento, Sebastian Bach era a peça que faltava para o sucesso de uma banda tão entrosada e firme como o Skid Row. O álbum de estreia, que ainda soa intenso e poderoso 30 anos após seu lançamento, reflete bem esse pensamento.

Sebastian Bach (vocal)
Dave Sabo (guitarra)
Scotti Hill (guitarra)
Rachel Bolan (baixo)
Rob Affuso (bateria)

1. Big Guns
2. Sweet Little Sister
3. Can’t Stand the Heartache
4. Piece of Me
5. 18 and Life
6. Rattlesnake Shake
7. Youth Gone Wild
8. Here I Am
9. Makin’ a Mess
10. I Remember You
11. Midnight / Tornado

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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