O boicote que o Iron Maiden sofreu por “The Number of the Beast”

Não há registros de uma banda que tenha sido tão boicotada nos Estados Unidos como o Iron Maiden durante a época de lançamento de seu terceiro álbum, “The Number of the Beast”. Evidentemente, não foi um comportamento da população em geral, mas, sim, de grupos mais conservadores. Ainda assim, tais pessoas conseguiram fazer muito “barulho” na oposição à banda.

É essencial compreender, de início, o contexto em que o Iron Maiden lançou “The Number of the Beast”. Em tempos de fim da Guerra Fria, o planeta adotava um pensamento cada vez mais conservador, em contraponto à mentalidade hippie do fim da década de 1960.

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Na música, o rock começou a tomar, novamente, o espaço que a disco music havia “roubado” a partir da segunda metade da década de 1970. E o metal exerceu influência nisso – não de forma comercial direta, mas em influência e representatividade entre os jovens.

Bandas britânicas de som pesado promoviam a segunda invasão britânica aos Estados Unidos, bebendo das fontes do punk e do heavy rock praticados na década de 1970. Grupos como Judas Priest, Saxon, Motörhead e Def Leppard começavam a se popularizar na América, enquanto os músicos de lá davam a sua resposta com nomes do porte de Van Halen e Mötley Crüe.

Por que o Iron Maiden “causou”

O Iron Maiden despontou como um dos principais nomes desta nova “invasão britânica”, mais comedida e segmentada, chamada de New Wave Of British Heavy Metal (NWOBHM). Os dois primeiros discos da banda tiveram boa repercussão e o grupo já era visto como uma referência, apesar de ainda não ter atingido o máximo de seu potencial em termos comerciais.

Em um contexto conservador vivenciado tanto no Reino Unido quanto nos Estados Unidos, o Iron Maiden resolveu “causar” com seu terceiro disco, “The Number of the Beast” (1982). A capa e a temática das músicas do álbum, especialmente da faixa-título, são, inicialmente, chocantes.

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Quem conhece um pouco da trajetória do Iron Maiden ou desse álbum, sabe que a banda não promoveu nenhuma adoração a Satã naquele momento. A música que dá nome ao disco foi inspirada no filme “A Profecia II” e na obra “Tam o’Shanter”. Aliás, quase todo o trabalho apresenta referências a outros materiais artísticos, como livros ou longas-metragens, ou à história de antigas civilizações.

Musicalmente, “The Number of the Beast” foi aclamado desde o seu lançamento. O estreante vocalista Bruce Dickinson era o que faltava para que o Iron Maiden despontasse de vez em proporções mundiais. Com aquela formação, o grupo evoluiu e passou a unir peso, visceralidade e melodia. Era como se Sex Pistols, Deep Purple e Thin Lizzy se cruzassem e gerassem um produto único.

Ira dos conservadores

O problema é que a impressão inicial deixada por “The Number of the Beast” é de que o Iron Maiden era formado por músicos satanistas, que transmitiam a mensagem de Lúcifer em suas músicas ou qualquer coisa do tipo. E isso gerou a revolta de segmentos mais conservadores da sociedade – em especial, de grupos religiosos nos Estados Unidos.

Eram justamente os Estados Unidos que estavam na mira de Steve Harris e seus asseclas. O Iron Maiden já era conhecido na Europa, mas precisava se estabelecer no principal mercado consumidor fonográfico do mundo – tanto que a banda havia agendado mais de 100 datas na terra do Tio Sam para a sua então turnê “Beast on the Road Tour”, a maior parte como atração de abertura para Judas Priest, Scorpions e Rainbow.

A perseguição conservadora ao Iron Maiden fez com que ativistas religiosos queimassem e quebrassem discos da banda em público, protestassem na entrada de casas de shows onde o grupo iria se apresentar e, por vezes, até carregassem uma cruz de 7,5 metros enquanto pediam boicote aos britânicos. Além disso, houve uma mobilização para que fossem colocados selos nas capas dos álbuns, alertando sobre o “conteúdo subversivo” – uma espécie de pré-PRMC.

Não se sabe, até o momento, se tudo isso era esperado por Steve Harris e seus companheiros ou se toda a reação foi uma surpresa para os envolvidos. Fato é que a polêmica fez com que a popularidade do Iron Maiden engrenasse de forma curiosa, pois, aparentemente, muitos adolescentes estavam em busca da mensagem inicialmente controversa que o grupo apresentava.

No fim das contas, a “propaganda negativa” foi revertida com um bom trabalho, que conquistou fãs pelos Estados Unidos. Ninguém faz uma centena de datas em turnê por um país e termina desconhecido.

“The Number of the Beast” acabou por conquistar uma satisfatória 33ª posição nas paradas da Billboard, nos Estados Unidos, além de obter o topo dos charts do Reino Unido e colocações de respeito nos rankings de Canadá (11°), Áustria (3°), Suécia (7°) e Alemanha (11°), entre outros. Hoje, o disco acumula mais de 14 milhões de cópias vendidas e é citado como um dos trabalhos mais importantes da história do heavy metal. Nenhum boicote é capaz de impedir algo assim.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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