Avenged Sevenfold permite-se ‘renascer novamente’ em “The Stage”

Resenha: Avenged Sevenfold – “The Stage” [2016]

Para uma banda relativamente inventiva como o Avenged Sevenfold, o que seria “experimental” em sua trajetória?

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“Hail To The King”, lançado em 2013, pode ser considerado um disco experimental para os padrões da banda. Nele, o grupo praticou heavy metal tradicional, sem tirar e, especialmente, nem pôr. Um bom trabalho, que agradou ao meu gosto particular, mas, sim, de pouca ousadia.

“The Stage” vai contra esta orientação artística. O sétimo álbum de estúdio do Avenged Sevenfold retoma a identidade criativa do grupo com um ingrediente adicional: experiência. A banda soa madura. Talvez este disco não se sobreponha aos clássicos lançados na década passada, porém, em termos estritamente musicais, é o melhor registro do A7X. De longe.

Os motivos para chegar a esta conclusão são distintos – e todos passam pela vivência dos envolvidos, mas têm origens diferentes. Em “The Stage”, o Avenged Sevenfold deixou de tentar soar virtuoso, como o fez em discos como “City Of Evil”, e ganhou robustez em sua sonoridade, algo já não tão encontrado em registros como o álbum autointitulado, de 2007.

Não há mais tantos refrãos batidos, nem as guitarras gêmeas que, na pegada de Synyster Gates e Zacky Vengeance, não me agradavam. Ainda há de se considerar que, em termos de criação, a banda ainda não supriu a ausência do baterista The Rev, falecido em 2009, que. também era um dos principais compositores. No entanto, em “The Stage”, enxerga-se caminhos para superar este problema.

A opção pelo baterista Brooks Wackerman também foi sensata. O músico tem um background artístico curioso: já gravou com Avril Lavigne, Suicidal Tendencies, Infectious Grooves, Glenn Tipton, Tom DeLonge e Korn, além de ter integrado o Bad Religion por quase 15 anos.

Experiente, Brooks Wackerman conseguiu aliar seu estilo próprio à pegada de The Rev. Como resultado, a banda soa mais à vontade do que em seus dois álbuns anteriores, quando gravaram com Mike Portnoy (“Nightmare”) e Arin Ilejay (“Hail To The King”). Por mais que não tenha a mesma colaboração autoral que Rev, Wackerman se saiu bem por aqui.

Na abertura, a faixa título mostra o Avenged Sevenfold na pegada ousada que o consagrou na década passada. Mais progressiva, a faixa de mais de oito minutos conta com mudanças rítmicas, momentos virtuose, sequências de bateria com pedal duplo… basicamente, os elementos que colocaram o A7X no topo 10 anos atrás.

Na sequência, a incrível e pouco convencional “Paradigm” destaca Brooks Wackerman, que chega a lembrar The Rev ao optar por caminhos tão pouco usuais na bateria. As variações rítmicas são o destaque. “Sunny Disposition” é recheada de momentos distintos, com direito a instrumentos de sopro após o primeiro refrão. Outra faixa de andamento ousado.

Faixa mais curta do disco, “God Damn” chega a soar extrema pelos riffs e pela seção rítmica – com exceção do refrão, tipicamente melódico. Até o tímido baixo de Johnny Christ aparece. “Creating God”, mais reta, destaca a guitarra do sempre afiado Synyster Gates. Boa música, mas fica um pouco atrás das anteriores.

Primeira balada do álbum, “Angels” é comedida em suas harmonias. Não soa tão melódica ou emotiva como outras lançadas pela banda no passado. Os solos são ótimos. “Simulation”, que começa lenta, me provocou o seguinte questionamento: “por que outra música lenta na sequência?”. A resposta vem a partir dos 48seg, quando o instrumental entra em peso. Afunda-se o pé no acelerador. Volta-se ao “lento” e retoma-se a velocidade. Há um clima de guerra ao meio da música. Muito bom.

A gradual “Higher” demora para engrenar e não convence tanto quando se consolida. Filler razoável. A seguir, “Roman Sky” se mostra uma legítima balada do Avenged Sevenfold, pelo bom trabalho com os arranjos. Instrumentos clássicos de corda dividem a atenção com voz e guitarra clean. Nada de distorção, baixo e bateria na maior parte desta boa canção. “Fermi Paradox” alterna entre o thrash e o melódico com maestria sem grandes surpresas. É o momento mais “heavy tradicional” do álbum.

O disco chega ao fim com a longa “Exist”, que não precisava durar quase 16 minutos. Demora para começar, tem um trecho instrumental (que dura cerca de 2min) e depois paira um quase-silêncio. O vocal entra mesmo só após o 7° minuto. Boa parte da faixa conta com guitarra limpa, sem distorção, mas não chega a ser uma balada. A parte final, com mais velocidade e um teclado/órgão na linha de frente, chama atenção, mas também enjoa – são quase cinco minutos com o mesmo arranjo e uma voz de narração ao fundo.

“The Stage” é um ótimo recomeço para o Avenged Sevenfold. Digo “recomeço” porque o grupo ainda parece não ter sanado, por completo, a ausência de The Rev. Ele era importante para o grupo. Apesar disso, o álbum agora lançado mostra que há, sim, vida após o falecido baterista. Dá para voltar ao ritmo e ao padrão de qualidade da década passada.

O repertório de “The Stage” pode não ser de todo genial. No entanto, a evolução dos integrantes do Avenged Sevenfold em seus postos é notável. E, especialmente na primeira metade do disco, o grupo oferece um material muito, muito bom.

Nota 8,5

Ouça “The Stage na íntegra”:

M. Shadows (vocal)
Zacky Vengeance (guitarra)
Synyster Gates (guitarra)
Johnny Christ (baixo)
Brooks Wackerman (bateria)

1. The Stage
2. Paradigm
3. Sunny Disposition
4. God Damn
5. Creating God
6. Angels
7. Simulation
8. Higher
9. Roman Sky
10. Fermi Paradox
11. Exist

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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