É difícil imaginar o System of a Down sem Serj Tankian, mas quase rolou. O vocalista revelou que sua desilusão com a indústria musical em geral o levou a sugerir aos seus companheiros de banda lhe substituírem.
Em um trecho de sua nova autobiografia, “Down with the System” (via Rolling Stone), Tankian revelou que nunca teve o mesmo gosto dos colegas por turnês e pelo ciclo de álbuns da indústria. Isso ao seu ver lhe transformou num fardo para o resto do grupo.
Ele escreveu sobre uma reunião, ao final de 2017, durante a qual abordou o assunto:
“‘Então, quem vai me dar uma festa de despedida?’, eu perguntei à banda. ‘Um de vocês quer ser o mestre de cerimônias?’. Eu ri um pouco, mas estava sério. ‘Olha, gente, eu estive bem claro de não ter mais interesse por causa tanto das minhas costas quanto o fato de não fazer mais parte da minha visão das coisas.’
‘O negócio, contudo’, eu continuei, ‘é que não quero segurar vocês. Esse é o sonho de vocês. Aquilo que vocês trabalharam a vida inteira. Vocês merecem isso.’ Eu olhei para Daron (Malakian, guitarrista), Shavo (Odadjian, baixista) e John (Dolmayan, baterista), sabendo que o que eu diria a seguir bateria forte. ‘Acho que vocês precisam encontrar um novo vocalista’.”
Tankian havia pensado tanto no assunto a ponto de ter um substituto em mente — e ainda ofereceu ao resto da banda treiná-lo, garantindo assim uma transição amigável. A resposta dos outros integrantes do System of a Down foi convencer seu cantor a permanecer no grupo.
Conseguiram. Embora esteja em ritmo mais reduzido de atividades, o SOAD continua a fazer shows esporádicos, além de ter lançado duas músicas em 2020.
Outro cantor chegou a ser testado
Apesar da resistência em seguir com outro vocalista, os instrumentistas do System of a Down chegaram a fazer um teste, antes, sem que Serj Tankian soubesse. O cantor relatou:
“Eu meio que pensei que eles tinham esquecido a ideia de contratar um novo vocalista, mas mais ou menos um ano depois, John, Shavo e eu estávamos em um evento de arrecadação de fundos em Glendale, e um cantor que eu conhecia se levantou e cantou essa linda música. Canção armênia. Shavo estava sentado ao meu lado na mesa. Ele se inclinou e me deu um tapinha no ombro. ‘A propósito’, Shavo acenou em direção ao cantor, ‘tentamos esse cara como cantor. O único problema era que ele não conseguia gritar e rosnar’.
Fiquei surpreso. Não por estarem fazendo testes para substitutos, mas por manterem isso em segredo. ‘Por que vocês nunca me contaram?’, sussurrei. Shavo encolheu os ombros. ‘Eu não sei’. Virei-me para Shavo, agora olhando diretamente para ele. ‘Escute, ele é um bom cantor’, eu disse. ‘Posso levá-lo para o estacionamento agora mesmo e ensiná-lo essas técnicas. Você realmente deveria considerá-lo’. Nos anos mais recentes, apresentei-lhes outro amigo como um substituto potencial que eles deveriam considerar seriamente. Mas acho que nunca o fizeram.”
Serj Tankian e o fim das turnês
Em entrevista ao canal do YouTube Live Signing, conforme transcrição do Blabbermouth, Serj Tankian foi perguntado sobre a possibilidade de a banda retomar atividades de forma mais prolongada. Na resposta, optou pela honestidade, sem alimentar esperanças.
“Adoro me apresentar, mas quanto a turnês longas… Acho que quando você faz uma turnê longa, não é apenas fisicamente exaustivo, mas é artisticamente redundante depois de um tempo, repetindo a mesma coisa. Prefiro eventos especiais, ocasiões especiais. Não podemos fazê-los em todos os lugares. Também tive alguns problemas nas costas, passei por cirurgias e tratamentos que estavam me impedindo de performar. Estou muito melhor agora, me exercito, então muita coisa já foi resolvida. Quanto a fazer uma turnê, estou aberto a analisar, mas não muito entusiasmado. Prefiro me concentrar em algumas datas específicas.”
A fala compactua com outra proferida à edição de novembro do ano passado da revista Revolver. À época, Serj falou:
“Minhas costas estão muito melhores, o que é legal. Tenho outras coisas com as quais estou lidando agora, que podem ou não ser afetadas por viagens ou turnês. Mas não foi uma decisão relacionada apenas à saúde, no que diz respeito a reduzir as turnês. Foi uma opção de estilo de vida, baseado na família e na visão pessoal das coisas. Estou em turnê há cerca de 20 anos, intermitentemente, é claro. Não todos os anos. É divertido, é lucrativo, deixa muita gente feliz em termos de estar lá e compartilhar a música, ver a reação e as pessoas realmente gostando, você recebe esse feedback. Mas depois de anos fazendo isso e das viagens envolvidas, é uma daquelas coisas que não é mais a principal prioridade na minha lista na vida.”
A seguir, o frontman foi convidado a refletir sobre o quanto estar na estrada o tira do contato com o mundo privado, especialmente seu filho.
“Você poderia levar a família junto se estivesse fazendo um pequeno passeio, eu acho. E isso é algo que fizemos quando nosso filho era muito pequeno. Mas é apenas uma questão de priorizar a vida e o que você realmente quer fazer. Algumas pessoas gostam de fazer turnê até que estejam prontas para sair deste avião, mas não é assim que me vejo. Para mim, fazer coisas diferentes de forma comedida me permite ser mais criativo do que pegar algo repetitivo e fazê-lo por um longo período. E isso inclui tudo o que faço.”
System of a Down atualmente
“Mezmerize” e “Hypnotize”, dois álbuns de estúdio mais recentes do System of a Down, saíram em 2005. Após a turnê de divulgação, o grupo entrou em um hiato rompido seis anos depois. Desde então, o quarteto vem realizando apenas excursões esporádicas.
Em novembro de 2020 a banda lançou as músicas “Protect the Land” e “Genocidal Humanoidz”. As faixas foram motivadas pelo conflito entre Artsakh e Azerbaijão, com todos os rendimentos sendo revertidos aos esforços humanitários na Armênia, terra natal dos ancestrais dos músicos. Junto com outras doações de fãs em suas páginas nas redes sociais, eles arrecadaram mais de US$ 600 mil.
Serj Tankian lança seu livro de memórias “Down With The System” nesta terça-feira (14). A publicação nos países de língua inglesa ficará a cargo da editora Hachette Books.
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.