O álbum de estreia do Kiss foi lançado em 18 de fevereiro de 1974. Embora apresente alguns dos grandes clássicos da banda, como “Strutter”, “Deuce”, “Black Diamond” e “Cold Gin”, o disco praticamente não fez sucesso na ocasião de seu lançamento.
Erros artísticos e estratégicos marcam a estreia do Kiss. O principal ponto a se contestar é a produção de Richie Wise e Kenny Kerner, que fez o som da banda perder potência. É importante destacar, por outro lado, que o grupo nunca soou tão bem em estúdio – no fim das contas, o trabalho que os expôs ao sucesso foi o ao vivo “Alive!” (1975), que, curiosamente, tem várias músicas desses discos de estúdio malsucedidos. Além disso, a gravadora Casablanca se preocupava mais em promover os mascarados por meio dos shows do que pelos álbuns.
Se faltou o êxito comercial, sobraram fatos inusitados a respeito da concepção do álbum. E, curiosamente, outras figuras além dos quatro músicos – o vocalista e guitarrista Paul Stanley, o baixista e também vocalista Gene Simmons, o guitarrista Ace Frehley e o baterista e cantor Peter Criss – se envolveram diretamente na história inicial do Kiss.
Além de Richie Wise e Kenny Kerner, em menção negativa, algumas das figuras importantes nesse início de trabalho são: Neil Bogart, presidente da então recém-fundada Casablanca e nome anteriormente conhecido por gerenciar artistas pop; Bill Aucoin, empresário reconhecido por enxergar e desdobrar todo o potencial do Kiss; e Sean Delaney, produtor e road manager que, embora não seja citado nesse artigo, contribuiu imensamente para os primórdios da “banda mais quente do mundo”.
15 curiosidade sobre o álbum de estreia do Kiss
1) Gravação rápida
Com um orçamento modesto, o Kiss teve que gravar seu álbum de estreia bem rapidamente no estúdio Bell Sound, em Nova York, Estados Unidos. Gene Simmons aponta que todo o processo foi concluído em três semanas, com duas delas dedicadas à gravação como um todo. Richie Wise, por sua vez, menciona seis dias para registro e sete para mixagem. Além disso, praticamente tudo foi tocado ao vivo: apenas os vocais e solos de guitarra foram sobrepostos.
O fato da banda ter chegado com o material todo composto ajudou bastante. Apenas o cover de “Kissin’ Time’, de Bobby Rydell, teve sua letra reescrita para a ocasião. Ter trabalhado em estúdio com Eddie Kramer, para a gravação de uma demo, em 1973, também colaborou para o processo.
2) A polêmica maquiagem do Kiss
Não é novidade que as maquiagens usadas pelo Kiss gerou muita estranheza – não só ao público, como, também, a eventuais interessados em investir na banda. O caso mais notável envolveu a Warner Music, uma das grandes gravadoras da época e, claro, dos dias de hoje.
Inicialmente, a Casablanca de Neil Bogart seria uma espécie de subsidiária da Warner, em um trabalho conjunto. No entanto, a gravadora major deu para trás após Bogart insistir em apostar no Kiss.
Em um ultimato, Bogart foi comunicado que se o Kiss mantivesse as maquiagens, a Warner não investiria na banda. O dono da modesta gravadora bateu o pé, com apoio de Bill Aucoin, e se negou a interferir na proposta artística dos músicos.
Sendo assim, a Warner acabou por romper com a Casablanca, que se tornou um selo independente. E a identidade do Kiss foi completamente preservada, já que Neil Bogart tinha certeza de que, em algum momento, a banda estouraria.
3) A primeira
“Let Me Know” marcou a história do Kiss como a primeira criação que Paul Stanley tocou para Gene Simmons. Na ocasião, eles foram apresentados um para o outro por Steve Coronel, guitarrista que tocava com Stanley e Simmons em bandas diferentes. Eles viriam a se juntar futuramente no Wicked Lester, que não vingou. Na época, aliás, “Let Me Know” se chamava “Sunday Driver”.
4) Struttrio
“Strutter”, a música que abre o álbum, foi composta quando o Kiss ainda era um trio. Durante algumas semanas – ou meses –, a banda era formada apenas por Paul Stanley, Gene Simmons e Peter Criss. Ace Frehley acabou entrando pouco tempo depois, como vencedor de uma audição realizada com vários guitarristas que apareceram devido a um anúncio feito em um jornal de Nova York.
5) Tempos bicudos para o Kiss
Obviamente, nos primórdios do Kiss, não havia luxo. Dessa forma, todos os integrantes se locomoviam por transporte público. E foi justamente nesse ambiente tão comum a pessoas normais que duas músicas do primeiro álbum nasceram: “Deuce” e “Cold Gin”.
A primeira foi criada por Gene Simmons dentro do ônibus. Já a segunda foi feita por Ace Frehley no metrô. Ambos pensaram na melodia, na letra e nos detalhes enquanto esperavam por seus destinos dentro de Nova York.
