...

Por que “Alive!”, do Kiss, foi quase todo regravado em estúdio

Disco introduziu formato de shows em definitivo para a mídia física; por outro, quase nada que se ouve nele foi, de fato, captado no palco

Lançado em 10 de setembro de 1975, ‘Alive!’ é o primeiro álbum ao vivo do Kiss. Por um lado, o disco introduziu o formato de shows em definitivo para a mídia física e gravada. Todavia, por outro, há um truque nesse trabalho: quase nada que se ouve nele foi, de fato, captado em uma performance no palco.

Antes de tudo, é importante destacar o contexto em que ‘Alive!’ foi gravado. Após lançar três álbuns de estúdio que venderam pouco, o Kiss estava perto de falir, assim como sua gravadora, a Casablanca Records, que rompeu a parceria com a Warner e apostou em projetos não tão lucrativos. Faltavam recursos e, naquele ponto, até mesmo ideias para fazer a banda emplacar.

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A ideia de produzir um disco ao vivo soava como música para os ouvidos de todos. Primeiro, porque o Kiss se destacava bastante nos shows – eles já estavam tocando em grandes arenas e fazendo turnês como atração principal. Segundo, porque os custos eram bem menores. Na época, gastava-se US$ 15 mil para produzir um álbum nesse estilo, bem menos do que os orçamentos gigantescos para se trabalhar em estúdio.

Ouça Alive!, do Kiss, na playlist de YouTube a seguir:

Dessa forma, o Kiss foi para a estrada e gravou alguns shows realizados nos Estados Unidos, entre maio e julho de 1975, em meio à turnê de ‘Dressed to Kill’. As apresentações aconteceram em:

  • Cobo Arena, Detroit, no dia 16 de maio;
  • Cleveland Music Hall, Cleveland, no dia 21 de junho;
  • RKO Orpheum Theater, Davenport, no dia 20 de julho de 1975;
  • Wildwoods Convention Center, Wildwood, no dia 20 de julho de 1975.

Faltava orçamento e, sim, experiência

Com um orçamento tão limitado e pouca tecnologia competente para captar sons fora de um estúdio, não é de se estranhar que a sonoridade original de ‘Alive!’ poderia ficar muito estranha sem os retoques em estúdio. Em material gravado, a sonoridade estar perfeita.

Além disso, o Kiss entregava um bom show já naqueles tempos, mas ainda faltava um pouco de experiência. Era normal que os músicos errassem um ou outro acorde, cantassem mais longe do microfone em alguma ocasião, esbarrassem no pedestal e por aí vai.

O produtor Eddie Kramer revelou, ao ‘Metal Express Radio’, que levou as fitas com os quatro shows que compuseram ‘Alive!’ diretamente para o Electric Lady Studios – aquele mesmo, fundado por Jimi Hendrix. Era muito material, já que o produtor gravou até os aplausos da plateia. Mesmo assim, os retoques seriam necessários.

“Tivemos que consertar muita coisa (com os overdubs, que são regravações do material em estúdio). Muitos sons rolavam no palco, com aqueles caras pulando enquanto usavam sapatos com saltos de 15 centímetros, além das bombas e dos fogos de artifício. Por isso, tivemos que consertar, mas, ei, o álbum soa incrível, não é?”, explicou, defendendo-se da alegação de que ‘Alive!’ não é, de fato, ao vivo.

O que é ao vivo em Alive!

O que é realmente ao vivo em ‘Alive!’, no fim das contas? Apenas a bateria de Peter Criss, que não foi alterada em nenhum momento, e algumas passagens do instrumental geral, que foram preservadas.

De resto, tudo foi regravado. Até os já mencionados aplausos foram manipulados, para que pudessem ser encaixados nos momentos em que a banda não tocasse – ou estivesse pedindo por interação da plateia. A proposta era fazer com que o álbum passasse a sensação de um show real, mas a gravação de aplausos em meio a uma apresentação não tinha uma boa sonoridade.

Curiosamente, o próprio Kiss negou por décadas que tenha retocado ‘Alive!’ em estúdio. Em sua autobiografia de 2001, o vocalista e baixista Gene Simmons disse: “Sempre existiram rumores de que o ‘Alive!’ foi refeito em estúdio. Não é verdade. O que queríamos, e conseguimos, é prova da visceralidade e do poder dabanda”.

