Por que Kate Bush evitou ao máximo ser vista como sex symbol

Artigos de revistas nos anos 1970 e 80 tentaram promover a carreira da cantora através de seus atributos físicos ao invés do talento ímpar

Ainda hoje é difícil vermos uma artista não ser julgada por sua obra tendo como pano de fundo os atributos físicos. A situação era ainda mais explícita em outras décadas. Kate Bush é um exemplo. Quando despontou com talento ímpar no mundo da música, a cantora precisou passar por vários escrutínios machistas por parte da imprensa.

Em um perfil da revista Kerrang! em 1984, o jornalista Mick Wall entendeu que seria melhor apresentar Kate ao público através de uma descrição de mais de 400 palavras do sonho que teve com ela antes de entrevistá-la. Comportamento completamente de acordo com a época, infelizmente – e no qual muitos de nós caímos.

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“A sexy Kate canta como um anjo” foi a manchete do Evening News quando o single de estreia da cantora então com 19 anos, “Wuthering Heights”, entrou no Top 20 do Reino Unido em fevereiro de 1978. Conforme resgate do Louder, o jornalista John Blake publicou:

“Estou convencido de que ela é a cantora feminina mais importante que surgiu na Grã-Bretanha em pelo menos dez anos. Também é linda e muito sexy – com enormes olhos castanhos e longos cabelos ruivos emaranhados.”

Kate Bush contra a armadilha

Não à toa, Kate BUsh se tornou tão reclusa, raramente concedendo entrevistas. Mas a própria fez questão de responder às insinuações.

“Não vou cair na armadilha de ser um objeto sexual. Acho que muitas mulheres são condicionadas a querer ter essa aparência quando são jovens. Mas é muito perigoso ser totalmente sexual porque imediatamente você é rotulada como outra coisa em vez de artista.”

“Ela tem QUANTOS anos?”

Apesar da reação, nada impediu que no mesmo ano a revista Sounds descrevesse a seus leitores:

“Ela é, de fato, uma mulher linda. Marfim esculpido, sem nenhum corte. Embora não queira despertar essa reação, ela não fica perturbada. Afinal, é um elogio.”

Outras manchetes indicavam direcionamento similar. “Bush é uma gatinha sexual”, declarou um deles. “A florescente srta. Bush” era o título de outro.

Disse um jornalista do Sunday Express, em um artigo intitulado “Ela tem QUANTOS anos?”:

“Quando você esclarece o fato de que ela é linda e jovem, seu incrível canto e composição em seu álbum de estreia, ‘The Kick Inside’, pode envolvê-lo e levá-lo a uma jornada musical.”

A resposta de Kate Bush

Em 1979, Kate pôde contra-argumentar em uma entrevista de áudio resgatada de arquivo pelo site Rock’s Backpages. O crítico musical Ian Ravendale perguntou:

“Quase odeio perguntar isso a você, porque é a pergunta padrão, mas você acha que foi promovida até certo ponto como objeto sexual?”

Sem meias palavras, ela disse:

“Isso é o que todo mundo diz, e não é uma questão de eu ser promovida como objeto sexual; é uma questão de como eu realmente me projeto. E as pessoas diriam isso de qualquer maneira, quer eu estivesse vestida com uma fantasia de freira ou sem nada. E contanto que eu seja apreciada como artista, tudo bem.”

Ravendale continua dizendo:

“Porque o sexo desempenha um papel em algumas de suas músicas. Seu single atual, ‘Wow’, é sobre um orgasmo?”

Kate ficou surpresa. E esclareceu a temática.

“Sobre um orgasmo? Bem, poderia ser, suponho, mas certamente não vale a pena falar sobre isso. É sobre o showbusiness, na verdade.”

Símbolo sexual?

Outro exemplo ocorreu em 1981, após Kate Bush ter liderado a categoria “Símbolo Sexual Feminino” na pesquisa dos leitores do Record Mirror. A cantor, então, foi perguntada por Chas de Whalley sobre seus sentimentos em relação ao assunto.

Na resposta, segundo o jornalista, ela parecia um pouco confusa com tudo isso. E disse:

“Bem, é gratificante, suponho. Mas isso me faz rir, de verdade. O que significa ser um símbolo sexual? Significa que as pessoas me acham atraente, não é? É um gesto de carinho, suponho, e claro que estou muito grata. Mas não realmente penso em mim assim.”

Kate Bush atualmente

Em 2024, Kate Bush completa uma década afastada dos palcos. Suas últimas apresentações até o momento foram 22 datas no Hammersmith Odeon, casa de espetáculos de Londres, Inglaterra. Elas foram realizadas entre 26 de agosto e 1º de outubro de 2014.

Ano passado, ela foi introduzida ao Rock and Roll Hall of Fame. Mantendo a tradicional discrição, não compareceu à cerimônia, que aconteceu em Nova York, Estados Unidos, no dia 3 de novembro.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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