Andreas Kisser reconhece que a década de 1980 foi fundamental para o rock nacional. Porém, o guitarrista do Sepultura não esconde um descontentamento relacionado a um elemento específico do gênero durante o período.
Ao participar do podcast Papo com Clê, o músico destacou a importância do surgimento de bandas como Os Paralamas do Sucesso, Blitz e Titãs no cenário da época. Ainda assim, a falta de solos de guitarra nos trabalhos dos grupos era um ponto de incômodo para o artista.
Conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br, ele disse:
“A década de 80 realmente foi uma explosão para o rock nacional: Paralamas, Blitz, Titãs. O que me incomodava muito era essa coisa do som, de não ter solo de guitarra no rock nacional, com raras exceções, como Ultraje a Rigor ou Frejat, que sempre teve essa pegada do rock, de botar um solo, de defender isso […].”
Na verdade, o pior era outra questão: o pedal de chorus. Responsável por duplicar o som original e provocar uma sensação de eco, o recurso apareceu de maneira ostensiva no rock nacional — a ponto de Kisser passar a odiar o efeito.
“E a p#rra do pedal de chorus [risos], eu detestava aquilo, porque todo mundo usava o mesmo pedal para fazer aquele som, ficou uma padronização. Talvez porque alguns produtores tomaram conta [do mercado] e havia poucas gravadoras.”
Segundo o guitarrista, dentre os músicos que “lutaram” contra essa padronização e defenderam a qualidade de som, estava Lobão. O próprio abordou o assunto em conversa de 2018 com o jornalista Igor Miranda para o Whiplash.
Na ocasião, o artista afirmou que um dos méritos de seu álbum “Antologia Politicamente Incorreta dos Anos 80 Pelo Rock” (2018), com regravações dos clássicos do rock nacional, foi trazer uma timbragem mais natural aos instrumentos. Ele disse (via Rolling Stone Brasil):
“A gente queria timbrar mais rock mesmo, sabe? Pelo que eu conheço das pessoas da época, reclamavam muito quando você ia gravar e o cara no meio da noite botava uma guitarra com chorus, sabe? Tirava o peso das músicas. Tentei privilegiar uma linguagem de rock contemporâneo e seco. […] Optamos por instrumentos tradicionais e, mesmo mexendo, tentamos manter o máximo possível da estrutura das músicas.”
Andreas Kisser e o pedal de chorus
Essa não foi a primeira vez que Andreas Kisser criticou o pedal de chorus. Conversando com Rafael Bittencourt, guitarrista do Angra, em seu podcast Amplifica, o guitarrista do Sepultura mencionou até mesmo um exemplo envolvendo outro colega que precisou se “adequar” ao efeito (via Tenho Mais Discos Que Amigos):
“Tanto que eu detestava o pedal ‘chorus’. Porque todo mundo usava aquela p#rra! […] O Tony Bellotto [dos Titãs] me falou uma vez que teve que ir pro estúdio regravar as guitarras pra poder tocar na rádio. É brutal isso.”
Já para o canal Sistema Solari em 2022, ainda acrescentou, conforme transcrição da Guitarload:
“Chegou uma época que detestava o pedal chorus. Todo mundo usava aquilo! Parece que todos descobriram o pedal juntos. A música brasileira não tinha solo. Era só base, verso, refrão e pronto. O Barão Vermelho com o Frejat colocava um pouco mais de rock, por causa da influência do Rolling Stones. No Titãs, tinha pouca coisa de solo de guitarra. Mesma coisa no Paralamas.”
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