6) A favorita de Ace Frehley
“Deuce”, aliás, é citada por Ace Frehley como a sua música favorita do Kiss. Foi essa canção, também, que Frehley tocou no teste feito com dezenas de guitarristas para garantir sua entrada no Kiss.
7) Cover estratégico
“Kissin’ Time”, cover de Bobby Rydell, surgiu como uma ideia de marketing de Neil Bogart. Ele convenceu a rádio WSHE a lançar uma curiosa competição de beijos em 10 cidades dos Estados Unidos. Em cada um dos eventos, o Kiss se apresentaria. A ideia rendeu tanto que foi sugerido que a banda gravasse a versão para o hit, da década de 1950.
Como esperado, o Kiss teve receio de comprar a ideia, mas acabaram topando: gravaram “Kissin’ Time” com letra diferente e versão mais rock and roll e tocaram em todas as competições de beijo. Neil Bogart disse, ainda, que a faixa seria gravada apenas como comercial e não entraria no álbum, mas ele acabou inserindo a faixa dentro do disco sem que os músicos ficassem sabendo.
8) 100 mil anos de amor
Embora seja uma das músicas de tom e performance mais sombrios do Kiss, “100,000 Years” tem uma inspiração curiosamente romântica. A música foi composta fazendo referência a um livro de mesmo nome que apresenta a teoria de que a Terra foi visitada por alienígenas há 100 mil anos.
O conceito da letra é romântico até demais para os primórdios do Kiss. Gene Simmons, que teve a ideia, conta que a compôs sobre o seguinte fio condutor: o que aconteceria se você fosse um astronauta e partisse, por quanto tempo seguiria apaixonado?
9) Insistência de Peter Criss?
“Black Diamond”, que fecha o álbum, tem vocais gravados por Peter Criss, mas é uma composição de Paul Stanley. Criss comenta que o produtor Eddie Kramer, que trabalhou na primeira demo da banda, foi o responsável por pedir que ele cantasse a música. Já Stanley afirma que o baterista insistiu muito para dar voz à canção, por isso, foi passada a ele.
10) “Meet the… Kiss”
A inspiração para a capa do álbum de estreia do Kiss é evidente: a arte que estampa “Meet The Beatles”, segundo disco dos Beatles nos Estados Unidos.
11) Peter, o gatinho
A maquiagem de Peter Criss na capa do álbum está bem diferente da que ele costumava usar. E há uma explicação. A banda contratou um maquiador para trabalhar na sessão de fotos do disco, mas todos os integrantes fizeram suas próprias pinturas, com exceção de Criss. O profissional acabou sendo o autor dos pontinhos nos bigodes de gato, definidos por Criss como “ridículos”.
12) A lenda da capa
Joel Brodsky, que fez fotos para as capas de “Strange Days” (The Doors) e “Astral Weeks” (Van Morrison), foi o responsável pela foto da capa. E ele afirma ter sido alvo de uma calúnia ao longo das décadas.
Em entrevistas e até biografias oficiais, Paul Stanley e Gene Simmons dizem que Joel Brodsky chegou a levar balões para que os músicos posassem como palhaços de circo. Brodsky, porém, nega que a história seja real. “A história de eu querer colocar balões atrás deles, indicando que eram palhaços de circo, não é verdade, é invenção”, diz.
13) Tudo por conta
Neil Bogart tinha tanta confiança de que o Kiss estouraria que investiu muito na banda. Nos primeiros meses de banda, a Casablanca pagava todos os custos de promoção de eventos das casas de shows que marcassem com a banda.
Com isso, o risco para o contratante era mínimo, já que o investimento era baixíssimo (basicamente, apenas o cachê). Nenhuma gravadora fazia isso na época. E isso é ainda mais curioso, pois toda a publicidade era destinada ao show e não aos álbuns.
14) A aposta no Kiss
A já citada confiança de Neil Bogart no Kiss se refletiu nas contas. Logo nos primeiros momentos da banda, Bogart já estava sem dinheiro, pois gastou tudo investimento no grupo, que não deu retorno imediato.
O empresário chegou a pedir US$ 10 mil emprestados de seus colegas da Casablanca, mas o receio fez com que ele se virasse sem pegar dinheiro de seus conhecidos. E o que ele fez? Viajou a Las Vegas só para pegar uma grana que tinha como linha de crédito no cassino Caesars Palace, mas que era destinada apenas para apostas. Fez-se de bobo e voltou para Los Angeles com o dinheiro.
15) Kiss e o fracasso antes do sucesso
O álbum de estreia do Kiss vendeu apenas 75 mil cópias ao longo de seu primeiro ano de lançamento – um número baixíssimo para aquela época. Para se ter ideia, um disco precisava vender 500 mil cópias nos Estados Unidos para conquistar certificação de ouro.
Os dois álbuns seguintes, “Hotter Than Hell” (1974) e “Dressed To Kill” (1975), também repetiram o fracasso, com baixas vendas comparadas ao investimento feito. O êxito só veio no fim de 1975, com “Alive!”, que salvou a vida financeira de todos os envolvidos.
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