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O convite feito por Marvin Gaye que quase atrapalhou a criação do heavy metal

Se Jack Bruce tivesse aceitado oferta, não teria criado o Cream com Eric Clapton e Ginger Baker — e não haveria som pesado como conhecemos

É difícil estabelecer uma ligação entre Marvin Gaye, o “príncipe da soul music”, e o heavy metal, mas ela existe. Mais do que isso: o autor de “What’s Going On” poderia ter sido o responsável por atrapalhar a gênese do heavy metal como o conhecemos se um certo baixista tivesse aceitado o convite para sua banda, ainda na década de 1960.

Para entender melhor, precisamos lembrar que a banda creditada como pioneira do heavy metal no formato que se tornou popular foi o Black Sabbath. E os quatro garotos de Birmingham, Inglaterra, tinham como sua maior influência um dos primeiros supergrupos da história: o Cream, formado por Eric Clapton (guitarra e voz), Ginger Baker (bateria) e Jack Bruce (baixo e voz).

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Baker e Bruce já haviam trabalhado juntos em outra banda, The Graham Bond Organisation, enquanto Clapton ainda estava com John Mayall & The Bluesbreakers. Desde essa época, entre 1963 e 1965, a relação ente o baixista e o baterista já era ruim, o que levou Jack a deixar o grupo em agosto de 1965.

Foi nesse momento que um desolado Bruce encontrou Marvin Gaye e o convite foi feito. Em entrevista de 1993 a Larry Katz (via Far Out Magazine), o baixista descreveu a situação e se mostrou muito grato ao cantor, por tê-lo encorajado em um momento difícil:

“Trabalhei com Marvin Gaye em Londres e isso foi muito encorajador. Ele me convidou para entrar para sua banda, o que infelizmente eu não pude fazer, porque estava prestes a me casar, não seria possível. Mas ele certamente foi muito encorajador e disse que a direção que eu estava tomando era ótima. Isso foi muito importante para mim. De vez em quando, eu acho que músicos que estão tentando fazer coisas novas, você encontra alguém. Você pode estar muito desencorajado por pessoas dizendo que o que você está tentando fazer é errado. Mas se tiver sorte, você encontra alguém que te encoraja o suficiente para seguir em frente.”

Jack Bruce em 1969 (Foto: divulgação)

Ao recusar o convite de Gaye, Bruce teve uma breve passagem pelo Bluesbreakers, onde conheceu Clapton. No ano seguinte os dois, junto com Baker, formariam o Cream — o que não tivesse acontecido se Jack estivesse na banda de Marvin.

Assim, é possível dizer, no mínimo, que não haveria Cream. E não havendo Cream, não haveria Black Sabbath – nem heavy metal como o conhecemos.

Cream e Black Sabbath

O casamento de Jack Bruce possibilitou a criação do heavy metal, ainda que de forma indireta. Os próprios integrantes do Black Sabbath deixaram claro seu amor pelo Cream em várias ocasiões.

Citando o colega de instrumento, o baixista Geezer Butler declarou para a revista Bass Player:

“Eu não sabia realmente nada sobre baixo até que fui ver o Cream. A forma de Jack Bruce tocar foi uma completa surpresa. Eu sabia da forma de tocar de Eric Clapton na guitarra porque eu o acompanhava desde que ele estava no John Mayall & The Bluesbreakers. Eu era guitarrista na época, então eu nunca tinha pensado no baixo – e Jack me pegou completamente. Eu nunca tinha visto ninguém usar o baixo como um tipo de instrumento semissolo, enquanto ao mesmo tempo era perfeitamente ligado à bateria e à guitarra. O jeito que ele dobrava as notas e descia pelo braço era incrível também. Na época, ele estava tocando um Fender VI, que eu nunca tinha visto antes – e eles eram terríveis! Eu não conseguia tocar nem uma nota neles, imagina do jeito que ele tocava.”

Quando Ginger Baker morreu, em 2019, Bill Ward escreveu um texto emocionado nas redes sociais. O baterista do Sabbath fez uma verdadeira declaração de amor ao integrante do Cream (via Blabbermouth):

“Esse homem que eu nunca encontrei, esse viajante, quebrador de regras, este homem, que mostrou a tantos que a mudança é possível, viverá para sempre, suas marcas de pontuação finais me deixam ouvindo os tambores da África, e eu sou levado a um lugar para sentar, descansar e olhar para as nuvens escuras e inchadas, agora abrindo suavemente, permitindo que os raios do Sol atinjam a terra. Algo grande aconteceu. Algo lindo se passou. Obrigado, Ginger. Descanse em paz. Respeitosamente, Bill Ward.”

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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