Por que Steve Perry saiu do Journey para nunca mais voltar

Cantor não se exime de admitir sua própria culpa; relatos também apontam que ele prometeu jamais retornar se a banda continuasse com substituto

O vocalista Steve Perry saiu do Journey em 1998, exatamente duas décadas após ter se juntado à banda. O rompimento definitivo se deu após uma tentativa de reunião que acabou indo por água abaixo.

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A história indica que a parceria foi encerrada devido a uma lesão sofrida por ele durante as gravações do álbum Trial By Fire (1996). Todavia, não foi apenas isso.

Conheça a história.

Journey em conflito já nos anos 1980

As coisas já não funcionavam bem no Journey desde a década de 1980, mais especificamente a partir da turnê que promoveu o disco “Raised on Radio” (1986). Inclusive, naquela época, apenas Perry, o guitarrista Neal Schon e o tecladista Jonathan Cain seguiram como parte da banda. O baixista Ross Valory e o baterista Steve Smith estavam fora, sendo substituídos respectivamente por Randy Jackson e Mike Baird.

Com o desgaste na relação entre os integrantes principais, Steve pediu para sair da banda já naquele período. Ele dizia que não dava para ficar maior, portanto, seguir as atividades naquele momento faria o grupo se transformar em uma caricatura de si.

Para evitar perdê-lo, Neal e Jonathan concordaram junto do colega que entrariam em um hiato. Durou bastante tempo.

Entre 1987 e 1995, o Journey ficou oficialmente inativo, assim como a carreira de Perry. Mesmo tendo conquistado êxito anos antes com seu primeiro álbum solo, Street Talk (1984), o artista entrou em reclusão e sumiu dos holofotes em vez de envolver-se com outros projetos.

A abordagem dos demais integrantes foi diferente. Schon e Cain trabalharam com diferentes bandas e músicos, incluindo o Bad English e o Hardline, formados nessa época.

Curiosamente, eles se reuniram de forma breve em 1991 para uma única apresentação, que acabou por se tornar a última de Steve Perry com o grupo. Durando menos de dez minutos, o show ocorreu em um evento promovido em memória de um empresário do showbusiness, Bill Graham, no dia 3 de novembro do ano citado. Apenas Perry, Schon e Cain subiram ao palco para tocar “Faithfully”, “Lonely Road Without You” e “Lights”.

Década de 1990: fim da hibernação e conflitos

Em 1995, após um sinal verde de Steve Perry, o Journey se reuniu para trabalhar em um novo álbum, que se tornou “Trial By Fire”. Marcou, inclusive, a volta da formação considerada clássica, com Ross Valory e Steve Smith ao lado de Perry, Neal Schon e Jonathan Cain.

Contudo, o sonho virou um pesadelo. “Trial By Fire” teve seu lançamento atrasado, chegando a público apenas em 22 de outubro de 1996, e diversos problemas internos foram causados por um acidente sofrido por Steve enquanto praticava montanhismo.

Para voltar aos palcos, o vocalista precisaria fazer uma cirurgia de substituição de quadril. Porém, ele se recusou a passar pelo procedimento, motivado por outros problemas de saúde que descobriu no meio do processo.

Dessa forma, o tempo foi passando para o Journey, que precisava fazer uma turnê para divulgar o álbum que acabara de lançar. Os colegas aguardaram por 17 meses, a pedido do cantor. No entanto, quando perceberam que a situação não se resolveria, decidiram seguir sem Perry.

Para sua vaga, foi contratado um vocalista com um timbre bem parecido com o dele: Steve Augeri, conhecido pelos trabalhos prévios com Tall Stories e Tyketto. Dessa forma, o grupo pôde continuar a trabalhar, ainda que a contragosto de Steve.

Por que Steve Perry saiu do Journey

Ao sair do Journey, Steve Perry se tornou uma pessoa bastante reclusa — a ponto de retomar sua carreira musical, a passos lentos, somente em 2018. Portanto, são raras as suas explicações a respeito do rompimento.

Em entrevista de 2020 à AXS TV, transcrita pelo Rock and Roll Garage, o artista quebrou o protocolo e explicou os fatores. Ele, inclusive, admite que também teve culpa.

“Foi uma combinação. A paixão pela música tinha me abandonado, não conseguia encontrar a paixão honesta por cantar. Por conta disso estava a entrar em alguns ‘comportamentos festivos’ para suportar as minhas frustrações. Minha voz também estava sofrendo. Tudo começou a causar dor em mim e isso não ajudou a restaurar minha paixão pela música. Ficou muito clara a sensação de que eu precisava parar. Não sabia para onde estava indo, o que faria ou para onde iria. Tudo que sabia era que não poderia continuar o que estava fazendo. Não me levaria a lugar nenhum. Certamente as drogas e a bebida faziam parte disso, é claro.”