Dois anos depois, ele foi desmentido por Paul Stanley – que, antes, também dizia que o álbum não havia sido retrabalhado em estúdio. Em 2003, durante entrevista ao quadro ‘Ultimate Albums’, do canal televisivo VH1, o vocalista e guitarrista declarou: “Sentíamos que era necessário capturar a integridade da performance, não necessariamente a tendo nota por nota conforme havia acontecido no palco”.

Não é ao vivo… e daí?

No fim das contas, Eddie Kramer tem razão: o álbum soa incrível, mesmo com os retoques, e realmente passa a sensação de que estamos em um show do Kiss em seu auge. Não à toa, o disco vendeu muito e foi responsável por alçar a banda ao estrelato.

Não só isso. ‘Alive!’ influenciou vários outros artistas a produzirem seus álbuns ao vivo – formato que, anteriormente, só era adotado por músicos já em decadência ou até mesmo como um trabalho final, de despedida. Peter Frampton, Thin Lizzy, Ramones, Led Zeppelin e Cheap Trick lançaram trabalhos gravados em shows e consolidaram, de vez, a sensação de se ter um show “guardado” em um LP, CD ou plataforma digital.

Se, ainda assim, você duvida do que o Kiss era capaz de apresentar em cima do palco, assista ao show a seguir, gravado na turnê do próprio ‘Alive!’, em 1976.

https://www.youtube.com/watch?v=VEGU8Do-nL0

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Igor Miranda
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

2 COMENTÁRIOS

  1. Muitíssimo infeliz esse comentário: “Alive! influenciou vários outros artistas a produzirem seus álbuns ao vivo, formato que, anteriormente, só era adotado por ‘músicos já em decadência’ ou até mesmo como um trabalho final, de despedida”. 100 noção …

    • Oi, Salvatore. Por favor, compartilha com a gente uma boa lista de álbuns ao vivo lançados por artistas emergentes ou no auge da carreira antes da década de 1970. Se não conseguir fazer isso, então, sua observação é que terá sido infeliz.

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Disco introduziu formato de shows em definitivo para a mídia física; por outro, quase nada que se ouve nele foi, de fato, captado no palco

Lançado em 10 de setembro de 1975, ‘Alive!’ é o primeiro álbum ao vivo do Kiss. Por um lado, o disco introduziu o formato de shows em definitivo para a mídia física e gravada. Todavia, por outro, há um truque nesse trabalho: quase nada que se ouve nele foi, de fato, captado em uma performance no palco.

Antes de tudo, é importante destacar o contexto em que ‘Alive!’ foi gravado. Após lançar três álbuns de estúdio que venderam pouco, o Kiss estava perto de falir, assim como sua gravadora, a Casablanca Records, que rompeu a parceria com a Warner e apostou em projetos não tão lucrativos. Faltavam recursos e, naquele ponto, até mesmo ideias para fazer a banda emplacar.

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A ideia de produzir um disco ao vivo soava como música para os ouvidos de todos. Primeiro, porque o Kiss se destacava bastante nos shows – eles já estavam tocando em grandes arenas e fazendo turnês como atração principal. Segundo, porque os custos eram bem menores. Na época, gastava-se US$ 15 mil para produzir um álbum nesse estilo, bem menos do que os orçamentos gigantescos para se trabalhar em estúdio.

Ouça Alive!, do Kiss, na playlist de YouTube a seguir:

Dessa forma, o Kiss foi para a estrada e gravou alguns shows realizados nos Estados Unidos, entre maio e julho de 1975, em meio à turnê de ‘Dressed to Kill’. As apresentações aconteceram em:

  • Cobo Arena, Detroit, no dia 16 de maio;
  • Cleveland Music Hall, Cleveland, no dia 21 de junho;
  • RKO Orpheum Theater, Davenport, no dia 20 de julho de 1975;
  • Wildwoods Convention Center, Wildwood, no dia 20 de julho de 1975.