A seguir, Perry refletiu sobre como alcançou o objetivo que tinha mas, ao mesmo tempo, aquilo tirou o que o fazia feliz.

“O sucesso é curioso. Você tem a chance de finalmente viver aquele sonho que desejava quando tinha 8, 9, 12 anos. Não estou reclamando, só estou dizendo de coração. Quando você finalmente consegue isso e está adorando, em algum momento fica um pouco brilhante demais e tudo começa a desaparecer continuamente. Você segue viajando e girando a mesma roda sem parar. Isso obscurece a oportunidade de outras melhorias, ouso dizer, para substituir parte da falta de brilho que já teve. Quando me dei conta fui embora.”

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Assim, Steve se tornou uma pessoa reclusa, morando novamente perto de onde nasceu: Visalia, perto de sua cidade natal Hanford, na Califórnia, Estados Unidos. Adquiriu uma motocicleta e decidiu que seria sua nova paixão. O efeito imediato foi positivo.

“Redescobri partes da minha vida que havia esquecido completamente. Estava me reconectando com a minha infância e realmente aprendendo a assimilar a perda da minha mãe, que havia acontecido alguns anos antes. Saí para visitar outros parentes com bastante regularidade. Apenas para tentar entender minha vida onde ela estava naquele momento. Quando você volta à atmosfera terrestre pessoal depois de um passeio como esse, precisa fazer alguma coisa. Você tem que se ancorar de alguma forma. Então eu fiz muito disso.”

“Nunca mais”: O outro lado

Em sua biografia “Don’t Stop Believin’: The Man, the Band and the Song That Inspired Generations”, Jonathan Cain deixou claro o rancor que Steve Perry sentiu pelo Journey ter seguido sem ele. O vocalista prometeu nunca mais voltar à banda caso fosse substituído naquela turnê de 1998.

Após ter implorado para que a banda não excursionasse com outro vocalista sob o nome do Journey, Steve Perry disse, segundo Jonathan Cain:

“Façam o que quiserem, mas não chamem de Journey. Chame a banda de qualquer outra coisa. Não façam rachaduras na pedra. Acho que não posso voltar se vocês a quebrarem.”

Como os colegas não seguiram o pedido, uma volta nunca foi possível, já que o cantor manteve sua palavra.

O contrato depois que Steve Perry saiu do Journey

Curiosamente, o contrato feito depois que Steve Perry saiu do Journey permanece até hoje – e mostra que o grupo pagou um preço alto por abrir mão de seu vocalista mais popular.

O Journey é administrado por uma empresa chamada Nightmare Productions, cujos contratos vieram à tona em 2020, devido a um novo rompimento com Ross Valory e Steve Smith. Os documentos mostram as últimas alterações feitas em relação a Steve Perry, em 1997, ano em que ele deixou oficialmente o grupo para nunca mais voltar.

Embora não seja um dos fundadores, o vocalista abriu mão de seus direitos sobre o grupo, que agora pertencem apenas a Neal Schon e Jonathan Cain. No entanto, ele ainda recebe pelos lucros referentes aos álbuns lançados sem ele nos vocais. E não é pouca coisa: ele ainda fica com 50% da parte de Schon ou Cain, o que tiver faturado mais.

Em relação aos álbuns, Perry tem direito a 50% do lucro dos dois primeiros sem ele (que acabaram sendo Arrival, de 2000, e Generations, de 2005, ambos com Steve Augeri). O vocalista ainda ganha 25% do terceiro disco (que foi Revelation, já com o atual titular Arnel Pineda, lançado em 2008) e 12,5% a partir do quarto (até o momento, há Eclipse, de 2011, e Freedom, de 2022).

Chama a atenção ainda uma “cláusula da vergonha”, onde o primeiro álbum sem o cantor clássico deveria trazer um adesivo especificando que havia um novo vocalista. Se o trabalho não vendesse um milhão de cópias, o adesivo sairia também no segundo disco – o que acabou acontecendo.

Enfim, Steve Perry de volta (à carreira solo)

Steve Perry voltou a lançar um álbum solo só em 2018, quando saiu o emblemático Traces. Ele não se apresenta ao vivo desde 1995 – e não pretende mais subir em palco algum.

Embora admita sentir falta de cantar ao vivo, o cantor explicou em entrevista para a Rolling Stone que shows são para pessoas mais jovens.

“As pessoas não percebem. É como esporte. Estou assistindo a jogos de beisebol recentemente e há lesões. As costas e os pescoços das pessoas começam a ir para o saco. Shows são algo para jovens, mas sinto falta.”

Nem mesmo quando o Journey foi introduzido ao Rock and Roll Hall of Fame, em 2017, o famoso vocalista empunhou o microfone – embora tenha comparecido ao evento e confraternizado com os ex-colegas. E tudo deve continuar dessa forma.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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