Faltava orçamento e, sim, experiência

Com um orçamento tão limitado e pouca tecnologia competente para captar sons fora de um estúdio, não é de se estranhar que a sonoridade original de ‘Alive!’ poderia ficar muito estranha sem os retoques em estúdio. Em material gravado, a sonoridade estar perfeita.

Além disso, o Kiss entregava um bom show já naqueles tempos, mas ainda faltava um pouco de experiência. Era normal que os músicos errassem um ou outro acorde, cantassem mais longe do microfone em alguma ocasião, esbarrassem no pedestal e por aí vai.

O produtor Eddie Kramer revelou, ao ‘Metal Express Radio’, que levou as fitas com os quatro shows que compuseram ‘Alive!’ diretamente para o Electric Lady Studios – aquele mesmo, fundado por Jimi Hendrix. Era muito material, já que o produtor gravou até os aplausos da plateia. Mesmo assim, os retoques seriam necessários.

“Tivemos que consertar muita coisa (com os overdubs, que são regravações do material em estúdio). Muitos sons rolavam no palco, com aqueles caras pulando enquanto usavam sapatos com saltos de 15 centímetros, além das bombas e dos fogos de artifício. Por isso, tivemos que consertar, mas, ei, o álbum soa incrível, não é?”, explicou, defendendo-se da alegação de que ‘Alive!’ não é, de fato, ao vivo.

O que é ao vivo em Alive!

O que é realmente ao vivo em ‘Alive!’, no fim das contas? Apenas a bateria de Peter Criss, que não foi alterada em nenhum momento, e algumas passagens do instrumental geral, que foram preservadas.

De resto, tudo foi regravado. Até os já mencionados aplausos foram manipulados, para que pudessem ser encaixados nos momentos em que a banda não tocasse – ou estivesse pedindo por interação da plateia. A proposta era fazer com que o álbum passasse a sensação de um show real, mas a gravação de aplausos em meio a uma apresentação não tinha uma boa sonoridade.

Curiosamente, o próprio Kiss negou por décadas que tenha retocado ‘Alive!’ em estúdio. Em sua autobiografia de 2001, o vocalista e baixista Gene Simmons disse: “Sempre existiram rumores de que o ‘Alive!’ foi refeito em estúdio. Não é verdade. O que queríamos, e conseguimos, é prova da visceralidade e do poder dabanda”.

Dois anos depois, ele foi desmentido por Paul Stanley – que, antes, também dizia que o álbum não havia sido retrabalhado em estúdio. Em 2003, durante entrevista ao quadro ‘Ultimate Albums’, do canal televisivo VH1, o vocalista e guitarrista declarou: “Sentíamos que era necessário capturar a integridade da performance, não necessariamente a tendo nota por nota conforme havia acontecido no palco”.

Não é ao vivo… e daí?

No fim das contas, Eddie Kramer tem razão: o álbum soa incrível, mesmo com os retoques, e realmente passa a sensação de que estamos em um show do Kiss em seu auge. Não à toa, o disco vendeu muito e foi responsável por alçar a banda ao estrelato.

Não só isso. ‘Alive!’ influenciou vários outros artistas a produzirem seus álbuns ao vivo – formato que, anteriormente, só era adotado por músicos já em decadência ou até mesmo como um trabalho final, de despedida. Peter Frampton, Thin Lizzy, Ramones, Led Zeppelin e Cheap Trick lançaram trabalhos gravados em shows e consolidaram, de vez, a sensação de se ter um show “guardado” em um LP, CD ou plataforma digital.

Se, ainda assim, você duvida do que o Kiss era capaz de apresentar em cima do palco, assista ao show a seguir, gravado na turnê do próprio ‘Alive!’, em 1976.

https://www.youtube.com/watch?v=VEGU8Do-nL0

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  1. Muitíssimo infeliz esse comentário: “Alive! influenciou vários outros artistas a produzirem seus álbuns ao vivo, formato que, anteriormente, só era adotado por ‘músicos já em decadência’ ou até mesmo como um trabalho final, de despedida”. 100 noção …

    • Oi, Salvatore. Por favor, compartilha com a gente uma boa lista de álbuns ao vivo lançados por artistas emergentes ou no auge da carreira antes da década de 1970. Se não conseguir fazer isso, então, sua observação é que terá sido infeliz.

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